sábado, 22 de dezembro de 2012

Edição 43


                        

PAPO NA CONFRARIA: EDY LEOPOLDO TREMEL(*)
       

1.   O que te motivou a escrever?

Uma espécie de compulsão levou-me a dar o impulso inicial, quando escrevi meu primeiro livro de contos “A Hospedaria”. Fui bafejado mais pela inspiração do que propriamente por uma necessidade natural de escrever. O assunto fluía mais nos momentos de repouso, e eis que lá estava eu munindo-me de caneta e papel para manifestar meus devaneios, o que sobremodo se transformou simplesmente numa agradável necessidade.

2.   Cite os três livros ( e respectivos autores) mais significativos em tua vida.

“Os Caçadores de Búfalos” romance de Carl May
“A Importância de Viver” de LinYutang
“O homem Medíocre” de José Ingenieros.

3.   Com se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?

  O cabedal de conhecimentos adquiridos durante minha existência tem me proporcionado os elementos necessários ao desenvolvimento de meu trabalho literário, porém, se não sou movido pela emoção, pelos sentimentos e pelo prazer de escrever, o que escrevo torna-se estéril, desprovido da carga emotivatão necessária e que dá vida à obra literária.
4.   Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.

Não posso afirmar que haja o apoio tão desejado pelo escritor, é uma ponte que ainda não foi concluída e que aproximaria a cultura do setor público. Trata-se de um velho e, pelo histórico, difícil relacionamento. Apesar de ser prioritária para o desenvolvimento sociocultural, está longe de ser estabelecida de modo definitivo.
5.   Fale sobre o papel da Academia de Letras em relação à Língua e à Literatura?

A Academia de Letras tem a importante função de preservar o bom vernáculo e colocar à disposição do público a sua obra bibliográfica com a qualidade necessária e austeridade  para que faça por merecer o respeito e a admiração no meio cultural literário.

(*) O escritor Edy Leopoldo Tremel ocupa a Cadeira nº. O1 da Academia Catarinense de Letras
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NATAL NA CONFRARIA

Outro Natal que chega
outro Natal que vai
homens confraternizam
mulheres rezam e compram.

Esquecem por instantes
as chagas do mundo
as dores do século;
dividem por um momento
as migalhas do pão
as xepas da fuga.

Ufa, o pesadelo Maia se foi!
Outros natais viveremos
Outros natais passarão.
E em nós ainda, o agridoce sabor
de esperança, de promessa, de saudade.

(Pinheiro Neto, Natal, 2012)




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SONHOS ANTIGOS



Este é o primeiro romance de Basilina Pereira. Poeta e contista integrante do movimento e da Associação Cultural Poemas à Flor da Pele, é uma escritora que vem deixando sua marca indelével por onde passa. Seus trabalhos sempre densos e contagiantes, nos trazem paz e tranqüilidade.
Este romance conta a história de uma menina do interior, cuja infância solitária na fazenda, de repente, é transformada completamente: seu pai resolve levá-la para estudar num colégio interno. Ao ver-se arrancada da segurança do lar, a protagonista tem de enfrentar um mundo desconhecido, cheio de regras e tradições bem rígidas que lhe causam grandes conflitos e lhe provocam sentimentos até então desconhecidos. Fatos interessantes e grandes emoções se alternam e acompanham a narrativa até o seu desfecho.

Basilina nasceu em Ituiutaba-MG, mas reside em Brasília desde 1983. É professora aposentada, advogada, poeta e escritora. Tem 3 filhas e 3 netos e, embora a Literatura sempre tinha feito parte de sua vida, só em 2006 voltou a escrever, após aposentar-se do Magistério. Desde então, divulga seus poemas em espaços virtuais, onde já obteve êxito em vários concursos.Em sua recente jornada literária já publicou 3 livros de poesia e outros 9 do mesmo gênero esperam a vez de sair das sombras. Também participou de 14 coletâneas. Sonhos Antigos é seu primeiro romance que brotou no imaginário da autora, enquanto algum poema dormia.
Faz parte da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras; é membro da Academia Momento Lítero-Cultural, cadeira 19; membro correspondente da Academia Rio-Grandina de Letras e da Academia de Letras e Artes Buziana.

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DUAS MENINAS
Flávio José Cardozo

Ele pega o ônibus das sete e meia, apinhado. Vai pedindo licença, transpõe a roleta do cobrador, anda mais, ajeita-se. Gosta de ficar assim na frente, sair fácil na hora da chegada no Terminal, tem umas tantas quadras para andar até poder sentar-se diante de sua quieta mesinha de escriturário.
Já  houve dias melhores nesse trajeto, hoje ele tem o sabor de uma viagem forçada. Quando escapo para um cantinho sem gente e sem barulho ? - vive se perguntando inutilmente, sabedor que é dos anos de idas e vindas que ainda tem de cumprir. É homem moço, dos que a gente, olhando na superfície, define como com um vidão pela frente.
Ele aprendeu a se distrair na diária travessia examinando os que vão sentados. Estuda rostos, investiga em quais há sinais de felicidade, em quais há sinais de sofrimento, exercita a memória guardando-os para ulteriores observações, cria às vezes passatempos tolos e que logo o cansam, como ver quem tem a boca mais larga, o nariz mais comprido. Que vida!
Mas hoje a viagem é outra. Mais dolorosa, mais feliz, quem que sabe? Bem à frente, sentadinha à janela, vai a menina nunca vista, oito anos, os cabelos claros presos num laço. Os cabelos também claros, os cabelos também num laço... Procura outras semelhanças, são vagas as semelhanças além dos cabelos e da idade, e da pastinha escolar, mas isso já  não é pouco.
Por que o rapaz que está  ao lado dela não salta para ele sentar-se e perguntar-lhe o nome, quais os seus gostos, se vai bem na aula, se a professora é boazinha.  E daí ouvir várias vezes a voz que ela tem e também compará-la. E depois... Sim, depois não se cansar de recomendar-lhe o maior cuidado ao sair do ônibus e atravessar a rua.
Mas o rapaz não salta e ele se resigna a contemplar o rostinho que vai, curioso, olhando o mundo (soubesse ela) cruel que ruge lá  fora. Como reagiria se lhe dirigisse a palavra? As mães, com toda razão, vivem advertindo as crianças para não conversarem com desconhecidos, com que habilidade teria então de vencer essa barreira, que palavras ia ter de usar para convencê-la de que não é nenhum homem mau, que entre os dois há  uma certa familiaridade, a linguagem dos mesmos cabelos claros, dos cabelos claros presos daquele jeito?
Quem se movimenta para sair não é o rapaz, é a menina. Vai descer no primeiro ponto, é a escola.
- Com licença - diz, numa vozinha que ele jura ser igual, igual, meu Deus do céu, igual. Ele a deixa passar e hesita por um segundo entre pegar ou não o assento vago.
Não pega, anda. Anda e desce atrás - e, na calçada, a acompanha. Ao lado dela, em silêncio, atravessa a rua agitada, assim que era pra ter sido sempre. Sempre, sempre, repete, amargo.
Só quando a vê no pátio, sem perigo, retorna para tomar outro ônibus. De hoje em diante, se passar a chegar um pouco atrasado no serviço, que mal tem isso na ordem das coisas? - fica pensando.















quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Edição 42




PAPO NA CONFRARIA: COM OLSEN JR.


O que te motivou a escrever?

Num primeiro momento foram as leituras... Mais tarde, aos 13 anos a vontade de escrever as minhas próprias histórias.

Cite os três livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida?

Melhor citar logo os autores: Hans-Christian Andersen (obra em cinco volumes) mesmo considerando que algumas metáforas de suas narrativas (O Patinho Feio, por exemplo) só foram percebidas mais tarde; José Bento Monteiro Lobato (todos os 17 volumes da obra infantil que originou a série “O Sítio do Pica pau Amarelo”) e Karl May (os 30 volumes traduzidos e publicados pela Editora Globo de Porto Alegre) em especial os três primeiros volumes da saga “Winnetou”...

Indique um livro (literatura brasileira) para leitura de: a) alunos do Ensino Fundamental – quinta a oitava séries; b) alunos do Ensino Médio e c) Alunos do Ensino Superior.

Ensino Fundamental, o Monteiro Lobato continua dando o recado, qualquer um dos livros, talvez escolhesse  “Reinações de Narizinho”; no Ensino Médio, Lima Barreto e “Os Bruzundangas”; no Ensino Superior “Abraçado ao meu Rancor”, do amigo João Antônio...  Citei estas obras, mas poderia escolher outras destes mesmos autores.

Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?

Primeiro quero dizer que escrevo porque não sei fazer outra coisa. Se for (é) uma necessidade então, o método pode ajudar a sistematizar o trabalho. Sou sartriano, isso significa que não abro mão de um Projeto que é anterior a qualquer outra iniciativa. Após definir o que pretendo, então sim, mãos à obra, trabalho e mais trabalho... Não quer dizer que este “Projeto” inicial não seja alterado, sempre é, mas dentro de uma meta definida antes, isso inclui um começo, meio e fim... Não há “pontas soltas” no que escrevo...

Fale sobre o apoio dispensado pelos setores públicos e privado à literatura.

Falando sério, tenho piedade destes indivíduos (a categoria é sartriana) que se atrelam ao Estado ou qualquer outra espécie de poder para realizar sua arte. Escrevo porque é impossível não fazê-lo e isso independe da ingerência de qualquer instância seja ela pública ou privada. Evidentemente que se houvesse uma política cultural para as letras, o trabalho seria melhor distribuído em decorrência mais conhecido e isso facilitaria...  Nunca é demais acrescentar que uma arte que se submete a qualquer espécie de poder (o econômico é apenas um deles) não vale a tinta que se gasta para falar dela... Em SC bastaria cumprir as Leis que já existem, para citar duas, a “Lei Grando” como ficou conhecida, que estipula a aquisição pelo governo do estado de 300 exemplares das obras de autores (selecionados por uma comissão, a Cocali – Comissão Catarinense do Livro, vinculada à Fundação Catarinense de Cultura) para serem distribuídos nas escolas... Também a exigência (está na Lei) de se fazer um Jornal Cultural (dez edições por ano) e distribuído/encartado no Diário Oficial para todo o estado, deveria ser “O Catarina”, mas não é...

Fale sobre o papel das Academias de Letras em relação à língua e à literatura.

Vamos falar da nossa Academia, a ACL... Vivemos novos tempos, não cabe mais uma Instituição que exista apenas para a satisfação de seus associados em nela ingressar, enriquecer currículos e outras buscas de fruições passageiras... A Academia poderia funcionar como um órgão consultivo para assuntos ligados a sua própria natureza, ou seja, às letras... Sugerindo que se criasse uma disciplina de caráter obrigatório de literatura catarinense para os alunos do Ensino Fundamental, por exemplo... Ou oferecendo as bases para a existência de um Instituto Estadual do Livro, nos moldes que se faz no vizinho estado do Rio Grande do Sul, para se pensar o livro, as feiras, a publicação, distribuição e fruição do que se produz literariamente aqui em Santa Catarina... Mas para isso precisamos primeiro organizar a Casa para depois fazer sugestões... Não é verdade?

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ALÉM DO FUTURO

Vou te procurar
além do futuro
deslizando entre estrelas
ou em caminhos bifurcais

Se te encontrar e quando
nas estrelas estiveres voando
te falarei desta procura
és a paixão desta loucura

Falaremos das serás que vivemos
das metempsicoses que sofremos
mãos dadas, vagaremos pelos tempos.
Nas surdas asas do vento...

(Vany Campos in Poemas à flor da pele, vol. 5, Ed. Somar, p. 183, 2012)

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UMA CONFRARIA DE TOLOS

Por indicação do amigo Roberto Telles Ferreira  li recentemente “Uma confraria de tolos”, o único romance escrito por  John Kennedy Toole.

Nascido em Nova Orleans em 1937 e falecido em 1969, formou-se em inglês na Columbia University e lecionou no Hunter College e na University of Southwestern Louisiana.

O romance foi escrito no início dos anos 1960, mas Toole não obteve sucesso nas diversas tentativas de publicá-lo. Deprimido, cometeu suicídio. Foi por insistência da mãe, que acreditava no talento do filho, que esse livro alcançou o sucesso merecido. Ganhou o Prêmio Pulitzer de ficção, em 1981.

O livro é apresentado por Walker Percy que, na verdade, resolve relatar como, em 1976, quando era professor em Loyola,  se deu o primeiro contato com os originais do romance.  É muito interessante. Naquela ocasião, conta ele, comecei a receber telefonemas de uma senhora que não conhecia. Ela queria algo absurdo. Não era que tivesse escrito alguns capítulos de um livro e quisesse assistir às minhas aulas. Era que o filho, já falecido, havia escrito um romance no início dos anos 1960 – segundo ela, excelente – e queria que eu o lesse. “Por que deveria lê-lo?”, perguntei. “Porque é um grande romance”, respondeu-me.

Com o passar dos anos, eu havia me tornado muito bom em evitar tarefas indesejáveis. E se havia algo que eu definitivamente não desejava fazer era isto: lidar com a mãe de um romancista morto e, pior de tudo, ter que ler o original do que ela dizia ser um grande romance e que, como logo descobri , consistia em uma cópia a carbono tão borrada que era quase ilegível.

Mas a senhora era persistente e, não sei como, acabou conseguindo chegar ao meu escritório para entregar o volumoso manuscrito,. Não havia mais escapatória, mas ainda me restava a esperança de que ao ler as primeiras páginas, elas fossem tão ruins que, com a consciência tranquila, não me sentiria obrigado a prosseguir a leitura. Em geral é o que faço. Na maioria das vezes, basta o parágrafo inicial. Meu único medo era que este não fosse assim tão ruim, ou fosse suficientemente bom para que eu tivesse que continuar a ler.
Sendo este o caso, continuei lendo. E lendo. Primeiro, decepcionado ao constatar que o romance não era ruim o bastante para ser posto de lado, depois, com certo interesse, com um entusiasmo crescente e, por fim, com incredulidade: não era possível que fosse tão bom! Vou resistir à tentação de dizer o que primeiro me deixou boquiaberto, o que me fez sorrir, soltar uma gargalhada ou balançar a cabeça, maravilhado. É melhor deixar que o próprio leitor descubra.
De qualquer modo, temos aqui Ignatius Reily, sem antecessores em qualquer literatura que eu conheça – tolo extraordinário, um misto do louco Oliver Hardy, do gordo e o magro, do Dom Quixote e do perverso Tomás de Aquino -, profundamente revoltado com toda a Idade Moderna, em seu camisolão de flanela, num quarto de fundos em Nova Orleans, que, entre intensos ataques de flatulência e de arrotos, enche dezenas de cadernos com suas invectivas.
A mãe acredita que ele precisa ir trabalhar. Ele vai, em uma sucessão de empregos. Cada emprego se transforma rapidamente em uma aventura lunática, em um desastre retumbante; e mesmo assim, como um Dom Quixote, cada uma tem a sua lógica misteriosa.

A namorada, Myrna Minkoff, do Bronx, acha que ele precisa de sexo. O que se passa entre Ignatius e Myrna é diferente de todas as histórias de amor que já li.
De forma alguma uma virtude menor do romance de Toole é a recriação das particularidades de Nova Orleans, suas ruelas, os bairros afastados, seu linguajar, os brancos enquanto grupo – e um negro no qual Toole alcançou quase o impossível, um personagem de incrível comicidade no seu desembaraço, sem o menor resquício de estereótipos.

Mas a maior proeza de Toole é o próprio Ignatius Reilly, intelectual, ideólogo, malandro, simplório e glutão, que deveria provocar repulsa no leitor com suas bebedeiras descomunais, seu completo desprezo e sua luta solitária contra todo mundo – Freud, os homossexuais, os heterossexuais, os protestantes e os inúmeros excessos dos tempos modernos. Imaginem um Tomás de Aquino arruinado, transposto para Nova Orleans, de onde parte para uma feroz incursão pelos pântanos até um banheiro masculino em Baton Rouge, onde seu casaco de couro é roubado enquanto ele está absorto em seus avassaladores problemas gastrointestinais. Sua válvula pilórica se contrai periodicamente em protesto pela ausência de “geometria e teologia adequadas” no mundo moderno.

Hesito em utilizar o termo comédia – embora se trate de comédia – porque o resumiria apenas a um livro engraçado, e este romance é muito mais do que isso. Uma farsa retumbante nas dimensões de um Falstaff talvez o definisse melhor – commedia seria um termo mais apropriado.

É também um romance triste. Nunca se sabe ao certo de onde vem a tristeza: se da tragédia implícita por trás da ira gasosa de Ignatius e suas alucinadas aventuras ou da tragédia que perpassa o próprio livro.
A tragédia do livro é a tragédia do autor – seu suicídio em 1969, aos trinta e dois anos. A tragédia está nas obras que ele poderia ter produzido e nos foram negadas para sempre.

É realmente uma pena que John Kennedy Toole não esteja vivo e escrevendo. Mas, já que não está, só nos resta fazer o possível para que esta pantagruélica e tumultuada tragicomédia humana esteja ao alcance de um mundo de leitores.

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MINIFÚNDIO IV

se guardas a memória
na memória
anterior à palavra
e à história

então entenderás
o arrepio
que te habita
ao rever
a larva da borboleta
sob a folhagem da couve-flor

(Lindolf Bell, Edições Sanfona, Floripa, 1985)



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REGISTRO

1-    Jornal “O Nheçuano” ano 3, número 14, agosto/setembro de 2012, da cidade de Roque Gonzáles, que tem como editor, redator e diagramador o jornalista Marco Marques. Destaque para a reportagem sobre o centenário de Jorge Amado e a seção Autores & Livros sob a responsabilidade impecável de Inês e Nelson Hoffmann.

2-    Boletim do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (nºs. 165, 166 e 167/2012). Destaque para a página 8 sobre Historiadores de Santa Catarina. Francisco José Pereira é homenageado de julho e Iaponan Soares de Araújo de agosto.

3-    De David Gonçalves recebo 4 livretos, cada um com um conto e ilustrações específicas, cuja destinação é para alunos do 5º ao 9º anos escolares. Adorável margarida,A vaca no quarto andar, A mulher barbada e Por seus olhos foram os que recebi. Faltou Sapatos de capim.
São histórias muito interessantes, que receberam um tratamento gráfico   e visual diferenciado, escolhidas a dedo pelo autor e que apresentam um David “mais leve, mais humano”, preocupado em mostrar um lado que parecia guardado até este momento, isto é, o autor preocupado com um tipo específico de leitor: o estudante do ensino fundamental que começa a forjar seu futuro espírito leitor.

4-    De Artêmio Zanon, mais dois livros de poemas: Somos pouco todos nós e Minhas horas cristãs.


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CONFRARIA DO POEMA-pn

A carne sa(n)grando
expõe verso impotente.
Do pulso cortado
jorra poesia:
navalha poética.

Meus versos
passeiam pelo shopping:
inspiram.

Trago meus poemas
na bandeja:
degusta-os!

(Nano poemas III, Pinheiro Neto, Poemas à flor da pele, p. 142, 2012)


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Edição 41




HOMENAGEM AO ATOR ÉDIO NUNES

A Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes  entregou no dia 29 de setembro o Troféu Isnard Azevedo ao ator Édio Nunes, em reconhecimento à contribuição dada por ele ao teatro catarinense. A homenagem encerrou a programação do 19º Floripa Teatro – Festival Isnard Azevedo 2012, juntamente com o espetáculo “R&J Shakespeare – Juventude Interrompida”, apresentado pela Sevenx Produções Artísticas (Rio de Janeiro/RJ).

A honraria ao veterano ator Édio Nunes marca também os 50 anos de carreira do integrante e fundador do Armação, um dos grupos teatrais mais antigos em atuação no País.

Do futebol para o teatro

Nascido em Florianópolis, Édio Nunes de Sousa foi, na década de 1970, um talentoso jogador de futebol, com passagens por times como  Juventus e  Palmeiras, e participação em campeonatos catarinenses e brasileiros. Mas, uma fratura no braço e uma lesão no joelho tiraram dos campos, aos 21 anos, a jovem promessa do futebol de salão de Santa Catarina. Entretanto, se o esporte catarinense perdeu um atleta, a cultura pode festejar em 2012 o cinquentenário de carreira de um de seus mais respeitados atores.
A aproximação com o universo das artes iniciou por acaso, aos 18 anos, a partir do convite de colegas do curso de direito da Universidade Federal de Santa Catarina, em 1962, mesmo ano em que entrava na faculdade. Embora desconfiado, Édio aceitou assistir a um ensaio no antigo Tusc (Teatro Universitário de Santa Catarina) e, a partir dali, não largou mais o palco.
A primeira participação teatral ocorreu com a peça “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, no Tusc, onde interpretava um cangaceiro, com direção de Odília Carreirão Ortiga. Com a mesma diretora, encenou também “O Santo Inquérito”. Ao longo de cinco décadas, atuou em mais de 50 espetáculos e outras 40 produções audiovisuais, além de fazer diversas participações em rádio e televisão.
Com passagem pelos grupos de teatro do Sesc, Sesi, Clube 6 de Janeiro, O Dromedário Loquaz e Grupo A, Édio Nunes estabeleceu-se no Grupo Armação, coletivo teatral que ajudou a fundar em 1972 e ao qual está vinculado até hoje. Em 1982, o grupo passou a ocupar um prédio histórico, na Praça 15 de Novembro, onde estreou o espetáculo "Zumbi", de Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal e Edu Lobo, com direção de Oraci Gemba, que foi espetáculo com maior público obtido pelo grupo, e “Os Órfãos de Jânio”, de Millôr Fernandes, com direção do cenógrafo e arquiteto Paulo Rocha (1988/1989 e 1990).
Entre as peças encenadas ao longo da carreira, Édio Nunes destaca ainda "Ana de Jesus - Auto das Cartas", direção e texto de Augusto Sousa, peça encenada com o Grupo Cena 11 (1995); "Sim, Eu Sei", de Fábio Brüggemann, direção de Nando Moraes e participação da atriz Berna Sant'Anna (1992); e "Contestado - A Guerra do Dragão de Fogo contra o Exército Encantado", direção e texto de Antônio Cunha – espetáculo concebido para marcar os 30 anos de criação do Grupo Armação (2003).

Grupo Armação

Criado em 1972, o Grupo Armação estreou em Joaçaba, com o espetáculo “Contestado”, do autor catarinense Romário Borelli, tendo na direção geral Augusto Sousa. O nome foi originado a partir da ideia de carpintaria teatral com um ponto turístico de Florianópolis.
Desde então, o Armação tem mantido atividades ininterruptas, somando cerca de 70 espetáculos de autores da dramaturgia internacional e nacional, dedicando atenção especial à produção teatral catarinense. O grupo circulou por diversos estados e participou de inúmeros festivais, apresentando-se tanto em espaços tradicionais quanto em palcos alternativos, instalados em escolas, ginásios, bares e até em carroceria de caminhões.
Atualmente, o grupo administra o próprio espaço, denominado Casa do Teatro, no centro histórico, transformada em um teatro de bolso, desde 1986. Entre os integrantes do grupo destacam-se Zeula Soares, Ademir Rosa, Sandra Ouriques, Chico de Nez, Antônio Cunha, Waldir Brazil, José Carlos Ramos, entre outros nomes.
O Grupo Armação, que completa 40 anos em 2012, um dos mais antigos em atuação no País, comemora o aniversário, apresentando ao público o espetáculo “Ao Vivo e Em Cores”, inspirado e adaptado a partir das crônicas do jornalista e cronista Sérgio da Costa Ramos. O espetáculo fez parte da programação do 19º Floripa Teatro – Festival Isnard Azevedo.


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ENLACE MATRIMONIAL

O amor
se fez
maior
ser dois
já não podiam

em matrimônio
se uniram
e agora
em antítese amorosa
um apenas.

(Clau Assi in Poemas à flor da pele, vol. 5, Ed. Somar, p. 50, 2012)


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CINECLUBE IEDA BECK AGORA NA FCBADESC


 O Cineclube Ieda Beck está funcionando desde setembro na sala de cinema da Fundação Cultural Badesc, de Florianópolis. Com uma programação voltada para o cinema produzido em Santa Catarina, a primeira sessão do cineclube na sua nova casa ocorreu no dia 19 com exibição de Cine Art 7, os descaminhos da memória, de Phelipe Janning, e Gerlach Cine Desterro, direção coletiva realizada durante oficina de produção do 13ª Catavídeo.

O Ieda Beck foi inaugurado em 26 de março de 2009, no Grupo de
Teatro Armação, na Rua Praça XV de Novembro, com exibição do documentário Luiz Henrique, no Balanço do Mar, uma realização da diretora e produtora que dá nome ao cineclube. Desde então, foram realizadas sessões itinerantes e no Instituto Arco-Íris.

Com foco no curta-metragem, serão privilegiadas sessões temáticas no Ieda Beck. O tema de inauguração da nova casa do cineclube é a memória e homenageia duas salas de cinema importantes para quem procura a cinematografia produzida fora do eixo norteamericano. Cine Art 7, os descaminhos da memória, documenta a última sala de cinema de rua de Florianópolis, que era administrada por Darci Costa e Alberto Ferminiano.

O segundo filme em cartaz, Gerlach Cine Desterro, aborda a história do escritor e cinéfilo Gilberto Gerlach e sua relação com o Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, criado por ele em 1968, e que funcionou durante mais de 25 anos no Centro Integrado de Cultura.
          


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CONFRARIA DO POEMA-pn

O corpo nu
Sob a mesa:
Sobremesa poética.

O corpo jaz
Sobre a mesa:
Lágrimas em verso.

Meu verso nu
Sobre a cama:
Estupro poético.

(Nano poemas II, Pinheiro Neto, Poemas à flor da pele, p. 141, 2012)


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

EDIÇÃO 40







JOEL PACHECO E SEUS ANJOS

     O arquiteto, fotógrafo e programador visual Joel Pacheco convida para sua mais nova exposição fotográfica, “Anjos dos Açores e de Florianópolis”, de 10 a 30 de setembro às 10hs, no Shopping Iguatemi – Piso L2 ­ (Corredor de acesso ao fraldário) – Bairro Santa Mônica - Florianópolis. 
Na longa caminhada da humanidade para sua evolução, a presença dos anjos foi materializada em grande parte nos cenários da arquitetura religiosa.
Esta exposição traz à luz a beleza e a inocência dos anjos captados num olhar atento para algumas imagens fotografadas em ilhas como: Corvo, Santa Maria, Graciosa e Pico; integrantes do arquipélago açoriano em Portugal e anjos da Ilha de Santa Catarina em Florianópolis.
A religiosidade nos Açores é intensa desde o início da povoação. O território é fortemente marcado pela arquitetura religiosa que exerceu desde cedo o papel de proteção da população, além do isolamento caracterizado pelas condições geográficas através do mar que o rodeia e pelas constantes catástrofes como terremotos e erupções vulcânicas.
A presença européia no litoral catarinense data do início do século XVI, quando navegadores de diversas procedências ancoravam em suas duas baías. Um pequeno povoamento começa a partir de 1530, com a fundação das primeiras vilas da costa como: Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis).
Florianópolis recebeu também forte influência religiosa portuguesa com a chegada na região, de cerca de seis mil colonizadores açorianos e meia centena de madeirenses, entre 1748 e 1756.
Ao pesquisar sobre a arquitetura nos Açores, o autor se deparou com as feições carismáticas dos anjos nos diversos edifícios religiosos, o que lhe tocou e remeteu as lembranças do seu anjo da guarda de sua infância.
A beleza dos anjos se mistura a todas as áreas místicas e esotéricas, culturais e religiosas. Os anjos são classificados popularmente como vários tipos, tais  como: Anjo da guarda, Do amor, Curador, Salvador, Guia espiritual, Da coincidência, Co piloto, Incentivador, Da felicidade e prosperidade, Mensageiro, etc..
Tal plasticidade foi o que o autor tentou capturar através das lentes da sua máquina fotográfica, quando impressionado com as diversas expressões e riquezas de detalhes produzidas por verdadeiras obras de arte que transmitiam paz, delicadeza e pureza.
 “As minhas viagens são sempre cheias de surpresas, e eu tentei capturar esses momentos preciosos com devoção e com o olhar ingênuo de uma criança”, conclui Joel Pacheco.

Sobre o autor 
     Nascido em Florianópolis, Joel Pacheco é arquiteto, fotógrafo, programador visual e pesquisador de temas como paisagem, etnografia e cultura popular, em 2004, lançou o livro “Florianópolis a 10ª Ilha dos Açores – O Encontro das Origens” (atualmente na 3ª edição).  
O livro "A Canoa baleeira dos Açores e da Ilha de Santa Catarina" foi lançado em Dezembro de 2009 em Florianópolis e em Julho/Agosto de 2010 nas Ilhas do Faial e do Pico nos Açores/Portugal. Participou também como autor e co-autor de projetos e pesquisas vinculadas ao patrimônio cultural em Florianópolis e Açores/Portugal e ainda de diversos projetos gráficos: “Transporte Coletivo em Florianópolis” (livro); “Florianópolis Memória Urbana” (livro); “Atlas do Município de Florianópolis” (livro); “Fortalezas em Santa Catarina” (obra em CD rom); “Guia Digital, Caminhos e Trilhas de Florianópolis” (livro e CD rom); “Fortes da Cidade”; “Roteiros do Ambiente”; “Circuito Cultural de Florianópolis”; “Construir Cultura” (livro). Realizou várias exposições fotográficas e publicou diversas séries de imagens em livros, revistas, cartões postais e telefônicos no Brasil, Portugal e Canadá.

Ficha técnica
     A exposição é composta por 11 fotografias coloridas com tamanho 30x45 centímetros montadas sobre molduras douradas e vidro de 50x65 centímetros, sendo 5 imagens dos Açores e 6 imagens de Florianópolis e complementada por um banner de 50x120 centímetros de apresentação, contendo informações sobre a exposição.
    
OBS. As obras serão comercializadas com moldura ao preço de R$450,00 cada unidade.

Contatos:
 (48) 9971-4143


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A FLOR QUE ROÇA A PELE

contrai nervos
explode suores
versos brotam oscilam
entre o retrato e o sonho
infindos vestidos de infinito
à janela um luar enorme
céu pontilhado de estrelas
caem prata e úmidos
sobre a derme
que vibra intensa
libertando-se em poesia.

(Soninha Porto in Poemas à flor da pele, vol. 5, Ed. Somar, 2012)


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FUNCINE FAZ 23 ANOS  E LANÇA 4 FILMES


            O Fundo Municipal de Cinema de Florianópolis (Funcine) comemora 23 anos dia 14 de setembro, sexta-feira, às 20 horas, no Teatro da Ubro, em Florianópolis, com o lançamento de quatro filmes. Além da sessão de pré-estreias, serão abertas as inscrições para o concurso de vinhetas da entidade.
            Vão ser lançados os filmes Documentário, de Rafael Schlichting, Vento Sul, de Renan Cabral Fontana, O Travesseiro de Penas, de Jefferson Bittencourt, e Eles foram por ali, de Gabriel Bueno Almeida. Será exibido também Linha do Mar, de Felipe Vernizzi, que teve pré-estreia no dia 5 de setembro. Todos foram premiados e realizados com recursos do edital Armando Carreirão, do Funcine..
            Documentário apresenta depoimentos e encenações sobre o processo estético do diretor de cinema Rogério Sganzerla, O Travesseiro de Penas é sobre Alicia e Jordan, um casamento, memórias e uma doença desconhecida, Eles foram por ali faz uma breve imersão na cultura do graffiti de Florianópolis, e Vento Sul trata da revisão irônica de uma mulher sobre sua vida como bruxa. Linha do Mar fala de um personagem que foge durante a noite para dormir na areia da praia.
            O concurso da vinheta da entidade vai premiar o vencedor com R$ 3 mil. Os concorrentes devem entregar três versões, com 30, 15 e 5 segundos de duração. O vídeo será usado como imagem institucional nos eventos patrocinados pelo Funcine. Mais informações poderão ser obtidas em no sitewww.pmf.sc.gov.br/entidades/funcine a partir do dia 14 de setembro.
            Segundo Cláudia Cárdenas, presidente do Funcine, a entidade está preparando um boxe com 20 filmes realizados no período de 2004 a 2009, premiados pelo edital Armando Carreirão. Serão três DVDs, com tiragem de mil exemplares, e distribuição para as escolas públicas municipais de Florianópolis e cineclubes e pontos de cultura de Santa Catarina.
            O edital de cinema do Funcine, que premia anualmente oito projetos de curtas com um valor total de R$ 250 mil, é a principal ação da entidade de fomento ao cinema. Entre os curtas financiados pelo prêmio, estão Qual queijo você quer, de Cíntia Domit Bittar, que foi selecionado para 28 festivais, acumula 12 Prêmios e faz atualmente uma carreira internacional, e O Gigante, de Igor Pitta, recentemente concluído e ainda inédito, com seleção confirmada para o Festival de Málaga (Espanha), Festival Lucas (Alemanha), Festival de Cine de Bogotá (Colômbia) e para quatro festivais brasileiros, entre eles o Festival de Brasília.

  

OS FILMES

“documentário”, de Rafael Favareto Schlichting (Documentário/20’/2012/Joaçaba/SC, São Paulo/SP e Rio de Janeiro/RJ)
Sinopse: Documentário de depoimentos e encenações sobre o processo estético do diretor de cinema Rogério Sganzerla. Com Albino Sganzerla, Angelo Sganzerla, Zenaide Sganzerla Filha, Zenaide Sganzerla, Gilberto Gil, Carlos Ebert, Arrigo Barnabé, Jorge Mautner, Guilherme de Almeida Prado, Péricles Cavalcanti (entrevistados) e Gabrielle Lopes, Theo Castilho, Renata Fasanella, Alexandro Marques, Guilherme Baumgart, Ezequiel Machado, Dan Rossetto, Julio Martí, Breno Cavalcanti, Ingrid Lima e Janete Lindani (atores).

“O Travesseiro de Penas”, de  Jefferson Bittencourt dos Santos (Ficção/20'/2012/Florianópolis/SC)
Sinopse: Alicia e Jordan se casam e descobrem uma felicidade que ainda não conheciam. Mas apenas três meses depois, ela desenvolve uma desconhecida doença. Neste lento processo, misturam-se as memórias de Alicia com os tormentos de Jordan por se sentir impotente frente àquela situação. E um desfecho inesperado ainda está para acontecer

“Eles foram por ali”, de Gabriel Bueno Almeida (Documentário/23’/2012/Florianópolis/SC)
Na beira da praia ou numa viela entre prédios. À luz do dia – exposto aos olhares curiosos – ou de madrugada, instigado pela contraversão e afirmando a sua ilegalidade. Este documentário procura proporcionar ao espectador uma breve imersão na cultura do graffiti de Florianópolis, a partir de conversas e “rolês” com os praticantes dessa subcultura.


“Vento Sul ”, de Renan Cabral Fontana (Ficção/16’/2012/Florianópolis/SC)
Uma velha se joga do penhasco e vê a vida passar diante de seus olhos. De um parto macabro até o conflito com a comunidade na vida adulta, ela faz uma revisão irônica de sua vida como bruxa ilhoa.


“Linha do Mar”, direção de  Felipe Vernizzi
(Ficção/20’/2012/Florianópolis) (estou aguardando nova sinopse)
André é uma criança de seis anos de idade que mora próximo ao mar. Sonâmbulo, todas as noites ele foge em direção a praia, onde se deita na areia. Julia, a mãe de André, passa  redobrar a atenção com ele e levando ela criar uma estratégia para perceber as fugas do filho. Durante o sono do filho ela amarra um barbante entre os dois, percebendo assim a sua saída e lhe dando proteção. A história da um salto de quase 30 anos, André agora vive em uma metrópole, trabalha em uma grande empresa e tem uma família. Apesar de não ser mais sonâmbulo, ele tem sonhos frequentes com o mar qual passou sua infância, e esses sonhos o perturbam como se eles apontassem um vínculo importante perdido em sua vida. André decide ir à praia de sua infância com a família. 

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CONFRARIA DO POEMA-pn

A cada dia
mais nos conhecemos
a cada instante
mais nos adentramos.

O gozo é mais pleno
os corpos são mais um
os desejos mais perfeitos
as aventuras mais ousadas.

Somos mais nós
a cada dia:
o amor e a posse
a doação e o egoísmo
o orgasmo e a morte.

(Dia a dia, Pinheiro Neto/ Poemas reunidos, p. 183, 2012)


domingo, 2 de setembro de 2012

Edição 39





A POESIA FEITA ESPUMA EM SAMPA


No dia 17 ultimo tive a oportunidade ímpar de assistir no  Teatro Madame (antigo Madame Satã), na capital paulista, a peça “São Paulo surrealista 2: A poesia feita espuma”. Foi algo imediato, sem planejamento ou combinação. Tínhamos terminado a reunião com a Coordenação da Associação Poemas à Flor da Pele no Centro Cultural lá pelas vinte horas e a Célia Abila, perguntou o que iríamos fazer em seguida, falando-nos da peça em questão. Estávamos todos sem programa específico, o que nos fez aceitar o convite na hora. Rachamos um taxi e nos dirigimos para o Teatro.

Como chegamos cedo – a peça só começaria às 21 horas – procuramos um local para comer (e beber, é claro) alguma coisa. Percorremos a redondeza e nos deparamos com alguns bares onde os clientes estavam mais preocupados em beber cachaça e criar caso do que conversar sobre teatro ou literatura. Quase desistindo, voltamos para a frente do Teatro e, ao olharmos para o outro lado da rua, nos deparamos com uma mini lancheria exatamente com quatro mesinhas, por sinal, todas ocupadas. Observamos que a clientela que lá estava tinha como objetivo assistir a mesma peça que nós. Como não havia mais mesa, o garçom improvisou uma mesinha com um latão virado de boca para cima e um isopor redondo dentro. Excelente: comemos um belíssimo sanduíche e tomamos umas 5 ou 6 cervejas e estávamos prontos para a peça.

“Os poetas estão mortos. A população foi amansada na cidade onde nada mais é permitido. Só existe uma possibilidade de reparo: a palavra poética. A cidade que pariu e sufocou o poeta Roberto Piva treme com mais um ano eleitoral, como se isso importasse. Apelamos para a nova partícula descoberta e mandamos o Piva conversar com Deus, mas ele estava bêbado e tocando banjo. Em virtude desses acontecimentos, nos manifestamos solicitando: 1- a imediata transformação do Marco Zero e dos Shopping Centers em termas de livre acesso, pela localização estrategicamente privilegiada e espaço suficiente para receber jovens em idade de curiosidade; 2- jaulas para os fiéis que praticam homofobia caridosa; 3- reflorestamento do Memorial da América Latina; 4- adoção da obra de Rimbaud nas escolas para adolescentes e feijoada na merenda; 5- caixas de som tocando Villa-Lobos na Avenida Paulista; 6- livros de poesia Beat ao lado de microfones a cada dois quarteirões, para que o cidadão possa parar e ler em voz alta durante seu trajeto; 7- atualização periódica do “Necrológio” de poetas e artistas inteligentes; 8- teatro-samba; 9- taças de vinho distribuídas gratuitamente nos escritórios e agências bancárias.

Essas, entre outras solicitações que o espectador pode sugerir, contribuindo para que a vida recupere sua vocação sensual e lírica, são nossas propostas para cada apresentação de “São Paulo Surrealista 2: A Poesia Feita Espuma”, onde homenageamos a cidade eternamente escondida pela hipocrisia e pelas leis corroedoras da felicidade.”

O espetáculo muito bem encenado por um grupo de competentes jovens atores, promove a interação constante com a platéia e se coloca enquanto um ritual, não estando, portanto, sujeito às ações proibitivas da lógica ou da moral. Mortos e vivos caminham lado a lado em cena construindo a mística da capital surrealista do Brasil.

Cabe ressaltar que a peça apresenta como curador poético e suporte teórico o escritor Cláudio Willer que, em dado momento participa dela ativamente  fazendo a leitura de um texto por ele produzido. Parabéns a todos e a cada um dos integrantes do grupo e aí vai o endereço para quem estiver interessado em fazer contato: www.teatrodoincendio.com.br

Terminado o espetáculo, encontrando uma certa dificuldade em conseguir um taxi, compartilhamos o que o titular do blog Cronópios conseguira por telefone. Fomos embora de carona a Célia Abila, ele, eu e a Olívia, uma senhorinha, amiga do Cláudio Willer há mais de 50 anos que, corajosamente, viera desacompanhada até o Bairro Bela Vista para prestigiar o espetáculo e aquele escritor. (pn/2012)

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SALMO PARA O BEM AMADO

Imprecauções não ergo e sim ditirambos
e sim aleluias
e sim hosanas
às pedras e às dores do caminho.
Onde está a harpa do rei David
onde estão as cítaras hebréias
onde está Sulamita
e onde as virgens loucas?
A todas essas cordas e bocas eu conclamo
a todas ao meu lado quero
para ajudarem a bendizer a tormenta
que me arrebatou a primavera,
as geenas que padeci,
as pedras e as dores, as lutas e as revoltas,
a bendizê-las
porque foram elas que me aproximaram de ti.

(Maura de Senna Pereira [1904-Florianópolis a 1991-Rio de Janeiro], Sete Poemas de Amor, Ed. Sanfona, 1985)


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A POESIA NOS SEIS ANOS DA POEMAS


Afirmar que a poesia não tem mais lugar na vida das pessoas neste nosso mundo nanociberfacebloglobalizado é, no mínimo, uma sandice! Que a falta de tempo, a luta por sobrevivência, conflitos sócio-político-ideológicos, mobilidade urbana, violência, insegurança, drogas, educação, saúde e inúmeros outros problemas tornam o homem diuturnamente insensível, inapto para captar a beleza que está posta ao seu redor, é pior ainda.

Nunca se escreveu tanto, se leu tanto, se declamou tanto, se debateu tanto, se compartilhou tanto poesia como nos dias de hoje. De norte a sul de todos os países e principalmente do nosso, proliferam grupos, associações, academias, confrarias, cujo objeto de ação é a poesia. Nas esquinas e nos sinaleiros inúmeros divulgadores anônimos de seus escritos poéticos os distribuem na ânsia muito mais da leitura de quem os recebe do que das poucas moedas que lhes são oferecidas.

Poetas iniciantes com ou sem livros publicados, poetas consagrados, poetas de coletâneas, poetas de blogs ou do facebook, todos de alguma maneira vêm contribuindo para provar que o poema é e sempre será o gênero literário mais leve e ao mesmo tempo mais sério e preciso de levar poesia à alma das pessoas.

E o que a “Poemas à Flor da Pele” tem a ver com esse cenário? Tudo!

Criado em 2006 enquanto movimento de divulgação poética através do Orkut, “Poemas à Flor da Pele” vem se consolidando como um dos mais sólidos e dinâmicos espaços de agregação de poetas e de promoção de atividades culturais, artísticas e sociais, reconhecido em todos os continentes. Foram tantas as participações em eventos, feiras e bienais, promoções e co-promoções, edições de livros e e-books, que o grupo houve por bem oficializar o movimento, transformando-o em uma Associação Cultural.

À frente de todo esse processo está sua idealizadora e Coordenadora, a dinâmica escritora e promotora cultural Sonia Ferrarezi, mais conhecida como Soninha Porto. Seu trabalho hercúleo vem projetando nacional e internacionalmente não apenas o objeto de trabalho da Poemas, a nova poesia, mas e principalmente os poetas que integram o movimento e a Associação e que são o alicerce de tudo o que a Poemas planeja e executa. A garra e a competência de Soninha à frente da Associação tem contribuído para uma diminuição da (ainda) enorme distância entre escritor/poeta e aluno/leitor, uma vez que as atividades programadas e realizadas pela Poemas sempre tem levado em consideração a aproximação com escolas, professores e alunos.

Sabemos que nossas escolas toleram o que chamo de “livres incursões imaginárias” apenas no período da pré-escola ao trabalhar a educação sensorial. Após essa fase, a tendência é reprimir qualquer manifestação que esteja fora da linguagem articulada. Sabemos também que os cursos de formação de professores de Língua e Literatura no Brasil não “perdem tempo” com o ensino da poesia. Isto posto, como esperar que os alunos que se formarão professores aprendam a gostar e a trabalhar a Língua através desse gênero literário?

É preciso iniciar um processo sistematizado de desmistificação da poesia, quer no âmbito da formação dos professores, quer na formação dos alunos, principalmente no primeiro e no segundo grau.

De uma maneira geral, acredito ser necessário pensar em um ensino da poesia nas escolas que traga como alvo: o desenvolvimento do poder criador da criança; o desenvolvimento do poder criador da criança; o desenvolvimento da imaginação e da sensibilidade; a iniciação da criança no contexto da arte em geral, além da formação do sentido estético dessa criança.

Acredito também que a escola não poderá dar conta disso sozinha. Será preciso aliar-se, aparceirar-se com instituições que congregam poetas e estudiosos da poesia especificamente e da literatura como um todo, a fim de romper o academicismo intransigente e ultrapassado e deixar a criança, o estudante aprender a “escutar o ritmo do mar”, o que hoje só é permitido aos Poetas.

E é aí que entra o trabalho que vem sendo desenvolvido com competência e perseverança pela Associação Cultural Poemas à Flor da Pele durante esses seus seis belos anos de existência. Trabalho esse que é coroado com esta nova produção da Editora Somar. (pn/2012)

(PRÓXIMO LANÇAMENTO: Feira do Livro de Porto Alegre, dia 03 de novembro, das 18 às 22 horas)


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NOVÍSSIMOS (Poetas)

I – BLIMER

Largue a mão, estamos adiante
O acaso é mais belo que a história
Pois tudo é impalpável
Rastejando estou, aqui e agora
Sem amor, sem orgulho.

Porque fedes tanto, oh rio de dejetos?
Seja fostes tão belo
Quanto à recente arte inconseqüente,
É porque tudo foi traduzido cruelmente
Dentro dos sentidos dos olfatos em ação.

(Blimer, A eplepsia dos bastardos, 06/07/2012)

II – ADRIANA LEAL

São apenas sonhos...
Que levam a um mundo imaginário,
De encontro aos mais íntimos desejos...
Às vezes, tão profanos e tão puros...
Tão reais que se sente e se perde ao inventar.
O passeio pelo corpo faz calar
E num olhar invasor, faz tremer.
Delírio das longas noites quentes...
Sombra de um viver, deixa amar!

(Adriana Leal, Noite quente, do livro “Fechei os olhos para me ver”,2012, sobre o qual comentarei em brevemente)

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VALENTIN


            Com uma carreira de prêmios em festivais, o filme Valentin, de Alejandro Agresti, esteve em cartaz no dia 28 de agosto, às 20h, no Cineclube Pitangueira, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis. O longa faz parte da programação do Ciclo de Cinema Argentino. A indicação classificativa é de 12 anos e a entrada é gratuita.

O filme é ambientado na Buenos Aires de 1960. Valentin (Rodrigo Noya) é um menino de nove anos que mora com sua avó (Carmen Maura), já que seu pai vive ocupado trabalhando e sua mãe está desaparecida desde a separação de seus pais. Solitário, Valentin divide seu tempo sonhando ser um astronauta e ouvindo as histórias contadas por sua avó.

Seu grande sonho é conhecer sua mãe, mas seu pai se irrita só de ouvir a simples menção do nome dela. Valentin passa a acreditar que possa ter enfim uma mãe quando conhece Leticia, a mais nova namorada de seu pai.

O Cineclube Pitangueira é uma realização da Cinemateca Catarinense e do Fundo Municipal de Cinema com o apoio da Prefeitura. Municipal de Florianópolis e da Fundação Franklin Cascaes.



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CONFRARIA DO POEMA-pn

A lifetime together
another live separated.
We are different:
while young
-vivid and eager-
without sentiments.

Now we are old,
sand inside the hourglass
fast going down
-by the gullet-
death exorcize.

(Poema Esparso/ Uma vida juntos/outra vida separados./Somos diferentes:/enquanto moços/ - vívidos e ávidos - / sem sentimentos./ Agora velhos,/ areia da ampulheta/ descendo rápido/ - goela abaixo -/ exorcismo de morte.)

 (Scattered Poem X- Pinheiro Neto/ Translation by Terezinka Pereira/2012)