quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Edição nº. 52



(Pinheiro Neto, Poema visual, in Poemas Reunidos, p.159, ACL, 2010)


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OITENTA ANOS AGORA! por VALDIR ALVES 

Lá nos primórdios, os oceanos eram calmos e tranquilos. Os viajantes só dispunham dos remos para empurrar os barcos em seus deslocamentos. Havia serenidade nas viagens, mas obrigatoriamente eram curtas e limitadas; e proibidas para determinadas ilhas reservadas, especialmente, para os deuses. Assim navegava a humanidade até o dia que os vikings arrombaram a ilha do deus vento. E o vento libertado foi soprando, esparramando por todos os cantos do mundo a sua força. Os vikings, primeiro tentaram detê-lo, mas perceberam que quem corre para a liberdade é sempre mais rápido e astuto que o carcereiro. E assim escolheram se libertarem com ele inventando a quilha e as velas, que davam às embarcações equilíbrio e estabilidade, mas, principalmente, combustível para longas jornadas. 


Lembro-me da lenda a propósito dos 80 aniversários deste ilustre brasileiro Jaison Barreto que, na biografia das minhas boas lembranças, foi o protagonista de um embate memorável disputando o cargo de governador de Santa Catarina, em 1982. O discurso veemente, a postura serena e inflexível, o verbo feito pão, o pão que haviam subtraído dos catarinenses. Com dignidade violou uma ilha da ditadura e soltou o vento da liberdade, o vento que se esparramaria por todo o Brasil soprado pela sinfonia dos galos tecendo uma nova manhã, segundo o debruado do João Cabral de Mello Neto.


No começo do mês de outubro, reta final da eleição, fui assistir um comício na cidade Imbituba. Os fatos, com pequenos detalhes que diferenciavam aqui ou ali, se repetiam numa sucessão de comícios por diversas cidades que eu acompanhava sempre que possível: palavras de ordem contra a ditadura, contra as oligarquias e, finalmente a vitória inexorável da democracia faziam de Jaison Barreto uma comemoração. Era o começo de uma catarse, embora ainda lambuzada de medo.


Nesta oportunidade, para compor uma matéria que eu preparava para o Jornal O Globo, perguntei para um garoto, ainda imberbe, que acompanhava o evento nas proximidades, que motivação tinha para apoiar um candidato da oposição. “O Jaison – me respondeu – é a novembrada do palanque”. Atônito, fiquei ali sem comentar, sem anotar, atônito até o garoto partir. Mas nunca esqueci aquele sucinto e esclarecedor encontro.


Como também nunca esqueci o Jaison Barreto cidadão comum, com o estranho gosto de misturar uísque com coca-cola, é verdade, mas sábio quando entre um gole e outro argumentava que a ignorância não se higieniza, se varre. Logo, educação era o fundamental. O palco e o boteco tinham harmonia, eram os versos do Quintana apertando o interruptor: Venho do fundo das eras/Quando o mundo mal nascia/Sou tão antigo e tão novo/ Como luz de cada dia.


A alegria durou até a abertura das urnas no mês de novembro. Junto com elas, todavia, se abriram também os depósitos das falcatruas que os penduricalhos da ditadura obsequiavam aos poderosos de plantão. Roubaram a eleição de Jaison Barreto. Mas não roubaram os ventos da liberdade, estes estavam espalhados e, sobretudo, soprando nos corações libertários das pessoas que não se trocaram por uns poucos vinténs, da gente honesta brasileira. Não roubaram o desejo dos catarinenses de por fim a ditadura, não roubaram dos catarinenses o desejo de acabar com as oligarquias.


Hoje, estes milhões de brasileiros que estão nas ruas exigindo o fim da corrupção, exigindo o aroma da honestidade, estão também cantando um pouco: parabéns Jaison Barreto, feliz aniversário.
 
Com o carinho do escriba Valdir Alves (Jornalista e escritor - texto publicado em sua página no facebook)




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SYNT
  
Synt, garoto impuro
Esse garoto morava num túmulo
Synt, garoto impuro que não tinha voz
Mas mantinha distância em cada parte
De sua cordialidade
Não, não diga nada, não há nada a dizer
Não, não fale nada, não há nada a declarar

Synt, goroto impuro
Esse garoto se escondia do mundo
Synt, garoto impuro que não tinha nada a dizer
Mas mantinham os desentendimentos em cada parte
De sua superficialidade
Onde seu próprio medo é morrer sozinho
Onde seu próprio desejo é morrer sozinho

(Blimer, apenas um verme que se alimenta de cicatrizes de verão, 04/06/2006)


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AUDIOTECA SAL E LUZ 


A Audioteca Sal e Luz é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, que produz e empresta livros falados (audiolivros) e que corre o risco de acabar.

São livros que alcançam cegos e deficientes visuais (inclusive os com dificuldade de visão pela idade avançada), de forma totalmente gratuita.

Seu acervo conta com mais de 2.700 títulos que vão desde literatura em geral, passando por textos religiosos até textos e provas corrigidas voltadas para concursos públicos em geral. São emprestados sob a forma de fita K7, CD ou MP3.

Se você conhece algum cego ou deficiente visual, fale desse trabalho, seja um divulgador.

Para ter acesso ao acervo da Audioteca, basta se associar comparecendo à sede, que fica situada à Rua Primeiro de Março, 125. Mas não precisa ser morador do Rio de Janeiro. Qualquer pessoa de qualquer parte do país pode tornara-se sócio desse belíssimo projeto.


Todos os interessados podem solicitar o livro pelo telefone, escolhendo o título pelo site, cujo envio será gratuito através dos Correios.

A maior preocupação dessa entidade reside no fato de que, apesar do governo estar ajudando, é preciso apresentar resultados. 

É necessário atingir um número significativo de associados, que realmente contemplem o trabalho, senão ele irá se extinguir e os deficientes não poderão desfrutar da magia da leitura.

Só quem tem prazer na leitura, sabe dizer que é impossível imaginar o mundo sem  livros.

A Audioteca não precisa de dinheiro, mas de DIVULGAÇÃO!

Contatos:

Christiane Blume - Audioteca Sal e Luz. Rua Primeiro de Março, 125- 7º Andar. Centro - RJ. CEP 20010-000
Fone: (21) 2233-8007
Horário de atendimento:
 08:00 às 16:00 horas 



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(EX) PLANADAS

Roubaram pra cacete
pisando leve em tapetes imaculados
cochicham entre cafezinhos e rodadas de uísque
Conspiram, planejam, prevaricam, escamoteiam,
tergiversam, subornam e dão sumiços em processos
Dom Bosco, nos proteja
Juruna, esbaforido, atravessa o Anexo II da Câmara,
o turista americano tira uma fotografia
Prestes compra flores do cerrado na Catedral
No Setor Hoteleiro Sul executivos paulistas
planejam uma grande noitada e, sofregamente,
procuram cadernetas com endereços de
cafetinas cinco estrelas
Índios invadem a sede da FUNAI,
um disco voador foi visto em Sobradinho
E reivindico a Constituinte feliz, utópica, macunaímica
Belisca meu pescoço, moça
Me fere me acaricia me morde me decifra
Só cifras
Um cooper desesperado, uma pensão pulguenta,
um zelador atônito
Um beijo sanguinário, um cão sarnento,
um boteco infecto, uma mijada espumante,
uma batida no Eixo.

(Emanuel Medeiros Vieira, Sete planos de asas, Edições Sanfona, 1985)




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LI E RECOMENDO



Sentimentos confiscados, de Jacqueline Aisenman, contos e crônicas, lançado este ano e editado pela Design Editora de Jaraguá do Sul.

Para Carlos Henrique Schroeder, com esse livro, Jacqueline “prova ser uma das cronistas mais afiadas do país, e com uma versatilidade impressionante aborda assuntos tão díspares como desejo e redenção, e mostra como a delicadeza e a sutileza são o verdadeiro tempero da crônica brasileira.

Os textos ora se contrapõem,, ora se sobrepõem, sempre numa dualidade incrível (são sempre dois textos em um). E esta faca de dois gumes deixará marcas indeléveis nos leitores, pois a verdadeira literatura sempre confisca.”

Nascida em Laguna, Santa Catarina, viveu também em Curitiba, Ponta Grossa, São José dos Pinhais, Florianópolis e há mais de vinte anos reside em Genebra, na Suíça.
Já publicou: Pedaços de mim e coisas assim; Muito mais do que a solidão; Coracional; Poesia nos bolsos; Entre os morros da minha infância, Lata de conserva; Palavras para o seu coração e Briga de foice.

Criou em 2009 e até hoje edita a revista literária eletrônica e o site Varal do Brasil, “fazendo uma ponte de palavras entre o continente europeu e o Brasil”.


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INSCRIÇÕES PARA O 15º CATAVÍDEO


As inscrições para a 15ª edição do Catavídeo – Mostra Livre Catarinense vão até o dia 30 de setembro. O festival é uma janela livre, que permite a exibição e o debate do audiovisual produzido em Santa Catarina.

 Podem ser inscritos vídeos finalizados em qualquer ano, formato e duração, mas que sejam inéditos no festival. Se você é catarinense, reside no estado, ou seu audiovisual foi realizado em Santa Catarina, poderá exibir e conversar com o público sobre sua produção. Inscrições em www.catavideo.org. O 15º Catavídeo ocorre de 25 a 29 de novembro na Fundação Cultural Badesc, em Florianópolis. 


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CONFRARIA DO POEMA-pn


Sorvo o sangue
dos teus versos
repagino poemas.


 (Nanopoemas V (a), Pinheiro Neto, Poemas à flor da pele, p. 144, 2013)