sábado, 26 de fevereiro de 2011

Confraria da Leitura-pn Edição 19

Pinheiro Neto (poetapinheironeto@gmail.com)


MEMÓRIA DOCENTE – I

Quero registrar hoje um livro que recebi de presente das mãos de uma das organizadoras e que me deixou imensamente feliz. Trata-se de Memória docente: histórias de professores catarinenses (1890-1950), organizado por Vera Lúcia Gaspar da Silva e Dilce Schüeroff. Tal felicidade justifica-se por dois motivos: primeiro por ter nas mãos o primeiro livro planejado, produzido e, acima de tudo urdido pela minha querida amiga e eminente pesquisadora Vera Lúcia, segundo pelo fato de que tal livro apresenta depoimentos de vários professores (que também freqüentaram o universo cultural e literário catarinense) com quem tive a felicidade de conviver, alguns por muitos, outros por poucos momentos. Ler os depoimentos de Abel Beatriz Pereira, Albi Pereira, Januário Raimundo Serpa, Jamille Trindade Sadelli Pacito, Laurita Franzone Pereira, Lydio Martinho Callado, Nereu do Valle Pereira, Vilma de Souza Fernandes, dentre outros, me fez voltar no tempo, recordar meus estudos primários no antigo Grupo Escolar Silveira de Souza, me ver sentado nas carteiras de dois lugares, nas aulas das professoras Jamille (no primeiro ano) e Laurita (no segundo ou terceiro, não lembro bem); ainda guardo os “boletins” com carinho. Me fez lembrar das participações em atividades culturais e literárias com Abel B. Pereira (sua revista literária A Figueira), Lydio Martinho Callado na Academia Catarinense de Letras (meu colega “imortal”), Nereu do Valle Pereira, meu professor na universidade e depois meu colega no magistério e na literatura, Januário Serpa, colega de magistério e amigo de papo filosófico-literário com quem tive a oportunidade de degustar excelentes “cachacinhas” no bistrô Ponto do Poeta.
Não fosse pelo valor histórico e cultural desse livro, para mim, o valor sentimental já seria o suficiente para comentá-lo, recomendá-lo, divulgá-lo sem prurido algum. Irei indicá-lo a todos quantos, ainda vivos, possam recordar-se de ex-colegas e ex-professores, no estado, no Brasil e onde for possível.
O livro foi apresentado por Neide Almeida Fiori e foi dedicado a Maria da Graça Vandresen, ambas professoras e pesquisadoras catarinenses renomadas.
(Em breve, devo tecer mais alguns comentários sobre esse livro.)



PARA LEMBRAR (hífen 2)

a) O hífen é abolido quando se perdeu a noção de que a palavra é composta, e mantido em todos os demais casos. Antes: pára-quedas, manda-chuva, pára-brisa. Agora: paraquedas, mandachuva, parabrisa.
b) Usa-se hífen com os prefixos hiper – inter – super apenas quando combinados com elementos iniciados por R. Exemplos: hiper-requintado, inter-relacionado, inter-racial, super-revista.
c) Palavras com o prefixo sub recebem hífen apenas quando combinados com elementos iniciados por B e R. Exemplos: sub-regra, sub-reptício, sub-bibliotecário.
ATENÇÃO: Nem todos os pontos do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa são claros. Por isso, algumas dúvidas sobre o emprego das normas somente devem ser esclarecidas pela publicação do novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras – ABL.

AUGURANDO UM FELIZ CARNAVAL
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Tomou coragem. Uma coragem meio acovardada, mas a única no momento. Respirou fundo e soltou: “olha seu Belmiro, sei que o senhor tem seus motivos para não me dispensar amanhã. Mas eu não venho trabalhar não. E vou lhe dizer por que. Amanhã, o Ânsia de Vômito, meu bloco carnavalesco, vai desfilar pelas ruas da cidade como faz todos os anos. Se o senhor não sabe, há mais de dez anos isso acontece. É uma tradição do carnaval. Não posso faltar. Sou um dos fundadores. Esta é minha palavra final. Não adianta o senhor gritar, ameaçar ou fazer qualquer coisa; amanhã é dia sagrado. O senhor pode cortar meu ponto e descontar o meu dia de trabalho. É seu direito. Pode fazer o que quiser. Só que não virei trabalhar. E é só!” Lembra que o chefe ficou boquiaberto, que tentou esboçar alguma reação, mas ele nem esperou para ver qual seria. Não interessava mais nada. Nem lhe ocorreu que Belmiro era chefe há apenas seis meses. Deu as costas e saiu.
.........
(Pequeno trecho do conto “Tetonas pretas”, pgs. 58 e 59 do livro “Histórias de (a)mar e outras” – 2009)

QUINTANEANDO

As muitas metáforas (Aninha)
Nas aragens de um por do sol. (Rosamel)
Entre músicas cai a tarde no Guaíba (Gladis)
Com o sol se despedindo no horizonte, (Marcinha)
Erguendo um brinde ao nosso sorriso. (Telma)

Estou aqui, queria estar acolá.
Não sei se estou por mim
Ou se estou onde está o mar. (Baby)

A noite vem chegando terna e exuberante. (Kinda)
Parafraseando aquela música,
Porto Alegre é demais. (Marco Gomes)

Balbúrdia, música e estrelas
Giram em torno da poesia. (Soninha)

E, no tear do tempo,
Teço com meu verso paixão. (Pinheiro Neto)

(Este poema – produção coletiva a 20 mãos – foi construído por ocasião do lançamento da antologia “Poemas a flor da pele” na Feira do Livro de Porto Alegre, na tarde de quatro de novembro na Casa Mário Quintana.)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Confraria da Leitura-pn Edição 18

Pinheiro Neto (poetapinheironeto@gmail.com)


O POEMA E EU



Dar um depoimento sobre minha prática cotidiana enquanto “poeta” não é uma coisa muito simples para mim. Acredito que não deva ser também para muitos escritores. Mas vamos lá. Vou tentar.
Começo com alguns questionamentos: Será que sou um poeta na verdadeira acepção da palavra? Será que posso considerar-me um? O que é, afinal, ser poeta?
Há quarenta e cinco anos, um pouco mais, um pouco menos, venho registrando minhas impressões, meus sentimentos, minhas (re)visões do mundo através de trovas, poemas visuais, poemas livres, etc.
Se poesia, originariamente do grego poíesis significa fazer, indicando, por conseguinte que “poeta é aquele que faz versos”, prefiro me ver como um “fazedor de versos” que utiliza a metáfora, as imagens, as comparações. Sou, portanto, segundo Manuel da Fonseca (Poemas completos, p.26), um dentre os muitos “que têm olhos de água” justamente “para reflectirem todas as cores do mundo e as formas e as proporções exactas, mesmo das coisas que os sábios desconhecem”.
Desde que comecei essa caminhada, muito antes de Iriamar (1978) não tenho me preocupado em construir poemas utilizando uma “linguagem literariamente correta ou bonita” mas em transportar para o papel o que pode estar recôndito no íntimo do ser humano e do (m)eu corpo humano. Assim, não tenho tratado o poema com a preocupação de elaborar nas suas entrelinhas um conjunto de normas poético-literárias, mas em trabalhar o poema perquirindo sua essência, isto é, enquanto veículo que apresenta a poesia como “paragem das palavras sobre algo” (Teresa Guedes em Ensinar a poesia, p. 34). Como algo necessário à vida e ao cotidiano das pessoas em geral e dos estudantes – principalmente aqueles entre 7 e 14 anos – em particular.
Na poesia a linguagem é poder que se exerce sobre o imaginário. Nas nossas escolas tolera-se livres incursões imaginárias apenas no período da pré-escola ao se trabalhar a educação sensorial. Após essa fase, a tendência é reprimir qualquer manifestação que esteja fora da linguagem articulada.
Mas, o que queremos? Se nossos cursos de formação de profissionais para o ensino de Língua e Literatura não “perdem tempo” com o ensino da poesia, como querer que os alunos que se formarão professores aprendam a gostar e a trabalhar a Língua através desse gênero literário?
É preciso iniciar um processo sistematizado de desmistificação da poesia, quer em nível de professores, quer em nível de alunos.
De uma maneira geral, deveremos pensar em um ensino da poesia nas escolas que traga como alvo: o desenvolvimento do poder criador da criança; o desenvolvimento da imaginação e da sensibilidade; a iniciação da criança no contexto da arte em geral, além da formação do sentido estético dessa criança.
Bem, divagações à parte. Cabe-me falar um pouco sobre como se dá concretamente o processo criativo no meu cotidiano.

Não tenho nenhuma questão mais sofisticada em minha relação com a produção de meus textos, sejam eles poesia ou prosa. Existe primeiramente uma motivação. Preciso ser motivado. Tal motivação pode ser externa ou interna. A externa pode vir através de observação da natureza, de fatos sociais, de conversas entre pessoas, de teatro, cinema, vídeo, tv, etc. Já a interna aflora a partir do estado de espírito em que me encontro em determinados momentos.
Para Kahlil Gibran (Cartas de amor do profeta p. 97) “os poetas têm que escutar o ritmo do mar. Quando ouvimos esse ritmo, algo mais surge além dos sons, pois a cada nova onda que quebra na areia com toda a sua força e densas espumas, uma pequena marola volta para o oceano produzindo um barulho secundário. Aí, uma outra onda encontra-se com essa marola, vem uma nova onda e o fluxo e o refluxo continuarão para sempre. E não importa o momento em que sentamos à beira da praia pela primeira vez.Ele afirma que “esta é a música que precisamos aprender – as coisas sempre vão e vem.”
Como um “fazedor de versos”, agradeço todos os dias ao Pai Eterno e aos meus pais por ter nascido nesta Ilha e aprendido, ainda muito cedo, a ouvir o ritmo do mar.
Quanto a local, hora, momentos melhores para escrever, não há preferências. Escrevo a qualquer hora e em qualquer lugar. Basta haver uma motivação.
È importante ressaltar que esse “escrever a qualquer hora e em qualquer lugar, desde que motivado”, não significa que a obra sai pronta e acabada. Essa motivação me impulsiona a efetuar os primeiros registros, os primeiros apontamentos para posterior trabalho mais acurado.
Geralmente guardo esses registros por um bom tempo. Não sou um escritor apressado. Em outro casos não, a coisa em si toma outras feições. A motivação é tão intensa que a vontade de aprofundar e de ver o texto pronto me faz trabalhar incessantemente. Me faz querer burilá-lo, mexer em sua estrutura, concluí-lo.
É por isso que experimento sempre. Que procuro buscar novas roupagens poéticas para meus poemas. “Todas as coisas são belas, e se tornam ainda mais belas quando não temos medo de conhecê-las e experimentá-las. A experiência é a Vida com asas.” (Kahlil Gibran, p. 64)
Hoje não existe um padrão geral definido que caracterize as artes e as letras, como no Romantismo, Realismo ou outros momentos literários. Não há dogmas, regras ou normas a serem seguidas ou respeitadas com rigidez. O verso livre está posto porém, se eu quiser, posso publicar um livro de sonetos. O que existe hoje é justamente a busca do novo, do original. Tudo já foi dito, tudo já foi escrito. É preciso dizer ou escrever de uma maneira nova, original; de uma maneira compatível com a realidade deste mundo e de um homem globalizado e interdisciplinar.









PONTO DO POETA

Acéfalo sigo
Pela minha vida
(per)correndo poemas.
Não são meus
Os versos, as rimas,
As letras, as palavras.
Não é meu o poema.

(Ensaio C, pg. 69, do livro Chrischelle, 1979)