sexta-feira, 17 de abril de 2015

Edição nº. 70

PAPO NA CONFRARIA:






ELOAH WESTPHALEN NASCHENWENG


1.O que te motiva a escrever?

Amo as palavras. O dom não se explica. Conseguir  compor beleza , sentimentos e verdade com palavras e ter a capacidade de  transmitir encanto, tem sido a minha  maior motivação
2.Cite os TRÊS livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida?
a)    O Tempo e o Vento – Erico Veríssimo
b)    A Descoberta do Mundo – Clarice Lispector
c)    Sapato Florido – Mario Quintana

3- Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de:
a)    Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries)
O Homem que não parava de Crescer-Marina Colassanti 
b)    Alunos do Ensino Médio
Vidas Secas – Graciliano Ramos
c)    Alunos do Ensino Superior
Grande Sertão Veredas –João Guimarães Rosa

4- Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?
No meu processo criativo não existe rotina.  As vezes uma palavra, uma frase ou uma imagem pode ser o início do processo criativo. Penso, dou volta nos pensamentos, amadureço a frase principal e vou colocando no papel palavras ou ideias afins.
Escrevo, reescrevo corto palavras, acrescento outras e vou tecendo meus versos. Os primeiros rabiscos são no papel. Guardo, releio, mudo, depois guardo novamente, releio e disseco. No final satisfeita digito no computador.

5- Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.
A literatura, principalmente a produção poética tem ocupado o papel secundário na literatura brasileira. As editoras, na sua maioria recusam originais e as livrarias tem um numero muito limitado de livros na área poética à disposição do leitor. Novos escritores pouco ou nenhum apoio recebem de setores privados e públicos, mas a poesia resiste através de produções pessoais, blogs, e outras redes sociais.
6-Fale sobre o papel das Academias  de Letras em relação à Língua e à Literatura?

As Academias tem o papel primordial de cultivar a língua e a Literatura brasileira, valorizar a produção literária dos bons escritores divulgando-a e concedendo notoriedade aos seus membros.
Participar de eventos e movimentos literários, descentralizar suas atividades e
apoiar novos escritores e associações.


SOBRE A AUTORA

Eloah Westphalen Naschenweng, natural de Jaraguá do Sul – SC, professora, pedagoga, graduada em Tecnologia em Automação de Serviços Executivos,  Funcionária Pública Estadual aposentada, Presidente do Grupo de Poetas Livres

OBRAS PUBLICADAS: Fragmentos, Relicário, Além dos Fragmentos,
A Dança da Vida.

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:
No Limíte da Palavra; Poesias, Crônicas e Contos I; Poesias, Crônicas e Contos II; Poesias, Crônicas e Contos III; Os Mais Belos Poemas e Textos do Grupo de Poetas Livres; A Palavra ConVida; Mangwana – Agenda 2015.



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DA SÉRIE “POETAS MULHERES” – 11


  

[Nova escultura de Elisa Zatera/RS]




JE SUIS POEMA








MATERNIDADE (*)


[ Cheiro de Jardim III Albsertina Prates/SC ]



Arrepender-te-ás talvez
como de uma suprema profanação
de teres um dia me vestido
de bagos e de gomos
e para eles depois te atirado
como um fauno sem lei.
Oh, não te arrependas não
que me deste glória e honra
pois eu só via o milagre da árvore estéril
carregada de frutos
e o sumo das uvas escorrendo
dos seios que nunca amamentaram.


[*  +MAURA DE SENNA PEREIRA, A dríade e os dardos, Liv. São José, 1978, pg. 25]



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[Professora Sueli/wordpress]

vai idade


do espelho
ao espólio
é um piscar
de olhos

[VALÉRIA TARELHO, Livro da Tribo, São Paulo, 2013, pg. 92]





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INDISPLICÊNCIA


Entre os suspiros do vento
Quero ainda viver momentos
Orvalhados de prazer
Certo meu reino não é deserto
Aí dorme meu coração
Minhas ilusões e asas brancas
São voos tecidos de ensejos
Como estrelas peregrinas
Como um lago de desejos
... a vida nos ensina!

A última curva do caminho
Quero que seja leve como o arminho
Onde sinta a inocência
Desde o tempo de ontem
E agora – esta indisplicência!

[ VANI CAMPOS, Relicário, Somar, Porto Alegre, 2014, P. 20]



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RIMA POBRE


100 gotas de novalgina
e o fogo indo e vindo
indo e vindo pela testa



[ADELAIDE DO JULINHO, Face book, 10/04/2015]

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O SILÊNCIO


quantas vezes o silêncio
existe porque é pleno
de palavras, tantas palavras
acarretando ideias
tantas vozes lembradas
tantos sons de riso e de lamento,
tantos choros e tantos gritos
uma cacofonia
se fossem libertadas
todas estas notas aflitas!
melhor recorrer ao silêncio,
até que a calma disponha a
sonoridade e o seu sentido
até que canções afaguem o ouvido
até que o choro se faça luto
e todas as alegrias
assim como as tristezas
possam finalmente ter sentido
libertar-se na linha breve do poema
esvair-se na desvelada atmosfera
e aí prosseguir sabiamente
as eterna leis da natureza.

[MARIA PETRONILHO, Lisboa, Fece book, março 2015]


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CLAMA

de cama a chama
devassa na sala que dama
furtiva não mais, trama
estranha de pele que entranha
cavala que cava espanta
vontade de gozo na manha
bala degusta e clama
vontade de ti...

[FLAVIA D'ANGELO, RJ, Face Book, março, 2015]



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[POEMA]






deflora-me
com a ponta delicada dos teus dedos
e penetre o meu gosto
com a tua língua

insere teu sujeito inteiro
nas entranhas
libere o teu tempero
no canal dos meus desejos
marca-me com tuas mãos
deixe em mim o teu selo

prenda-me nos mistérios
dos teus olhos negros
mostre o monstro que me come no escuro
eu não tenho medo de habitar no teu inferno
quando o paraíso no teu corpo eu descubro.

 (LUANA DIAS, Porto Velho, Face book, 03/03/2015)


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DETONANDO





Você é meu remédio sem bula
o imperfeito mais que perfeito
Spa cheio de gula
lado esquerdo no direito
minha face oculta
rodovia sem pedágio
prêmio e multa
eleição sem sufrágio
veículo sem condutor
sopro na orelha
lobo e ovelha
Coisa confusa
que se chama amor!

[ ROSA PENA, 29/03/2015, em sua página no Facebook]

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SOBRE O TRIÂNGULO VAZIO; O NÁUFRAGO


Quando termina a casa
uma rua espreita, e aguarda:
Tudo rápido passa
o tempo o automóvel as massas
e as vontades passageiras
como um passatempo
ainda perpassam
anéis e dedos;
...................mas dentro
a terra finca suas raízes
num rio profundo
e muito lento
onde a poesia se nutre do silêncio
onde o homem, se não tivesse tanta pressa
olharia sem medo
se ouvisse
alguém chamar amor...
No entanto,
tudo o que há é o náufrago
de raízes partidas (e sem tempo)
louco pra chegar mais cedo em casa
e ser o hiato
entre a garagem, a TV
(e pasmem!) o sofá da sala.

[LOU ALBERGARIA, BH, Face book, 09/04/2015]

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 ("Pescadores", de Maria de Fátima Pavei - Içara)


MAREJANDO


O mar me possui.
Ele me tem inteira,
faz-me ilha,
barco pequeno,
pequena cabotagem,
toque de velas.

- Mestre José, meu pai!
Verde nos olhos,
Na alma,
Verde de mar,
Verde de amara,
- tão verde de morrer.

[MILA RAMOS, SC,  Na grande noites dos girassóis, 2ª ed., Ipê, Joinville, 1987, pg.29]






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LI E RECOMENDO (11)

A OBRA DE EDUARDO GALEANO (HOMENAGEM)








1-    MORRE O ESCRITOR EDUARDO GALEANO

"Na década de 1970 o escritor uruguaio Eduardo Galeano foi um dos nossos "Gurus"... Falava da América Latina com propriedade, com paixão (compaixão) e o seu discurso vinha inflamado, lembrava o nosso Darcy Ribeiro... Aliás, o Darcy foi um dos escritores que colaboraram para que Galeano escrevesse aquele livro emblemático que todo o latino deve ler "As Veias Abertas da América Latina"... Lembro também daquele singelo livro de contos "Vagamundo" em que o autor faz a famosa viagem na Bolívia no que se conhece como o "Trem da Morte" e a história da mãe que acalenta um filho que está morto em seu colo, todos no trem sabem que a criança está morta, mas são cúmplices daquela dor de mãe... E aquela obra prima que ganhou o mais cobiçado prêmio para um escritor sul americano, o Casa de las Americas, o livro "Dias e Noites de Amor e de Guerra"... Galeano gostava de futebol, escreveu um belo livro sobre o assunto... Esteve no Brasil várias vezes, principalmente em Florianópolis, falava o português fluentemente e sabia como ninguém insuflar uma paixão pela terra que nos acolhe, era um ativista com causa e não tergiversava, sim, sabia como lidar com as utopias... Outra lacuna se abre com sua morte aos 74 anos... Fica uma obra, não perdemos a referência, apenas um valoroso companheiro de viagem, se isso ainda é possível, penso que sim, estou mais triste hoje"...

 (Nota na página de Olsen Jr. no Face book em 13/04/2015).



2-    A FUNÇÃO DA ARTE

[Eduardo Galeano]

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o sul.

Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.

Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.

E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:

— Me ajuda a olhar!


[ Em Livro dos Abraços ]

Da homenagem ,feita pela revista Germina, Adelaide do Julinho, Face, 13/04/2015




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DA SÉRIE “EU SOU POEMA”





BELA JUVENTUDE (*)




Vejam como está roída
A boca da rapariga
Que deixaram estirada entre os juncos.

Ao se lhe abrir o peito,
Achava-se o esôfago tão carcomido!
Finalmente em refolho meio ao diafragma
Encontrou-se ninho de jovens ratos.

Uma pequena irmãzinha jazia morta.
Viviam os demais de fígado, rins,
Sorviam o sangue gelado e, ali,
Por certo desfrutavam de bela juventude.

Rápida e bela também foi a morte deles;
Todos atirados na água, juntos.
Ah, como guincharam os minúsculos focinhos!



[*Gottfried Benn (1886 – 1956), poeta do movimento expressionista alemão. Tradução livre de Silveira de Souza, especialmente para Confraria da Leitura-pn]




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DA SÉRIE “CRÔNICAS, CONTOS E OUTROS TANTOS”




  

                        
PARIS: FESTAS, PERFUMES E ENCANTOS



Sentir-se só, sim. Solitário, nunca! Porque quem lê está sempre rodeado de pessoas, de lugares maravilhosos, além de viajar pelos mais diversos espaços. Ao ler “Paris é uma Festa” do escritor Ernest Hemingway viajei na imaginação e sonhei em conhecer Paris. O sonho se realizou. Emocionava-me ao entrar nos cafés e o ar frio quase me congelando. Lembrava-me de Hemingway descrevendo a paisagem “o vento frio arrancando as folhas das árvores”. Perguntava-me: “Onde está o Café de Amateus?” Afinal era frequentado pelo escritor, e me realizei ao entrar num dos Cafés. Experimentei o café-crème, vinho de Sion e trutas au bleu. O rio continuava com suas águas rasas no inverno. Num dos restaurantes à beira do Sena degustei o chamado goujon (peixe da família das carpas), uma delícia! Em seu livro, Hemingway descrevia o pescado, as correntezas, os castanheiros e os pescadores, de forma extraordinária. Tudo ali na minha frente era só olhar. Andava entre a realidade e a imaginação, devagar e quase tropeçando ao contemplar Paris. Voltando-me para o livro, o escritor sempre falava: “que quando a primavera chega nossos problemas desaparecem, exceto o de saber onde se poderia ser mais feliz.” Pensei “um dia, retornarei na primavera.” Hemingway ao escrever Paris é uma festa, imaginei-o escrevendo de seu escritório, no qual tinha uma janela, enquanto a inspiração entrava na sala seu cérebro perambulava no Sena a procura de inspiração. Hemingway escreveu inúmeras vezes sobre o maravilhoso Sena “Quando paro de escrever, não quero me afastar da lembrança do rio, onde posso ver trutas, no remanso das águas. Sempre me deu felicidade ver aqueles homens pescando, jamais me senti solitário nas margens do Sena.” Quando você for a Paris não se esqueça de ler antes da viagem “Paris é uma festa” de Ernest Hemingway, e sinta seus perfumes e encantos ...

(Maria de Fátima Pavei,


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DA SÉRIE “NOSSA LÍNGUA”





GAFES EXECUTIVAS

AS AVES-MARIAS

Em ave-maria, o primeiro elemento (ave) é interjeição (latina), que significa salve;  por isso não varia. O outro elemento ( maria) é substantivo e varia normalmente. Destarte, seu plural é ave-marias, assim como o plural de salve-rainha é salve-rainhas.

Recentemente, porém, um repórter perguntou a um dos ministros da área econômica (agora ex-ministro) se existia saída para a crise. A resposta veio mambembe:

“Existe, sim: é ajoelhar e rezar três aves-marias.”

Ave!!! Ministro que não sabe rezar ao menos três ave-marias tem, no mínimo, que rezar dez salve-rainhas e uns vinte pai-nossos para ficar no cargo... Como não soube...



 [ Luiz Antônio Sacconi, Gafite, nº. 1, abril 1987, Nossa Editora, p. 11]


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DA SÉRIE  “REPASSANDO”



[Arte em café, 3d, Michele Espíndola, Lagoa da Conceição, Floripa]




LATIM, Língua maravilhosa! 


O vocábulo"maestro" vem do latim "magister" e este, por sua vez, do advérbio "magis" que significa "mais" ou "mais que".

Na antiga Roma o "magister" era o que estava acima dos restantes, pelos seus conhecimentos e habilitações!

Por exemplo um "Magister equitum" era um Chefe de cavalaria, e um "Magister Militum" era um Chefe Militar.

Já o vocábulo "ministro" vem do latim "minister" e este, por sua vez, do advérbio "minus" que significa "menos" ou "menos que".

Na antiga Roma o "minister" era o servente ou o subordinado que apenas tinha habilidades ou era jeitoso.

*COMO SE VÊ, O LATIM EXPLICA A RAZÃO POR QUE QUALQUER IMBECIL PODE SER MINISTRO ... MAS NÃO MAESTRO !*
 

[Da Internet, sem autor identificado]



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DA SÉRIE “POEMAS VISUAIS”

1-


[ E (CLIPS) ANDO , Pinheiro Neto, Poemas Reunidos ]




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2-

[Poema Visual de Fátima Queiroz, SP]





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DA SÉRIE "PARA SÓ[R]RIR E REFLETIR"






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CONFRARIA DO [meu] POEMA-pn







E bebo a palavra
e me embebedo.

Goles de versos
      de verbos
e(s)coam, vão e não voltam.

Não registro. Bebo só.

E a palavra deixa tonto
atônito com o saber
        que descubro
        ao beber.

A palavra embebeda
           o sonho.




(Pinheiro Neto, Bebe(r) palavra, A rosa do verso, 1988, p.34)