PAPO NA CONFRARIA: PÉRICLES PRADE
1
- O que te motivou a escrever?
Escrevi
o primeiro poema aos 9 anos, no dia do aniversário de minha querida mãe,
motivado pelo amor a ela dedicado.
Foi algo natural, já que não tinha formação literária à época. A partir daquele
evento, escrevi outros, esporadicamente, consolidando a vocação poética apenas
aos 16, quando iniciei a redação do livro Este
Interior de Serpentes Alegres, publicado e revisto em 1963. Cristalizou-se
a ficção, nascida aos 15 anos, mais tarde, entre 1965 e 1970, quando veio a lume
Os Milagres do Cão Jerônimo. A grande
motivadora foi, sempre, a leitura constante das obras universais de repercussão
canônica.
2-
Cite os TRÊS livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida?
A
Bíblia (O Apocalipse de São João), Don Quijote de La Mancha (Miguel de Cervantes Saavedra) e O Livro das Mil e uma Noites (anônimos, ramo Sírio).
3-
Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de:
a) Alunos do Ensino
Fundamental (5ª a 8ª séries):
Alice no País das
Maravilhas (Lewis Carrol)
b) Alunos do Ensino
Médio:
Robinson Crusué (Daniel Defoe)
c) Alunos do Ensino
Superior:
O Processo (Franz Kafka)
4-
Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?
Primeiro,
construo os poemas, mentalmente, para em seguida repassá-los ao papel,
trabalhando-os até atingir o nível (forma/fundo) considerado ideal. Quanto à
ficção, o processo é assemelhado, no plano da construção, mas quando escrevo as
narrativas à mão, a exemplo daqueles, interfiro às vezes de tal modo que nada têm
a ver com o prévio esboço mental.
5-
Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.
O
apoio dispensado é mínimo. No setor privado, não mais existem mecenas como
havia na Renascença. No setor público, prevalece o interesse político. A área
da Cultura é sempre posta à margem. Santa Catarina é um exemplo marcante do
abandono.
6-
Fale sobre o papel das Academias de Letras em relação à Língua e à Literatura?
As
Academias (ao lado das Universidades) constituem os poucos redutos onde a Língua
e a Literatura ainda são estudadas. Contudo, em geral prevalece um certo
narcisismo intelectual, preocupando-se os membros mais com a divulgação de suas
obras do que a finalidade precípua das instituições. Malgrado essa realidade, seu papel contínua
indispensável ao aprimoramento/desenvolvimento da Cultura, devendo, no entanto,
cada qual descer da Torre de Marfim para abrir-se mais às comunidades carentes
de sua efetiva influência.
(Membro da cadeira nº. 28 da Academia Catarinense de Letras)
(Membro da cadeira nº. 28 da Academia Catarinense de Letras)
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GABRIEL GARCIA MARQUES (1927 – 2014) – HOMENAGEM
GABRIEL GARCIA MARQUES (1927 – 2014) – HOMENAGEM
Memória de minhas putas
tristes, de Gabriel Garcia Márquez (Prêmio
nobel de literatura de 1982), editado pela Record em 2008, com tradução de Eric
Nepomuceno é uma inesperada e surpreendente história de amor entre um ancião e
uma ninfeta e se insere numa tradição da qual fazem parte Vladimir Nabokov de Lolita, o Thomas Mann de Morte em Veneza e Yasunari Kauabata de A casa das belas adormecidas.
Um
leitor mais atento vai encontrar nessa obra as principais referências e
motivações desse hino de louvor à vida e, por extensão, ao amor, já que um não
existe sem o outro no imaginário de Márquez. Apesar de parecer estranho, uma
dessas chaves está no conto de fadas A
bela adormecida, que, não por acaso, é citado em um momento crucial dessa
narrativa ambientada em uma cidade colombiana imaginária, numa época que de tão
remota parece imemorial.
A
semelhança com a famosa fábula do escritor francês Charles Perrault fica mais
explícita na adolescente, que aqui surge dormindo, como se estivesse à espera
do seu príncipe encantado. Mas ela também está presente no velho jornalista,
narrador dessas memórias, que vai viver cerca de cem anos de solidão embotado e embrutecido, escrevendo crônicas e
resenhas maçantes para um jornal provinciano, dando aulas de gramática para
alunos tão sem horizontes quanto ele, e, acima de tudo, perambulando de bordel
em bordel, dormindo com mulheres descartáveis.
Só
quando acorda ao lado da ainda pura ninfeta Delgadinha é que este personagem
vai ganhar a humanidade que lhe faltou enquanto fugia do amor como se tivesse
atrás de si um dos generais que se revezaram no poder da mítica Colômbia de
Gabriel Garcia Márquez. O medo do amor é tão superlativo que o anti-herói
dessas memórias vai preferir conviver com a mais terrível ameaça para o macho
latino: o fantasma da impotência. E enquanto tivesse forças, resistiria ao
poder do amor.
Parte
desse medo se deve aos ridículos a que o amor nos expõe, aqui elevado à última
potência em cenas como a que o ancião anda numa bicicleta cantando “com ares do
grande Caruso”, ou aquela em que destrói um quarto de bordel. E por mais que
lidemos com esse sentimento como se fosse um paletó dois números acima do
nosso, apenas ele e tão somente ele, o amor, nos faz humanos, como desde tempos
imemoriais a arte vem tentando provar. Seja nos boleros mais sentimentais, que
ressoam nas paixões evocadas pelos grandes mestres da ficção, ou em
obras-primas, como esta. Vale a pena ler!
(Este texto foi
publicado na última edição 58 deste Blog, na Série “Li e Recomendo”)
DA SÉRIE “POETAS
MULHERES” - 1
RELVA
Cai a cabeça
No peito
Sem jeito.
Busco esperança
No fundo
Do mundo.
Onde te achar,
Céu perdido
Rio corrido?
Onde te ouvir,
Brisa fina
Eu menina,
A caminhar
Sobre a relva do tempo?
(Mila
Ramos, Sete rumos, Edições Sanfona, Florianópolis, 1985)
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HIPER-REALISMO
para o homem
de morte
a mulher
de mente
para a mulher
de veneta
o homem
de vagar
em marte vênus
mesmo endereço
cama closet sofá
homens versus
mulheres
:
so close
so far
(Valéria
Tarelho, livro da tribo, São Paulo, 2012, p.15)
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LEMBRANÇAS
Que presença é essa
que permanece intacta
feito parede
solicitante
precipitando imagens
vultos desfragmentados e ocos
colada ao corpo
arruaceira
galopante
espreita meu cansaço
que permanece intacta
feito parede
solicitante
precipitando imagens
vultos desfragmentados e ocos
colada ao corpo
arruaceira
galopante
espreita meu cansaço
(Cristina Martins Branco
, Facebook, 21/04/2014, Porto Alegre)
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HÁ UMA LUA LÁ FORA...
Atrevem-se
os amantes
a galopar impunes
pelos precipícios da paixão.
Sentidos iluminados,
simbióticos e extasiados
viajantes em aflição.
Benditos, à luz dos aflitos,
sufocam apelos e gritos
em penitente confissão.
a galopar impunes
pelos precipícios da paixão.
Sentidos iluminados,
simbióticos e extasiados
viajantes em aflição.
Benditos, à luz dos aflitos,
sufocam apelos e gritos
em penitente confissão.
(Rosangela S. Goldoni,
São Paulo, 18 03 2014)
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ZOOM
[sg]
por baixo
de
esparsos fios brancos
pequenas rugas amargas
mágoas disfarçadas
dores mudas
discreta flacidez
delicadas estrias
intensas indignações
palpita meu coração de 1983
esparsos fios brancos
pequenas rugas amargas
mágoas disfarçadas
dores mudas
discreta flacidez
delicadas estrias
intensas indignações
palpita meu coração de 1983
(Adelaide
do Julinho, Facebook, 23, 04, 2014 Belo Horizonte)
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" ... Mato meu modo de ser
Quando tento em palavras
Transformar o que sinto...
É tudo tão sem dimensão,
Tão sem razão de ser
Que sinto o quanto não sou...
E quando em mim tento
Reter o meu modo de ser,
Transbordo o que não me cabe
E assim é o 'quando' e 'onde' Vivo... "
(Dú♥Karmona® Facebook, abril,2014)
Quando tento em palavras
Transformar o que sinto...
É tudo tão sem dimensão,
Tão sem razão de ser
Que sinto o quanto não sou...
E quando em mim tento
Reter o meu modo de ser,
Transbordo o que não me cabe
E assim é o 'quando' e 'onde' Vivo... "
(Dú♥Karmona® Facebook, abril,2014)
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FAZES-ME FALTA (Inês Pedrosa)
Sucesso de
público e crítica em Portugal e no Brasil, Fazes-me falta é um marco na obra de
Inês Pedrosa, uma das mais importantes escritoras portuguesas da atualidade.
Com uma linguagem sutil, envolvente, Inês compõe uma narrativa com duas vozes
distintas – um homem e uma mulher – que se entrecruzam em breves monólogos e,
gradualmente, nos apresentam sua intensa relação, num estado indefinível entre
paixão e amizade.
Mas esses são
personagens que dialogam num contato partido insólito. Pois a mulher, cuja voz
inicia esse romance surpreendente, morreu ainda jovem. É ela, no entanto, quem
ampara seu companheiro da perda e da solidão. Entre as lembranças de encontros
e desencontros, caberá a ambos dizer o que nunca puderam pronunciar em vida, e
curar antigas cicatrizes do passado.
Inês Pedrosa
nasceu em Coimbra, Portugal. Trabalhou no rádio e na televisão, é colunista do
semanário português Expresso e diretora da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa. É
autora de contos, crônicas, ensaios biográficos e antologias, e dos romances A
instrução dos amantes (1992), Nas tuas mãos (1997) – vencedor do Premio Máximo
de Literatura – e A eternidade e o desejo (2007), publicado no Brasil pela
Alfaguara.
“Não importa
o que se ama. Importa a matéria desse amor. As sucessivas camadas de vida que
se atiram para dentro desse amor. As palavras são só um princípio – nem sequer
o princípio. Porque no amor os princípios, os meios, os fins são apenas
fragmentos de uma história que continua pala lá dela, antes e depois do sangue
breve de uma vida. Tudo serve a essa obsessão de verdade a que chamamos amor. O
sujo, a luz, o áspero, o macio, a falha, a persistência”.
Editado pela
primeira vez em 2002, pela Publicações Dom Quixote. Li a edição publicada pela
Alfaguara de 2010.
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(Arte de Michele, do Café do Mineiro - Lagoa da Conceição - Floripa - 07/05/14)
DA SÉRIE “NOSSA LÍNGUA”
Pleonasmos que devem ser
evitados
- Subir
para cima
- Descer
para baixo
- Elo
de ligação
- Acabamento
final
- Certeza
absoluta
- Juntamente
com
- Em
duas metades iguais
- Há
anos atrás
- Vereador
da cidade
- Outra
alternativa
- Anexo
junto à carta
- Recuar
para trás
- Todos
foram unânimes
- Conviver
junto
- Encarar
de frente
- Fato
real
- Multidão
de pessoas
- Cardume
de peixes
- Amanhecer
o dia
- Retornar
de novo
- Surpresa
inesperada
- Gritar
bem alto
- Entrar
para dentro
- Sair
para fora
- Protagonista
principal
- Voltar
a repetir
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DA SÉRIE
“PARA [SÓ] RIR”
A morte
do Marcão
(autor desconhecido)
Marcão era um antigo funcionário de uma cervejaria no interior de São Paulo.
Ele era feliz no trabalho, embora seu sonho fosse ser degustador de cerveja, bebida que tanto adorava.
Certa vez, trabalhando no turno da noite, ele caiu dentro de um tonel de cerveja.
Pela manhã, o vigia deu a triste notícia:
- É com profundo sofrimento que informo que o Marcão se desequilibrou,
caiu no tonel de cerveja e infelizmente morreu afogado.
Um grande amigo de Marcão com a voz muito triste pergunta:
- Meu Deus!!! Será que ele sofreu???
O vigia então responde:
- Acredito que não, porque, segundo as imagens da câmera de segurança,
ele chegou a sair três vezes do tonel para urinar...
Marcão era um antigo funcionário de uma cervejaria no interior de São Paulo.
Ele era feliz no trabalho, embora seu sonho fosse ser degustador de cerveja, bebida que tanto adorava.
Certa vez, trabalhando no turno da noite, ele caiu dentro de um tonel de cerveja.
Pela manhã, o vigia deu a triste notícia:
- É com profundo sofrimento que informo que o Marcão se desequilibrou,
caiu no tonel de cerveja e infelizmente morreu afogado.
Um grande amigo de Marcão com a voz muito triste pergunta:
- Meu Deus!!! Será que ele sofreu???
O vigia então responde:
- Acredito que não, porque, segundo as imagens da câmera de segurança,
ele chegou a sair três vezes do tonel para urinar...
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CONFRARIA
DO [meu] POEMA-pn
POEMA
ÀS MÃES
Mãe,
eis-me
aqui mais uma vez
enfrentando
meu espelho.
A
cada novo ano,
desde
que brotei do teu útero,
me
confronto com teu rosto.
E
me questiono:
O
que fiz com teus conselhos?
com teus exemplos?
com a minha vida?
Mãe,
teu
tempo é de contemplação
o
meu tempo é de inquirições
e
hoje só restam inquietações.
Aceite
mãe
meus
reparos.
Perdoe-me
as falhas
as folhas ao vento.
Me
embale,mãe.
me
deixe voltar
para
a proteção do teu ventre.
( Pinheiro
Neto, homenagem às mães em Maio/2014)