quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Edição nº. 74/75

PAPO NA CONFRARIA: LUIZ ANTÔNIO CARDOSO






1 – O que te motivou a escrever?

A motivação surgiu com a possibilidade de registrar parte da Memória das atividades de Prevenção de Incêndios, das quais participei por 20 anos, enquanto servia no Corpo de Bombeiros de Santa Catarina.

2 – Cite 3 livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida.

Os 3 livros mais significativos, que li durante a adolescência:

    - Como era verde o meu Vale: Richard Llewellyn;
    - Por quem os sinos dobram?: Ernest Hemingway;
    - Olhai os lírios do campo: Érico Veríssimo.

3 – Indique um livro (Literatura Brasileira) para a leitura de:

a)   Alunos do Ensino Fundamental: O Guarani- em quadrinhos (José de Alencar)

b)   Alunos do Ensino Médio: Verde vale (Urda Alice Klueger)


c)   Alunos do Ensino Superior: Senhora (José de Alencar)

4 – Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?

Durante a semana procuro organizar um fluxo de produção que não dispute espaço na agenda com outros compromissos, evitando sentar para escrever e ficar controlando o relógio para não perder os compromissos. No final de semana, inverto a lógica, insiro outras atividades nos intervalos de tempo, para oxigenar a mente.

5 – Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.

Numa pátria que se diz “Educadora” é vergonhoso falar sobre o apoio do setor público, que cobra impostos sobre produções e aquisições de obras literárias; quanto ao setor privado, ainda está longe o engajamento de grupos que invistam na literatura, sem que lhes sejam oferecidas vantagens financeiras. Ler e escrever custa caro e desestimulam os investimentos pessoais.

6 – Fale sobre o papel das Academias de Letras em relação à Língua e à Literatura.

Em relação à Língua e à Literatura, o papel das Academias de Letras deve ser o de estimular seus membros a produzir obras que resgatem a memória de grupos e organizações, um legado histórico para as futuras gerações, entre as produções de fantasias literárias.


SOBRE O ENTREVISTADO


Luiz Antônio Cardoso é membro da Academia de Letras dos Militares Estaduais de Santa Catarina, onde ocupa a cadeira número 23. É Coronel da Reserva da Polícia Militar de Santa Catarina.




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DA SÉRIE “POETAS MULHERES” – 14 - JE SUIS POEMA






                                    [ FRIDA THALLO, UMA POETA QUE URGE]

POEMA 1              

O verso
mágico,
másculo,
deixa transparecer
o tu feminino.

Enquanto eu
- fêmea faminta –
enclausuro desejos
na moldura da sala.

[Frida Thallo, 2013, especial para Confraria da Leitura-pn]


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CAMINHO

Porque há passos errados
- não deixo o caminho certo
não traio os órfãos da terra
não largo a estrela no chão

Porque há passos que voltam
- não vou cortejar a noite
não vou negar que a sufocam
as lentas faixas da aurora

Recuso jade no colo
pedras raras nos cabelos:
caminho de pés descalços
e vestida de agapantos

Porque há passos errados
- meus passos sejam mais firmes
mais alto seja o meu canto
mais alta a estrela na mão

[Maura de Senna Pereira, A dríade e os dardos, Livraria São José, Rio de Janeiro, 1978, p. 53]


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águas medicinais

logo viajo
para o lado
que houver
lago 
rio 
mar
carinhos 
termais
[quiça
em um dia
de chuva 
intensa
eu vá
liquidar
a seca
intrínseca]
preciso
- umidamente -
afagar
as mágoas

[Valeria Tarelho, 27/07/2015, Facebook, São José dos Campos]


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HORAS FUGIDIAS

Nas horas fugidias que aparecem
Como aromas de ventos passados
Percebemos o som de rebentos
Das marés vazias de todos os lados.

Ainda procuramos e tentamos
Carícias e alentos dos amores
Sonhos emoções e cargas de anseios
Para fazer da vida um recreio.

Alternamos a direção dos caminhos
Abrimos restas de altas nuvens
Tudo será contentamento neste desejo
Como o infinito som de uma rocha.

[Vani Campos, Relicário, Somar, Porto alegre, 2014, p. 26]



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ROMANCE DOMÉSTICO

Fazer da alma
Uma nuvem.
Contar os pingos,
Pingar
Sopa de contos estelados
Sem ovos quebrados
Ou ruídos de passos.

Que fazer com os homens?
São machos apenas
Quando entram no cio.

[ Rita Raphael, Da sedução da intimidade do mundo, Cepec editora, Florianópolis, 1988, p.17]



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FLORES CIRCULARES
criar a fuga da consagração erótica
alimentar seu grande pássaro
provocar sua expressão de cervo, de lobo e de serpente
abrir o mistério do seu olho cinza
a asa adornada pela pluma viva
sabendo que o voo nunca é cerebral
pois existe entre nós um ritual xamânico
*
ouvir o crepitar do fogo
sentir o cheiro do cedro e da melissa
mergulhar num lago de vitória-régia
enquanto tento segurar os peixes e as palavras
a indefinição dos nomes
mordendo a maçã dos lóbulos das suas orelhas
comendo no espaço dos dedos o Aleph dos magos
o rumor das narrativas dos dias circulares
onde a manhã fecha-se sobre as nossas tardes
num oceano de vinho e de sorrisos
numa fonte monossilábica
num copo de amor de vidro transparente
num desejo líquido que vem do alto do Himalaia
escorrendo como a neve derretida
a ilusão do gozo
o erotismo solúvel do seu corpo
onde existem tantas mulheres
que estiveram ali antes de mim
*
sei que elas ainda se deitam no seu peito
e com sandálias de címbalos
dançam sobre uma ponte amorosa
onde passamos o tempo flutuante
ao encontro da pele
ao encontro das flores de veludo
que nascem da provocação de um jardim
permanentemente incendiado

[Célia Musilli, SP, Facebook, 30/07/2015]


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A FLUTA MUDA
(Encontro relâmpago)


na saída
tua mão agarra meu nariz
tirito ainda da ópera gelada
o comboio da dor desce pelos bairros destreinados
horas altas e a mãozinha a sacudir esse nariz
em saudação
Do vagão inexpressão viaduto
tremo sem libreto


[ Ana Cristina César, Poética, Companhia das Letras, 2013, p.213]



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O meu amor



Não é rio, o meu amor;
antes, lago.

Não corre em leito vário,
musgo, pedra, calcário.
Estanca-se em área precisa,
superfície constante e lisa.

Não se atira em corredeira,
em leviana carreira incauta.
Firme permanece. Perdura
na mais segura contenção.

Não busca paisagens diversas,
vistas de relance, às pressas.
Contempla uma única imagem,
perscruta sua íntima roupagem.

Não viaja margens paralelas,
nem a terceira nele se insinua.
Circunjaz em vítrea redoma,
em lúcido leito de luz flutua.

Abissal, em lapa profunda
mergulha o meu amor.
Deixa-se estar estático
para em si só ser:

aquoso olho da Terra a me espiar,
broquel translúcido a me guardar,
espelho onde dançam, à revelia,
as estrelas-meninas da minha alegria.

  
[Iris Guimarães Borges, via emeio/2015]





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LI E RECOMENDO (13)


ASSASSINATO AO LUAR é o novo livro de contos de Raul Caldas Filho, um dos escritores catarinenses atuais de  grande significação literária na área da prosa nacional. Também cronista de mão cheia, Raul é um daqueles escritores que costuma surpreender a cada novo projeto, a cada nova história.

Desta vez são quinze narrativas de temática variada onde as intrigas transcorrem em diferentes épocas com os personagens envolvidos em situações conflitantes ou insólitas. O leitor encontrará fortes doses de erotismo, em relatos nos quais se misturam inquietações adolescentes, paixões proibidas e amores impossíveis. Temas controversos, de ontem e de hoje, como prostituição, homossexualismo, pedofilia, violência contra mulheres, tráfico e consumo de drogas também aparecem nas tramas.

O conto que dá título ao livro tem todos os ingredientes de uma sombria história policial: uma bela jovem morta, jornalista investigativo, delegado durão, mulheres glamorosas, detetive abelhudo, mordomo enigmático e vários suspeitos. Só que toda ação desenvolve-se há luminosa Ilha de Santa Catarina e tudo é conduzido à moda brasileira.

Apesar do denso conteúdo, a linguagem do autor é fluente e receptiva (não faltando também a crítica social, o humor e a ironia) propiciando uma prazerosa leitura.

SOBRE O AUTOR

Raul Caldas Filho nasceu na histórica São Francisco do Sul (Santa Catarina) em 1940, mas se criou e fez os seus estudos na capital do Estado. É formado em Direito, jornalista, cronista e ficcionista. Como jornalista trabalhou ou colaborou com os principais jornais catarinenses a partir de 1963. Foi também repórter da revista Manchete durante dois anos (1967/1968) no Rio e correspondente da editora Bloch em santa Catarina. Já publicou onze livros, sendo sete pela Editora Insular, entre ficção, crônicas, reportagens e textos variados. Participou ainda de dezenove coletâneas.


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DA SÉRIE “EU SOU POEMA”



[Foto Júlia]




LUZ SÚBITA


Estive aqui
Mas não sei dizer como nem quando:
A grama além da porta eu já vi.
Reconheço também o aroma brando
os sons anelantes, as luzes na praia,
aqui e ali.

Sim, já foste minha antes
há quanto tempo não posso dizer.
Quando, das andorinhas aos voos rasantes,
viraste a cabeça para ver,
ah, caiu-me um véu, soube de coisas distantes.
Tudo antes então tem sido desta sorte?
Haverá na maré do tempo de novas vidas,
a despeito da morte,
luz súbita que restaura passados momentos de amor,
bem como dias e noites de vivência forte?



[ Dante Gabriel Rossetti. Tradução livre de Silveira de Souza, especialmente para Confraria da Leitura-pn]




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DA SÉRIE “CRÔNICAS, CONTOS E OUTROS TANTOS”







[Grafiteiro surfista]



FEBRE

acostumou-se a conversar com tudo e qualquer coisa. com gente morta, gente que não existe, gente que existe e não se importa. com espelhos, paredes, vidros de perfume. com uma boneca de louça francesa, sem o olho direito, presente de seu pai. com ela mesma, às vezes. com seus botões, a toda hora. com os cheiros antes de senti-los. com um corisco riscando a pele antes da tempestade. com os pés de barro de um homem impossível. com histórias que não eram as dela.
e tudo era tão triste antes que descobrisse uma fresta no teto. e o voleio úmido das asas de algum anjo caído não se sabe de onde. 
tudo era tão triste, e mais triste, agora: 
com a febre e o dedo entre as pernas escalando a solidão.

 [Mariza Lourenço, 22/08/2015, Face book]


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DA SÉRIE “NOSSA LÍNGUA”








Você sabe por que...?

1-    Você sabe por que dizemos alô! assim que atendemos ao telefone? Se não sabe, eis por quê: na França, no século passado, quando se começou a utilizar o telefone, dizia-se “allons” (depressa, vamos logo), à retirada do fone do gancho. A palavra pedia pressa, mas ela mesma era demasiado longa (o som nasal a alongava demais). Passou-se, então, a dizer apenas alô! E assim ficou.



[ Luiz Antônio Sacconi, Gafite, nº. 1, abril 1987, Nossa Editora, p. 25]


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DA SÉRIE  “PARA [SÓ]RIR E NUNCA TENTAR”

  
Gostaria de dividir minha experiência com vocês que bebem e dirigem mesmo assim.
No último sábado à noite, não sei quantas cervejas eu bebi.
Sabendo que não estava legal, fiz algo que nunca havia feito antes: deixei meu carro no estacionamento e peguei um ônibus.
Resultado: cheguei em casa a salvo, sem nenhum incidente e com ótima sensação do dever cumprido...
Agora, o que me causou grande dificuldade foi estacionar, pois eu nunca havia dirigido um ônibus na minha vida!

kkkkkkkkkkkkk


[Autor desconhecido Face book 2014]

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DA SÉRIE “POEMAS VISUAIS”








[Pinheiro Neto, Poema visual, Iriamar]



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[Fátima Queiroz, Poema Visual]




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O MELHOR LIVRO DE POEMAS QUE ESCREVI POUQUÍSSIMOS PODERÃO LER NESTA VIDA.
ELE ESTÁ IMPRESSO NO MEU CORAÇÃO! E TU, COM CERTEZA ESTÁS LÁ, EM TODOS
OS VERSOS QUE NÃO FORAM PUBLICADOS.

(Pinheiro Neto)




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CONFRARIA DO [meu] POEMA-pn




A chuva
encharca
lembranças
nonagenárias.

Braços imóveis
sequer mudam
o canal da tv.
  
(Pinheiro Neto, 90 e tantos, inédito, março 2013)   






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