quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Edição nº. 54








PAPO NA CONFRARIA: MOACIR PEREIRA



1-O que te motivou a escrever?

No jornalismo, o prazer de comunicar e multiplicar  aquilo que é de interesse público, denunciando o ilegal e promovendo o positivo,  tendo o reconhecimento pela audiência ou pelos gratificantes depoimentos.  Nos livros, a incomparável satisfação de resgatar fatos e personagens, deixando para as novas gerações temas da história ou da conjuntura que devem permanecer na memória do Estado.


2-Cite três livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida.

 D. Quixote, de Cervantes; D. Casmurro, de Machado de Assis; História de Santa Catarina, de Oswaldo Rodrigues Cabral.


3-Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de: Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior.

a)      Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries)
 A Ilha”, de Virgílio Várzea

b)     Alunos do Ensino Médio
 D. Quixote, de Cervantes

c)      Alunos do Ensino Superior
Guerreiros de Deus”, de James Reston Jr.


4-Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?

 Na atividade jornalística,  em cima dos acontecimentos, testemunhando-os, de preferência.  Redigindo o texto seco, objetivo. Ou analisando fatos de interesse maior da população.  Na elaboração de livros, com dados pesquisados, entrevistas, biblioteca ao redor e dicionário ao lado.

5-Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.

 Inexiste em Santa Catarina uma política pública de incentivo à literatura e aos escritores, o que é profundamente lamentável.  Um Estado que é a sexta economia do Brasil poderia ter uma presença mais produtiva e rica na literatura.  Na área privada, há um destaque que merece registro: o grupo Tractebel, que apoia editores, escritores e eventos artísticos e culturais da Capital e do Estado.  É merecedor do melhor prêmio entre os incentivadores.


6- Fale sobre o papel das Academias de Letras em relação à Língua e à Literatura.

Manifesto  frustração em relação às atividades da Academia. Imaginava a realização de ricos debates sobre a literatura catarinense, palestras sobre literatura nacional e internacional, tendências literárias.  Sonhei muito com apreciações sobre os “best sellers”,  sobre os melhores filmes e as músicas que mais tocam nossa alma. 


(*) Ocupante da Cadeira 03 da Academia Catarinense de Letras.





X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X



PASSAREI PASSARÃO PASSARÁ


uma crença
:
eles crescem
criam asas
deixam vazio
o ninho


por incrível
que pareça
são crianças
esses filhos
passarinhos


crias aladas
criadas no bico
desde petizes
com certeza
são aves
azes
‘voáveis’

garças a deus


(Valéria Tarelho, in Agenda da Tribo, 2013/14)
















Descrição: https://mail.google.com/mail/images/cleardot.gif
Descrição: https://mail.google.com/mail/images/cleardot.gif
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X

AVENCAS E CEDRO (*)

Quem conhece flores e folhagens sabe distinguir uma avenca de outras folhagens. Para quem não sabe posso afirmar que, de todos os tipos de folhagens, a avenca é oque se pode comparar a delicadeza e ternura. É uma planta que prefere locais onde haja bastante sombra e umidade, portanto, é muito recatada...
Anos atrás, usava-se avencas na complementação de ramalhetes de rosas, cravos e violetas de Parma, quando a violeta africana, que conhecemos hoje, em vasinhos e com diversas cores não era, ainda, cultivada por aqui. Os delicados galhos de avencas guarneciam, também, os tradicionais buquês de noivas.
Como quase tudo na vida encontra um contraste, um paradoxo, lembrei-me de uma flor que praticamente se defronta com a avenca o que se refere a delicadeza. Não se trata da vitória régia, enorme planta da Amazônia. Refiro-me à flor do cedro.
O cedro é uma enorme árvore, cuja madeira é muito usada na fabricação de casas e mobiliário, sendo uma das “madeiras de lei”. No entanto, poucas pessoas sabem sobre suas flores. Por se tratar de uma planta hermafrodita, não possui pólen para  sua propagação. As flores, de madeira, são formadas em cachos e caem ao chão quando as cápsulas (botões) se abrem em cinco pétalas e um maciço miolo.
De uma beleza grosseira e inodora a flor do cedro contrasta com a quase diáfana avenca, cada qual com uma beleza peculiar.
Quantas avencas e flores de cedro encontramos na nossa vida, não é mesmo?  Pessoas com delicadeza, sensibilidade e modéstia que, muitas vezes permanecem na sombra, não sobressaindo dos demais, e, no entanto, sendo apreciados e valorizados, apesar de seu quase anonimato.
Em contra partida, aqueles mais fortes, embora não os mais bonitos, fazem sua parte  e conservam-se distantes, como os altos cedros, praticamente no anonimato, nem sempre sutis ou diplomáticos, mas estão sempre ao nosso lado nas horas de aperto.
E você, está na categoria da avenca ou do cedro? É bom dar uma verificada...

(*) Ivonita Di Concílio



X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X

DO ARCO-ÍRIS


Desvairada, a varanda
como os olhos assistentes
de um arco-íris que ora,
ora sem terço, insistente.

No terço de uma hora,
sete tons invasivos,
evasivos, sem demora,
deixam penitente a varanda
isenta do colorido
já outrora.

Damaris Lopes, Poemas à Flor da Pele vol. 7, Somar, p. 46, 2013)

X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X

ARTÊMIO ZANON, DEZ ANOS NA ACL

Há exatamente dez anos o escritor Artêmio Zanon ingressava na Academia Catarinense de Letras. Sua produção em prosa e verso bem como sua presença marcante na vida literária do Estado através de atuação em várias instituições culturais e profissionais, principalmente, na Diretoria da Associação Catarinense de Escritores – ACEs, o credenciaram para que tal acontecesse.

Na minha opinião, Artêmio Zanon (mesmo antes de sua posse) preenche todos os requisitos necessários a um membro da Academia Catarinense de Letras: 1) conhece, defende e vivencia o que diz  o Estatuto da Casa;  2) incorporou  seu objetivo maior,  “... cultivar a Língua Vernácula e defender os valores da cultura nacional e estadual, especialmente no campo literário...”; 3) tem consciência de que para tanto é preciso, antes de qualquer coisa, ser escritor (escrever e publicar literatura: romance, novela, conto, crônica, poemas; produzir pesquisas, ensaios, estudos, críticas sobre artes plásticas, literatura, folclore, cinema, história, cotidiano,  cultura enfim); 4) eleito e empossado, assumiu compromisso com a instituição participando cotidianamente de suas atividades, conhecendo e cumprindo seus direitos e deveres, destaque para “presença às sessões e estar em dia com as contribuições ou outros encargos fixados pela Assembleia”. Por outro lado, como eu, tem clareza que: a) é prudente menos empáfia e mais humildade e companheirismo; b) não basta apenas ostentar o título, a medalha e marcar presença nos eventos mais solenes e “pomposos”, deixando nos ombros de poucos a responsabilidade de resolver sozinhos os inúmeros problemas da Casa; c) é preciso ter consciência da imortalidade acadêmica, não esquecendo, em nenhum momento, a mortalidade do acadêmico.


X-X-X-X-X-X-X-X-X


FOLHA EM BRANCO


Meus versos não dizem nada
e a este grito surdo
só o abismo lhe responde
em bramidos de solidão
que farfalham sem rimas
nem ecos.

(Clau Assi, Poemas à flor de pele, vol. 7, Somar, p. 37, 2013)

 X-X-X-X-X-X-X-X-X-X


CLEBER TEIXEIRA E A MÁQUINA 

Dia 03 de dezembro, terça-feira, às 19 horas, aconteceu na Fundação Cultural Badesc a pré-estreia do documentário “Cleber e a Máquina”, dirigido por Rosana Cacciatore. O filme conta a história do poeta, editor e tipógrafo Cleber Teixeira. Durante um ano, a cineasta entrevistou personalidades com quem Cleber compartilhou a vida e o trabalho como o poeta Augusto de Campos, o músico Vitor Ramil, o artista plástico Jayro Schmidt, o crítico literário Raúl Antelo, entre outros.

É através de uma máquina impressora tipográfica do século XIX, que pertencera à família de Rosana Cacciatore, que a diretora se aproxima do “poeta-tipógrafo-editor-visionário Cleber Teixeira”, como se refere a ele o poeta Augusto de Campos. Cleber aceita o desafio de recuperar a máquina que permaneceu 40 anos em silêncio. Este acontecimento constrói uma narrativa que permite o desvendamento  do mundo do artista/artífice singular.

‘Aprendiz de trovador’, como se autodenominava, Cleber Teixeira nasceu em Jacarepaguá no Rio de Janeiro. Mas foi em Florianópolis que editou e escreveu a maior parte de seus livros. A Noa Noa, sua editora é referência na publicação de traduções cuidadas para o português. Figuram entre elas a tradução dos irmãos Campos para poemas do francês Stéphane Mallarmé, uma iniciativa inédita no país. Cleber também publicou traduções de e.e. cummings, Gertrude Stein, Emily Dickinson por José Paulo Paes, Rosaura Eichenberge e outros grandes tradutores brasileiros.

Cleber não era apenas editor e tipógrafo. “Armadura, Espada, Cavalo e Fé” é sua obra poética de maior fôlego. São fragmentos espalhados por diversos livros, em edições compostas e impressas manualmente, com requinte gráfico, ilustradas e com tiragem reduzida, como a maioria dos títulos publicados pela Noa Noa.

O documentário “Cleber e a máquina” foi contemplado em 2011 com o Prêmio Catarinense de Cinema, que garantiu recursos para que o filme fosse rodado. Quem ainda não assistiu, recomendo que o faça sem demora. Vale a pena.

X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X


CONFRARIA DO POEMA-pn
I

Guerreiros olhos
espreitam as sombras
as matas-mosquetes.

Valentia negra
sobrepuja o inimigo,
socorre a irmandade.

Pés de sola branca
com históricos sulcos
dançam o balé do sonho.



II


Zumbi(ndo) nos ouvidos
o surdo som da chibata,
gazélicas pernas ziguezagueiam
errantes à procura do quilombo.

Soltando grilhões e amarras
socorre, ajuda, esconde,
alivia a dor do irmão.

Força (in)humana sufoca ganância,
fragilidade animal liberta vontades,
rompe preconceitos
entrega-se prazer.


III

Tam tam dos tambores
no centro do quilombo,
faz esquecer por instantes
ferro em brasa, grilhões e tronco.

Tam tam dos tambores
pés, terra, poeira e requebro;
Tornam livres, por instantes,
negros iguais humanos.

Tam tam dos tambores
Zumb(i)em ainda hoje
- trezentos anos depois –
colonizador ouvido branco.

( ZUMBI(ANOS)DOR, Pinheiro Neto, Poemas Reunidos, 2010)






2 comentários:

  1. - Moacir Pereira: excelente entrevista. Realmente nossa ABL deixa a desejar.
    - Valéria Tarelho: talento!
    - Avenca ou cedro? depende da situação.
    - Damaris Lopes e Clau Assi: aplausos sem retores!
    - Confraria do Poema-pn: sempre atento à cultura de Santa Catarina e poesia que nos remete aos quilombos e seus cantos.
    Parabéns, Pinheiro Neto!

    ResponderExcluir
  2. Pinheiro Neto, muito me honra estar no seu espaço. Parabéns pelo trabalho incansável! Obrigada por tudo de bom que nos oferece.

    beijo ternurento

    Clau Assi

    ResponderExcluir