PAPO NA CONFRARIA: MOACIR PEREIRA
1-O que te motivou a escrever?
No jornalismo, o prazer de comunicar e
multiplicar aquilo que é de
interesse público, denunciando o ilegal e promovendo o positivo, tendo o reconhecimento pela audiência
ou pelos gratificantes depoimentos. Nos
livros, a incomparável satisfação de resgatar fatos e personagens, deixando para
as novas gerações temas da história ou da conjuntura que devem permanecer na
memória do Estado.
2-Cite três livros (e respectivos autores) mais significativos
em tua vida.
D. Quixote, de Cervantes; D. Casmurro, de
Machado de Assis; História de Santa Catarina, de Oswaldo Rodrigues Cabral.
3-Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de:
Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior.
a) Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª
séries)
A
Ilha”, de Virgílio Várzea
b) Alunos do Ensino Médio
D. Quixote, de Cervantes
c) Alunos do Ensino Superior
Guerreiros de Deus”, de James Reston Jr.
4-Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?
Na atividade jornalística, em cima dos acontecimentos,
testemunhando-os, de preferência. Redigindo
o texto seco, objetivo. Ou analisando fatos de interesse maior da
população. Na elaboração de
livros, com dados pesquisados, entrevistas, biblioteca ao redor e dicionário ao
lado.
5-Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado
à literatura.
Inexiste em Santa Catarina uma política
pública de incentivo à literatura e aos escritores, o que é profundamente
lamentável. Um Estado que é
a sexta economia do Brasil poderia ter uma presença mais produtiva e rica na
literatura. Na área
privada, há um destaque que merece registro: o grupo Tractebel, que apoia
editores, escritores e eventos artísticos e culturais da Capital e do
Estado. É merecedor do
melhor prêmio entre os incentivadores.
6- Fale sobre o papel
das Academias de Letras em relação à Língua e à Literatura.
Manifesto frustração em relação às atividades da
Academia. Imaginava a realização de ricos debates sobre a literatura
catarinense, palestras sobre literatura nacional e internacional, tendências
literárias. Sonhei muito
com apreciações sobre os “best sellers”, sobre
os melhores filmes e as músicas que mais tocam nossa alma.
(*)
Ocupante da Cadeira 03 da Academia Catarinense de Letras.
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PASSAREI PASSARÃO PASSARÁ
uma crença
:
eles crescem
criam asas
deixam vazio
o ninho
por incrível
que pareça
são crianças
esses filhos
passarinhos
crias aladas
criadas no bico
desde petizes
com certeza
são aves
azes
‘voáveis’
garças a deus
(Valéria Tarelho, in Agenda da Tribo,
2013/14)
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AVENCAS E CEDRO (*)
Quem conhece flores e folhagens sabe
distinguir uma avenca de outras folhagens. Para quem não sabe posso afirmar
que, de todos os tipos de folhagens, a avenca é oque se pode comparar a delicadeza
e ternura. É uma planta que prefere locais onde haja bastante sombra e umidade,
portanto, é muito recatada...
Anos atrás, usava-se avencas na
complementação de ramalhetes de rosas, cravos e violetas de Parma, quando a
violeta africana, que conhecemos hoje, em vasinhos e com diversas cores não
era, ainda, cultivada por aqui. Os delicados galhos de avencas guarneciam,
também, os tradicionais buquês de noivas.
Como quase tudo na vida encontra um
contraste, um paradoxo, lembrei-me de uma flor que praticamente se defronta com
a avenca o que se refere a delicadeza. Não se trata da vitória régia, enorme
planta da Amazônia. Refiro-me à flor do cedro.
O cedro é uma enorme árvore, cuja
madeira é muito usada na fabricação de casas e mobiliário, sendo uma das “madeiras
de lei”. No entanto, poucas pessoas sabem sobre suas flores. Por se tratar de
uma planta hermafrodita, não possui pólen para
sua propagação. As flores, de madeira, são formadas em cachos e caem ao
chão quando as cápsulas (botões) se abrem em cinco pétalas e um maciço miolo.
De uma beleza grosseira e inodora a
flor do cedro contrasta com a quase diáfana avenca, cada qual com uma beleza
peculiar.
Quantas avencas e flores de cedro
encontramos na nossa vida, não é mesmo?
Pessoas com delicadeza, sensibilidade e modéstia que, muitas vezes
permanecem na sombra, não sobressaindo dos demais, e, no entanto, sendo
apreciados e valorizados, apesar de seu quase anonimato.
Em contra partida, aqueles mais
fortes, embora não os mais bonitos, fazem sua parte e conservam-se distantes, como os altos
cedros, praticamente no anonimato, nem sempre sutis ou diplomáticos, mas estão
sempre ao nosso lado nas horas de aperto.
E você, está na categoria da avenca ou
do cedro? É bom dar uma verificada...
(*)
Ivonita Di Concílio
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DO
ARCO-ÍRIS
Desvairada,
a varanda
como os
olhos assistentes
de um
arco-íris que ora,
ora sem
terço, insistente.
No terço
de uma hora,
sete tons
invasivos,
evasivos,
sem demora,
deixam
penitente a varanda
isenta do
colorido
já outrora.
Damaris Lopes, Poemas à Flor da Pele vol. 7, Somar, p. 46, 2013)
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ARTÊMIO ZANON, DEZ ANOS NA ACL
Há
exatamente dez anos o escritor Artêmio Zanon ingressava na Academia Catarinense
de Letras. Sua produção em prosa e verso bem como sua presença marcante na vida
literária do Estado através de atuação em várias instituições culturais e
profissionais, principalmente, na Diretoria da Associação Catarinense de
Escritores – ACEs, o credenciaram para que tal acontecesse.
Na minha opinião, Artêmio Zanon (mesmo
antes de sua posse) preenche todos os requisitos necessários a um membro da
Academia Catarinense de Letras: 1) conhece, defende e vivencia o que diz o Estatuto da Casa; 2) incorporou
seu objetivo maior, “... cultivar
a Língua Vernácula e defender os valores da cultura nacional e estadual,
especialmente no campo literário...”; 3) tem consciência de que para tanto é
preciso, antes de qualquer coisa, ser escritor (escrever e publicar literatura:
romance, novela, conto, crônica, poemas; produzir pesquisas, ensaios, estudos,
críticas sobre artes plásticas, literatura, folclore, cinema, história,
cotidiano, cultura enfim); 4) eleito e
empossado, assumiu compromisso com a instituição participando cotidianamente de
suas atividades, conhecendo e cumprindo seus direitos e deveres, destaque para
“presença às sessões e estar em dia com as contribuições ou outros encargos
fixados pela Assembleia”. Por outro lado, como eu, tem clareza que: a) é
prudente menos empáfia e mais humildade e companheirismo; b) não basta apenas
ostentar o título, a medalha e marcar presença nos eventos mais solenes e
“pomposos”, deixando nos ombros de poucos a responsabilidade de resolver
sozinhos os inúmeros problemas da Casa; c) é preciso ter consciência da
imortalidade acadêmica, não esquecendo, em nenhum momento, a mortalidade do
acadêmico.
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FOLHA EM BRANCO
Meus versos não dizem nada
e a este grito surdo
só o abismo lhe responde
em bramidos de solidão
que farfalham sem rimas
nem ecos.
(Clau Assi, Poemas à flor de pele, vol. 7, Somar, p. 37, 2013)
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CLEBER TEIXEIRA E A MÁQUINA
Dia
03 de dezembro, terça-feira, às 19 horas, aconteceu na Fundação Cultural Badesc
a pré-estreia do documentário “Cleber e a Máquina”, dirigido por Rosana
Cacciatore. O filme conta a história do poeta, editor e tipógrafo Cleber
Teixeira. Durante um ano, a cineasta entrevistou personalidades com quem Cleber
compartilhou a vida e o trabalho como o poeta Augusto de Campos, o músico Vitor
Ramil, o artista plástico Jayro Schmidt, o crítico literário Raúl Antelo, entre
outros.
É através de uma máquina impressora tipográfica do século XIX,
que pertencera à família de Rosana Cacciatore, que a diretora se aproxima do
“poeta-tipógrafo-editor-visionário Cleber Teixeira”, como se refere a ele o
poeta Augusto de Campos. Cleber aceita o desafio de recuperar a máquina que
permaneceu 40 anos em silêncio. Este acontecimento constrói uma narrativa que
permite o desvendamento do mundo do artista/artífice singular.
‘Aprendiz de trovador’, como se autodenominava, Cleber Teixeira
nasceu em Jacarepaguá no Rio de Janeiro. Mas foi em Florianópolis que editou e
escreveu a maior parte de seus livros. A Noa Noa, sua editora é referência na
publicação de traduções cuidadas para o português. Figuram entre elas a
tradução dos irmãos Campos para poemas do francês Stéphane Mallarmé, uma
iniciativa inédita no país. Cleber também publicou traduções de e.e. cummings,
Gertrude Stein, Emily Dickinson por José Paulo Paes, Rosaura Eichenberge e
outros grandes tradutores brasileiros.
Cleber não era apenas editor e tipógrafo. “Armadura, Espada,
Cavalo e Fé” é sua obra poética de maior fôlego. São fragmentos espalhados por
diversos livros, em edições compostas e impressas manualmente, com requinte
gráfico, ilustradas e com tiragem reduzida, como a maioria dos títulos
publicados pela Noa Noa.
O documentário “Cleber e a máquina” foi contemplado em 2011 com
o Prêmio Catarinense de Cinema, que garantiu recursos para que o filme fosse
rodado. Quem ainda não assistiu, recomendo que o faça sem demora. Vale a pena.
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CONFRARIA DO POEMA-pn
I
Guerreiros olhos
espreitam as sombras
as matas-mosquetes.
Valentia negra
sobrepuja o inimigo,
socorre a irmandade.
Pés de sola branca
com históricos sulcos
dançam o balé do sonho.
II
Zumbi(ndo) nos ouvidos
o surdo som da chibata,
gazélicas pernas ziguezagueiam
errantes à procura do quilombo.
Soltando grilhões e amarras
socorre, ajuda, esconde,
alivia a dor do irmão.
Força (in)humana sufoca ganância,
fragilidade animal liberta vontades,
rompe preconceitos
entrega-se prazer.
III
Tam tam dos tambores
no centro do quilombo,
faz esquecer por instantes
ferro em brasa, grilhões e tronco.
Tam tam dos tambores
pés, terra, poeira e requebro;
Tornam livres, por instantes,
negros iguais humanos.
Tam tam dos tambores
Zumb(i)em ainda hoje
- trezentos anos depois –
colonizador ouvido branco.
( ZUMBI(ANOS)DOR,
Pinheiro Neto, Poemas Reunidos, 2010)
- Moacir Pereira: excelente entrevista. Realmente nossa ABL deixa a desejar.
ResponderExcluir- Valéria Tarelho: talento!
- Avenca ou cedro? depende da situação.
- Damaris Lopes e Clau Assi: aplausos sem retores!
- Confraria do Poema-pn: sempre atento à cultura de Santa Catarina e poesia que nos remete aos quilombos e seus cantos.
Parabéns, Pinheiro Neto!
Pinheiro Neto, muito me honra estar no seu espaço. Parabéns pelo trabalho incansável! Obrigada por tudo de bom que nos oferece.
ResponderExcluirbeijo ternurento
Clau Assi