quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Edição nº. 51




PAPO NA CONFRARIA: Sérgio da Costa Ramos


1-O que te motivou a escrever?

Escrever era uma espécie de “herança” de família. Meu pai, Rubens de Arruda Ramos, foi jornalista e diretor de “O Estado”, escrevia crônicas literárias e políticas numa coluna chamada “Guilherme Tell”. Gostava de redação desde o curso primário e comecei a escrever imitando o Nélson Rodrigues de “A Vida Como Ela É”.

2-Cite três livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida.

“Crime e Castigo”, de Dostoeivski, o primeiro romance fluvial que li, sem pular uma página aos 13, 14 anos, Muitas vezes nem percebi sua densidade psicológica , “o bem contra o mal”, o “livre arbítrio”, mas foi uma descoberta.

Outros dois: o Machado de Assis de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”(mais “Don Casmurro” e “Quincas Borba”) Antes, na infância e pré-adolescência, já tinha lido Monteiro Lobato e Hans Staden – “O Sítio do Pica Pau Amarelo” e “Emília no País da Gramática” e “As Aventuras de Hans Staden”, pelo próprio, o primeiro “best-seller” do mundo novo.
      

3-Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de: Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior.


Quinta e oitava séries: Monteiro Lobato (“Fábulas do Marquês de Rabicó”) e Laurentino Gomes, jornalista e historiador, da série “1808”, “1822” e “1889”, - este, a sair. É para aprender História do Brasil.

Ensino Médio: “Encontro Marcado”, genial romance de Fernando Sabino, sobre os conflitos da adolescência e do jovem diante da vida.

Ensino Superior: “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, o Brasil profundo e às vezes até hoje não percebido.


4-Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?

Escrever, já disse o dicionarista inglês, Samuel Johnson, é sentar-se, pensar, ter uma ideia e lhe dar uma forma. Chocar a ideia e, a partir dela, desenvolver um enredo. Escrever é contar uma boa história. Escolher um bom assunto (o fundo) e lhe dar uma boa roupa (a forma). Fundo e forma vão nascendo juntos.

5-Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.

O livro, instrumento básico de toda literatura, ainda é muito sobretaxado no Brasil, autêntico hospício tributário. Se os governos não fossem tão esganados, os livros não teriam sobre eles a incidência de qualquer imposto. Verdade que os livros, em si, estão livres deles, mas os seus insumos, não. Papel, celulose, além dos impostos pagos pelas livrarias.
Se não atrapalhassem, os governos já dariam uma boa ajuda...




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6-Fale sobre o papel das Academias de Letras em relação à Língua e à Literatura.

 As Academias têm hoje diante de si um desafio: trazer o jovem para dentro dos seus auditórios e motivá-los à leitura. Principalmente o jovem universitário. Elas devem atuar como um chamariz para a leitura. Por exemplo, passando filmes clássicos que deram vida à literatura. Recentemente, passou aqui “O Grande Gatsby” (Scott Fitzgerald) e “O Amor nos Tempos do Cólera” (Garcia Márquez). Passar o filme e depois debater as obras nas quais se basearam seria um bom começo.
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(*) Ocupante da Cadeira 19 da Academia Catarinense de Letras.


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TROFÉU OSVALDO DESCHAMPS DE LITERATURA E ARTE


O Troféu Osvaldo Deschamps de Literatura e Arte é uma das atividades culturais da Associação de Escritores dos Municípios da Grande Florianópolis (AESGF). Tem por objetivo principal valorizar todos aqueles que, de certa forma, contribuem com a cultura da nossa região.
Os premiados com o troféu são escritores e artistas indicados por outros escritores e artistas que carinhosamente são chamados de “padrinhos”.
O trabalho da AESGF já completa cinco anos e começou em Governador Celso Ramos, tendo como primeiro presidente o Senhor Miguel João Simão. Em 2012, assumiu a presidência o escritor Célio Gilberto Silva (o Tulipa Negra). E neste ano, esta função foi dada a Senhora Luciane Mari Deschamps, que tem como vice-presidente a Senhora Marli da Cruz. Ambas estão à frente dos trabalhos, junto com os demais membros da diretoria: José Honório Marques, Andreia Anjos Lima, Edna de Almeida Bastos, Janine Lúcia Alves e Osmar Firmino Cardoso Filho.

QUEM FOI OSVALDO DESCHAMPS?
Osvaldo Deschamps nasceu em São Pedro de Alcântara, Santa Catarina, em 28 de setembro de 1936, era o oitavo filho (de quatorze) do casal Nicolau Antônio Deschamps e Maria Hoffmann. Faleceu no dia 22 de dezembro de 2009.
Passou sua infância, adolescência e juventude em São Pedro de Alcântara, numa casa modesta, com mais treze irmãos, num pequeno sítio localizado acima do Salto - lugar assim denominado por estar localizado junto a uma queda d’água do Rio Imaruí.
Com 22 anos de idade, decidiu ser caminhoneiro, viajando por 20 anos na condição de empregado.
Em 1960, casou-se com a jovem professora Nilza Kretzer, indo morar em Rancho de Tábuas, Município de Angelina, próximo à escola onde ela lecionava, de 1955 a 1964, quando se mudou para Santa Filomena, em São Pedro de Alcântara, residindo lá até 1976.
Em 26 de fevereiro de 1976, Osvaldo mudou-se de Santa Filomena para Florianópolis, a fim de dar aos seus filhos a oportunidade de ingressar em escolas melhores e em universidades.
Nesta mesma época, Osvaldo trocou definitivamente o volante do caminhão pela construção civil. Construiu e comercializou 38 casas antes de iniciar sua Empresa RDO Construções Ltda.
Osvaldo Deschamps escreveu três livros e foi patrono da Academia Alcatense de Letras (ACALLE).
Seu primeiro livro foi Estrada da Vida: História de um Ramo da Família Deschamps, com 2000 exemplares.
O segundo: São Pedro de Alcântara: Memórias da Nossa e Nossa terra gente. Também com 2000 exemplares.
Seu terceiro livro, Resgatando Histórias de São Pedro de Alcântara, não chegou a ver editado, pois faleceu antes deste ficar pronto. O livro foi lançado pela família no dia 03 de março de 2010. 
Osvaldo Deschamps foi sempre apaixonado pela a terra de São Pedro de Alcântara e pelas histórias que nela aconteceram. É a este historiador, escritor e exemplo de pessoa que homenageamos e, com seu nome, estender nossa homenagem a todos que dedicam seu tempo para escrever e registrar a vida. Prestigiamos, também, nossos artistas que fazem do seu trabalho o prazer daqueles que veem suas obras.   
O Troféu Osvaldo Deschamps de Literatura e Arte é uma homenagem da AESGF a todos que dedicam seu tempo em escrever e retratar a vida, seja através das palavras em versos ou em prosa, das imagens pinceladas nos quadros, das esculturas moldadas na argila ou das cenas dramatizadas nos palcos.

RELAÇÃO DOS ESCRITORES E ARTISTAS QUE SERÃO HOMENAGEADOS EM 14 DE SETEMBRO DE 2013:

01. CÉLIO GILBERTO SILVA – ESCRITOR poeta. – SÃO JOSÉ.
02. ANTONIETA MERCÊS DA SILVA – ESCRITORA - GOVERNADOR CELSO RAMOS /SC ,
03. JOSÉ CIPRIANO DA SILVA – FLORIANÓPOLIS - ESCRITOR E ARTISTA PLÁSTICO
04. NEUSA LOPES - ESCRITORA E RADIALISTA.- ITAPOÁ
05. NEREU DO VALE PEREIRA – ESCRITOR- FLORIANÓPOLIS
06. WILLIAM WOLLINGER BRENUVIDA - ESCRITOR - GOVERNADOR CELSO RAMOS
07. VALDIR MENDES- ESCRITOR-FLORIANÓPOLIS
08. BILLY REZK - CANTOR - FLORIANÓPOLIS
09. EUNICE BATISTA MARTINS – ARTESÃ. PALHOÇA,
10. CLEYTOM JOSÉ PEREIRA- ESCRITOR- URUSSANGA
11.  INEZ MARIA MARCONDES DA SILVA – ESCRITORA -FLORIANOPOLIS
12.  DJONATHA GEREMIAS- JORNALISTA – CRICIÚMA.
13. MARIA DA GRAÇA FORNARI - ARTISTA PLÁSTICA – FLORIANÓPOLIS
14. ROSANE MACHADO DE ANDRADE, COLUNISTA - CRICIUMA.
15. JULIA SOUSA - FISCAL DA CULTURA. ESCRITORA – SÃO JOSÉ
16. MARIA APARECIDA PAMATO SANTANNA – HISTORIADORA, ESCRITORA - IMBITUBA.
17. TEREZINHA ANDRADE VIECELLI - ESCRITORA - BRUSQUE.
18. ROSANGELA CASSIA LESZKIEWICZ GORAS - SECRETARIA DA FEIRA DO LIVRO - FLORIANOPOLIS.
19. CATARINA MEINCHEIN SILVA - COLABORADORA DA ASSOCIAÇÃO DOS ESCRIOTRES DA GRANDE FLORIANÓPOLIS - SÃO JOSÉ.
20. PINHEIRO NETO. ESCRITOR – FLORIANOPOLIS.
21. VANDO DE OLIVEIRA – MAESTRO E ESCULTOR - SÃO JOAQUIM.
22. RODRIGO NUNES DA SILVA – FOTOGRAFO - SÃO JOAQUIM
23. CASSIANO EDUARDO PINTO –ESCRITOR- LAGES.
24. LUCIANE SILVA - DANÇA CIGANA - FLORIANOPOLIS.
25. ARTÊMIO ZANON – ESCRITOR - SÃO JOSE
26. MARIA TEREZA DA SILVEIRA - POETISA - ESTUDANTE RESPONSÁVEL PELO EIXO LITERÁRIO DENTRO DE UM PROJETO DE EXTENSÃO NO IFSC, O projeto atende como CAI- Circuito de Artes Integradas Florianópolis.
27. JOÃO PAULO DE SOUZA MEDEIROS – CANTOR E RADIALISTA MIRIM- JAGUARUNA SC
28. ADRIANA GARDA DE SOUZA - ESCRITORA - FLORIANOPOLIS.
29. PEDRO ARTUR ALVES PEREIRA – ESCRITOR - SÃO JOSÉ.
30. GREIDE DE CORDES PIRES – ESCRITORA - IÇARA S/C

CONTATOS:
· Presidente: Luciane Mari Deschamps (lucianemdeschamps@hotmail.com)
· Presidente de Honra: João Miguel Simão (academiagcr@gmail.com)
· Vice-presidente: Marli da Cruz (marli17escritora@hotmail.com)
· Secretária: Andreia Anjos de Lima
· Tesoureira: Edna de Almeida Bastos
· Vice-tesoureiro: José Honório Marques (zehmarques@hotmail.com)
· Conselho Fiscal: Janine Lúcia Alves (janinelalves@hotmail.com), Osmar Firmino Cardoso Filho (osmarcardoso.escritor@gmail.com)

Contatos: E-mail para contato: aesgf@hotmail.com
                  Blog: http://aesfsc.blogspot.com.br



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CATARINA CRIATIVA E SEUS PRIVILEGIADOS (*)


O lançamento do programa Catarina Criativa no Sapiens parque começou mal. Aparentemente coberto de boas intenções com oficinas, pitching, novas tecnologias, games, audiovisual, reunindo instituições como: CODESC, Sapiens Parque, Cinemateca Catarinense, Instituto Sapeientia, Santacine, Acate e Ancine, todos amealhados pela Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte do Governo do Estado de Santa Catarina. Tudo politicamente correto. Ou melhor, quase tudo. Vou retroagir no tempo para fazer me entender melhor. Em 1983 o cineasta catarinense Marcos Farias, tentou iniciar um polo de cinema em Santa Catarina produzindo um filme com quatro histórias de escritores catarinenses*. Depois de inúmeras tratativas com o Governo de Santa Catarina o projeto foi rejeitado, pois o governo catarinense preferiu investir numa produção do Rio de Janeiro. Garota Dourada foi filmado em Garopaba com a promessa de divulgar Santa Catarina para o Brasil. Há poucos anos atrás, outro Governador atrasou os editais de fomento ao cinema para investir significativamente em duas produções que iriam divulgar Santa Catarina para o mundo: “Segurança Nacional” e “The Heartbreaker”, ambos de Roberto Carminati. Paralelamente, desde 2001, militantes realizadores do Cinema em Santa Catarina, juntamente com o Governo do Estado, têm promovido o maior e melhor sistema de fomento ao audiovisual no Estado. Ainda é pouco, mas é a melhor forma encontrada de aquecer a economia do audiovisual, sem deixar de respeitar e considerar o trabalho dessas gerações de artistas e profissionais. Catarina Criativa comete o absurdo de escolher, sem nenhum critério, o filme “Pequeno Segredo” de David Schurmann, como carro chefe do Programa. A família também está realizando o documentário de longa-metragem sobre o submarino alemão afundado em nossos mares na Segunda Grande Guerra. O próprio release da Secretaria ressalta: “O longa-metragem “Pequeno Segredo”, de David Schurmann, vai movimentar o cenário do audiovisual catarinense e mostrar as belezas naturais de Florianópolis e região para o mundo”. Não seria melhor fazer uma publicidade? É claro que os produtores e co-produtores estão defendendo os seus projetos, mas o governo, representado por Beto Martins, defender acintosamente a escolha sem critérios dessa produção, dizendo que teve o trabalho de ler o livro homônimo, no qual o filme se baseia, é extremamente preocupante. É certo que ele desconhece nossas produções. Pois com sua decisão, passou por cima de todos os filmes e de todos os realizadores que lutaram para implantar um sistema de Editas, exemplo para o país, que fomenta a produção catarinense, desde 2001, de forma democrática e transparente.  Como o próprio Beto Martins, humildemente admitiu no início do seu discurso, ele é da área de gestão pública e em matéria de cultura está aprendendo. Entrou na escola errada meu caro. Mas, ética vem de berço. Por isso, creio que alguns entraram de gaiato nessa tramoia. Conheço o Manoel Rangel dos tempos da ABD e por sua atuação a frente da ANCINE, tenho certeza que ele não tinha conhecimento desses trâmites obscuros. Mas há tempo de remediar, acho que existem nesses processos pessoas e entidades capazes de ver a roubada que estão entrando e consertar o programa desde já.


(*) ZECA NUNES PIRES, é cinéfilo e cineasta. Com graduação em Jornalismo (UFSC) e em Administração (ESAG/UDESC), Mestrado em História (UFSC), Zeca tem vários curtas e documentários premiados e dois longas-metragens: Procuradas (2004) , co-dirigido por José Frazão e A Antropóloga (2010). É um dos criadores da Cinema Catarinense, FUNCINE, Curso de Cinema da UNISUL.



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ESPERA (*)

Espera.
Esfera.
Janela de vidro
e o meu rosto
é posto
tímido.
No quadrado
há falta,
saudade
dela.
Um bocado
espera
cela.
Caem lágrimas
como chuva
que escorre!.

(Paulo Henrique Frias, Poemas à flor da pele, vol. 5, Ed. Somar, 2012)


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LÉLIA NA ACADEMIA DE LETRAS


No dia 26 último a Academia Catarinense de Letras elegeu mais uma mulher para seu Quadro. Trata-se da escritora, pesquisadora e historiadora Lélia Pereira da Silva Nunes que ocupará a cadeira 26 vaga em 2012 com a morte da poeta Sylvia Amélia Carneiro da Cunha.
Em entrevista concedida ao jornalista Regis Mallmann, do Notícias do Dia, Lélia  compromete-se em, a partir de agora, “aproveitar ao máximo o convívio com escritores os quais considera mestres da literatura da atualidade e mostrar minha capacidade de trabalho e disposição”.
A Academia Catarinense de Letras foi a primeira do gênero no país a abrir as portas para as escritoras, em 1927, quando ingressaras Delminda Silveira e a minha querida e saudosa amiga Maura de Senna Pereira.



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CONFRARIA DO POEMA-pn

O som do tempo
fere meus olhos
cega meus ouvidos
ensurdece minha voz.

No compasso das horas
caminham descompassados
os braços, os olhos, as mãos.
Buscas descontroladas
encontram infindáveis
verdades estanques.

 (Ensaio A, Pinheiro Neto, Chrischelle/Poemas Reunidos, 2010)






quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Edição nº. 50






PAPO NA CONFRARIA: Leatrice Moellmann



1-O que te motivou a escrever?

 Meu instinto.

2-Cite três livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida.

 Incidente em Antares de Érico Veríssimo
 Dicionário de Português Schi faiz favoire de Mário Prata
 Papillon de Henri Charrière

3-Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de: Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior.

Ensino Fundamental: As Reinações de Narizinho de Monteiro Lobato
Ensino Médio: Dom Casmurro de Machado de Assis
Ensino Superior: o livro deverá estar de acordo com a área específica cursada.

4-Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?

A minha prática se divide em “inspiração” e “transpiração”.

5-Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.

O apoio está decadente, uma vez que  as ferramentas da tecnologia (computadores e afins) atualmente são mais valorizadas do que os livros.

6-Fale sobre o papel das Academias de Letras em relação à Língua e à Literatura.

As Academias de Letras são entidades estimuladoras do uso correto da Língua e da Literatura, entretanto deixam a desejar.


(*) Ocupante da Cadeira 07 da Academia Catarinense de Letras.

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MATERNIDADE

Arrepender-te-ás talvez
como de uma suprema profanação
de teres um dia me vestido
de bagos e de gomos
e para eles depois te atirado
como um fauno sem lei.
Oh, não te arrependas não
que me deste glória e honra
pois eu só via o milagre da árvore estéril
carregada de frutos
e o sumo das uvas escorrendo
dos seios que nunca amamentaram.

(Maura de Senna Pereira, Sete poemas de amor, Edições Sanfona, Floripa, 1985)

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 A EDITORA E AS FORTALEZAS DA UNIVERSIDADE (*)
     
 A magnífica reitora da UFSC pode indicar quem ela quiser para a diretoria da editora daquela Universidade, afinal ela foi eleita pela maioria da comunidade universitária. Só não acredito que o Patrimônio da União permita que ela venda ou alugue alguma das fortalezas históricas da Ilha de Santa Catarina. Planejadas como baluarte do regime colonial português, elas serviram de cárcere comum e de Estado, local de fuzilamento de heroicos catarinenses e singelos postos de meteorologia. Utilizá-las como cenário de casamento de dondocas deslumbradas ou shows de duplas sertanejas é outra história. Difícil de acreditar!
Quanto ao novo diretor da editora, vale lembrar que é aquele que em meados de 2005 negava a identidade econômica e cultural barriga-verde em artigos na mídia impressa, considerando-a orgulho eurocêntrico de um Estado que está na periferia do Brasil. Ignorava solenemente as raízes do povo catarinense, sua economia e sua cultura.
E promovia simpósios na UFSC para discutir a “subserviência econômica e cultural” e o “projeto europeizante” ao qual Florianópolis estaria submetida. E, como resultado dos eventos, considerava Floripa produto de consumo criado por publicitários, inserida num cenário frio que se transformou em campo de refugiados onde é cada vez mais difícil driblar a dor do exílio.
Além de ofender a inteligência de catarinenses, migrantes e turistas, revelava pretensiosamente que sua biblioteca particular era repleta de “livros parisienses”, querendo demonstrar uma erudição não bem confirmada em seus textos. Florianópolis não precisa de professores de linguística para julgá-la de forma artificiosa, míope e doentia, contestávamos no mesmo espaço. O novo diretor da EdUFSC foi agora entrevistado no ND, justamente na edição que estampa na capa uma bela manchete: Floripa é a melhor capital para se viver.
Nascido em São Paulo, o doutor em linguística é da mesma equipe que extinguiu a disciplina de literatura catarinense do currículo da Universidade. Indagado sobre a fatia do bolo dedicada à escritura catarinense, tergiversou: autores do Estado não perderão espaço e serão mantidas no catálogo. Só que a estratégia não segue a do Alcides, referindo-se a Alcides Buss, ex-diretor.
Desalojá-la do prédio em que se encontra é sua primeira missão. Só se espera que não venda, nem feche a Editora da UFSC. Com essa linha de pensamento e as ações expostas na entrevista, de catarinense ela não terá nada. Mas cuidado! Catarina, a Santa, costuma castigar aqueles que usam seu santo nome em vão.

(*) Artigo publicado pelo escritor e historiador João Carlos Mosimann no jornal Notícias do Dia em 01de agosto de 2013).

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A REVOLTA DOS DEUSES 

Transbordo ópera na espreita
explosão nuclear, começo e fim
medos, tsunami, violação do instante

Abro as cortinas e entulhos se sobrepõem
transformações sísmicas
medos, lágrimas e espanto

Já é tarde demais
os Deuses já despem os véus


(Dora Dimolitsas, Poemas à flor da pele, vol. 5, Somar, Porto Alegre, 2011)

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LI E RECOMENDO (4)

A Ilha dos ventos volúveis, escrito por Raul Caldas Filho e editado pela Insular em 2011 é o primeiro romance do autor que em linguagem acessível e contagiante nos transporta para uma época aparentemente mais amena, mas nem por isso menos turbulenta, no contexto da Ilha de Santa Catarina nos anos de 1940.

Renato Lima, carioca e Sérgio Gomes, nascido em São Francisco do Sul; dois jovens que chegam a Florianópolis com o objetivo de encontrar novos horizontes em suas respectivas vidas. “A partir daí, o leitor empreende uma verdadeira viagem rememorativa a então menor capital brasileira, erguida sobre uma bela ilha, com a sua paisagem deslumbrante, sua majestosa ponte, seus ventos instáveis, seus aromas e sonoridades, suas ruas estreitas, igrejas, praças e jardins. E através das ações, andanças e relacionamentos dos dois personagens, o leitor passa a conhecer a história e os costumes de uma cidade “onde as paredes têm ouvidos” e “um olho invisível” a tudo que parece acompanhar. À medida que eles vão se identificando com os habitantes e integrando-se à fechada sociedade provinciana, surgem figuras marcantes e peculiares, vivendo num tempo em que o mar e o porto exerciam função preponderante na vida local.”

“Disputas políticas, paixões, traições amorosas, rivalidades, mexericos, preconceitos, nomes reais que se misturam aos personagens e conflitos de gerações literárias, dão o necessário tempero à trama, que se desenvolve em diversos ambientes sociais, tendo como décor, além da luxuriante natureza, bares, restaurantes, clubes e lupanares.”

Raul Caldas Filho, expressivo contista, cronista e jornalista que nos brinda com esta romance, nasceu na histórica São Francisco do Sul, santa Catarina, em 1940, mas cresceu e fez seus estudos na capital do estado. É formado em Direito. Como jornalista profissional trabalhou ou colaborou com os principais jornais catarinenses a partir de 19063. Foi também repórter da revista Manchete durante dois anos (1967/68) no Rio de Janeiro e correspondente da editora Bloch em Santa Catarina. Já publicou dez livros entre ficção, crônicas, reportagens e textos variados. Participou ainda de dezenove coletâneas.
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REGISTRO

LITERATURA IÇARENSE
 A Academia Içarense de Letras e Artes  promoveu a I Mostra da Literatura Içarense, no mes de julho passado, no Supermercado Giassi , da cidade de Içara. O evento teve por objetivo levar aquela academia às ruas da cidade para dialogar sobre a arte de escrever e divulgar a produção dos escritores içarenses a toda população.
A Aila foi criada por iniciativa dos escritores içarenses em 2008. Hoje conta com 33 acadêmicos, publicando em média 05 novas obras por ano. Para 2013, a Aila está preparando o lançamento de sua primeira Antologia. A Academia Içarense de Letras e Artes  pode ser encontrada no face ou site www.aila.com.br.
NOVOS ACADÊMICOS
A Academia São José de Letras deu posse aos escritores Marcos Antonio Meira, Kátia Rebello e Roberto José Pugliese, como seus mais novos membros. A sessão solene foi realizada no auditório do Centro de Atenção à Terceira Idade, localizado na Avenida Beira Mara de São José e foi presidida pelo escritor Artêmio Zanon, presidente daquela entidade.
BOLETIM DO IHGSC
Recebi o Boletim do Instituto istórico




Histórico e Geográfico de Santa Catarina número 174. Destaque para o Seminário “Portugal e Brasil – o papel dos agentes institucionais acadêmicos e culturais na perenidade das relações”. O evento contou com a chancela do Comissariado Geral Português com sede em Lisboa.

OFICINA

Estão abertas até 13 de agosto as inscrições para a oficina “Fotografia Gambiarra”, com o artista plástico Diego de Los Campos. Com elementos de custo baixo e fáceis de achar no mercado, ou reciclados, a oficina tem como proposta a fabricação de acessórios para máquinas fotográficas digitais, profissionais, compactas ou de celular. Os participantes fabricarão acessórios que serão usados para a realização de um trabalho em animação, vídeo ou série fotográfica. Cada aluno deverá levar consigo uma câmera, tripé, notebook, cartolina preta, papelão, cola quente, estilete, tesoura, fita crepe, celofanes, cristais, lupas, binóculos, e para recuperar lentes de câmeras, scanner, dvd e cd quebrados, um olho mágico para porta. As aulas ocorrem na Fundação Cultural Badesc de 19 de agosto a 9 de setembro, às segundas-feiras, das 8h30 às 11h30. São 15 vagas com preferência para professores da rede municipal de ensino. Inscrição gratuita pelo email arte.e.publico@gmail.com, informando nome, profissão e contato.

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CONFRARIA DO POEMA-pn

Ser pai
É conduzir pela mão
e também com o coração.

É acompanhar cada passo
com amor e com razão.

É amanhecer cada dia
com esperança e retidão.

(Pinheiro Neto/ago/2013)