PAPO NA CONFRARIA: Celestino Sachet(*)
1 – O que te motivou a
escrever?
Não
sei! A vontade de escrever veio vindo, veio vindo, e se instalou em mim sem dar
a mínima explicação desde os primeiros anos da escolaridade formal.
2- Cite os TRÊS livros (e respectivos
autores) mais significativos em tua vida?
Dos
três livros mais significativos em minha formação cultural, o primeiro, não li:
prestei atenção, com muito interesse, na leitura que a professora Lucinda
Machado Vieira, lá na terceira série do ensino primário, 1938, lia uma vez por
semana para toda a turma. E como ficávamos grudados nas palavras do texto. Era
uma adaptação do Pinóquio, a história
daquele boneco de madeira que, quando mentia, crescia-lhe o nariz que já estava
desse tamanho. O livro foi escrito pelo italiano Carlo Lorenzini Collodi,
1826-1890. A história, em mãos da professora, levava o título Zé Pinho, publicado na revista O Eco, dos padres jesuítas de Porto
Alegre. O segundo, que descobri no Colégio Catarinense, entre 1945-1948, quando
estava frequentando o curso ginasial, foi Vidas
Secas, de Graciliano Ramos, 1892-1931. O terceiro, já na Faculdade
Catarinense de Filosofia, Ciências e Letras, 1955-1958, levava o título Grande sertão: veredas, de Guimarães Roas,
1908-1967.
3- Indique um livro (Literatura
Brasileira) para leitura de: a) Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries),
b) Alunos do Ensino Médio, c) Alunos do Ensino Superior:
Para
leitura dos alunos de ensino fundamental – se é que nós madurões ainda
conseguimos convencer crianças em processo de alfabetização e de primeiras letras – eu indicaria O menino maluquinho, do Ziraldo.
Para
os níveis posteriores, vão os mesmos livros que me compraram a simpatia no
Colégio Catarinense e na Faculdade de Filosofia. Para repetir: Vidas secas e Grande sertão: veredas.
4- Como se dá o processo da escrita em
tua prática cotidiana?
Como
se dá o processo da escrita em minha vida cotidiana, é outro mistério. De
repente me dá ganas de escrever, sempre à mão, porque, para mim, a palavra é
como se fosse barro ao qual devo dar forma de objeto estético. Escrevo e risco,
risco, até que a palavra, me olhando, diga:
- Pára de te intrometer na minha
vida. Já está bem assim! E não tenta mais porque estou cansada com tantas
mudanças dentro do meu corpo e do meu espírito.
5- Fale sobre o apoio dispensado pelos
setores público e privado à literatura.
Sobre
o apoio dispensado pelo setor público e pelo setor privado à literatura não me
parece que ele seja tão necessário. Acho que os dois não devem meter-se na
criatividade do escritor. O melhor que eles fazem é ficarem fora do processo.
Ou, então, que se metam a estimular leitores ... e compradores de obra
publicada!
6- Fale sobre o papel das
Academias de Letras em relação à Língua
e à Literatura?
Das Academias de Letras,
escritores e leitores precisam receber, de maneira prática, pistas sobre os
melhores caminhos para escrever bem e de ler com mais proveito pessoal até o
ponto em que o leitor consiga atravessar o livro com criatividade e com prazer.
(*) Ocupante da Cadeira 15 da
Academia Catarinense de Letras.
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VIAGENS
Já nem
consigo lembrar
quantas vezes
te busquei
com nomes e
fomes
criados ao
acaso,
de meus
cansaços ocasionais
restam marcas
na parede
escondidas
discretamente
por cartazes
de eventos e ideologias
e mal consigo
reter-te
para o sono
ligeiro
da lassidão
do corpo
e a exaustão
do braço
(Alfredo
Roberto Bessow, Edições Sanfona, Floripa, 1985)
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POR UM NOVO MUNDO (*)
Quando
o jornalista Ademir Arnon, presidente da Associação Catarinense de Imprensa,
convidou-me para apresentar este livro
em nome daquela entidade, confesso que fiquei um tanto apreensivo. Afinal, é uma
responsabilidade muito grande apresentar um livro destinado a crianças.
Acredito que o cuidado deve ser bem maior do que o necessário para a
apresentação de um livro que tenha como alvo o público adulto. A criança é um
ouvinte/leitor extremamente exigente, nada lhe passa despercebido. Seu senso de
observação é muito aguçado e perspicaz. Nessa idade – entre dois e seis anos –
a criança está moldando seu caráter, sua personalidade. Alie-se a isso o fato
de que todo o livro infantil precisa considerar a criança – alfabetizada ou não
– como um ser inteligente.
Pedi
um tempo para examinar o material e fui para casa. Estava deveras curioso. Li
uma, duas, três vezes. Comecei a gostar da história, da linguagem e da
utilização da língua padrão culta, da mensagem, da objetividade do texto. Senti
que precisava de elementos mais concretos, mais palpáveis e que me dessem segurança. Foi aí que resolvi fazer uma pequena experiência para
verificar qual poderia ser a reação do público alvo, isto é, crianças e professores. Entreguei o livro a
uma professora de Séries Iniciais e pedi que o lesse para algumas crianças não
alfabetizadas e fiquei observando. Como ela não havia feito nenhuma análise
preliminar do livro, agrupou as crianças e iniciou a leitura. A cada frase lida
a professora mostrava os desenhos correspondentes e as crianças formulavam
muitas perguntas: sobre as características físicas ( as anteninhas, as
orelhinhas, os olhinhos) e psicológicas
(os bons, os maus, os alegres, os tristes) das personagens; sobre as
diversas cores utilizadas; sobre
palavras e expressões não entendidas; sobre as semelhanças e diferenças
dos personagens. Ao final a professora
trabalhou diversas questões a partir das perguntas das crianças e das mensagens
que a história tenta passar, tais como: as diferenças, exclusão e inclusão,
preconceitos, cores, espaço e tempo, planetas diferentes do nosso e seus
possíveis habitantes, fábulas, folclore e outros. As crianças, sempre
envolvidas, sorriam, brincavam, interagiam durante todo o processo.
Teste
feito, livro aceito, ou melhor, apto para ser recomendado. Agradeci a
professora e as crianças e considerei minha tarefa concluída. Afinal, minha contribuição ultrapassou o
simples compromisso de uma apresentação formal
e ainda permitirá aos autores – Augusto de Abreu, do texto e Rael
Dionísio, das imagens – algo que não é muito comum no mundo da editoração, isto
é, ver seu livro testado antes de ser publicado. Está certo que não se tratou
aqui de uma experiência científica mas empática, de aceitação e, por isto
mesmo, não menos válida.
(*)
Apresentação que fiz para o livro Novo
Mundo, de Augusto de Abreu, membro da Academia Desterrense de Letras, editado
pela Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses. O lançamento do
livro está agendado para o dia 7 de agosto, às 19:30 na Livraria Catarinense do
Beira Mar Shoping.
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LI E RECOMENDO (1)
Realidade: história da
revista que virou lenda, escrito
por Mylton Severiano, com apresentação
de Paulo Henrique Amorim foi editado pela Insular este ano. Apresenta a
trajetória de um grupo de jornalistas “sem diploma” que, de 1964 a 1969 colocaram
nas bancas 33 números da revista (Realidade)
que revolucionou a maneira de “fazer revista” no Brasil. Seu autor utiliza uma
linguagem simples e ao mesmo tempo elaborada e contagiante que faz com que o
leitor não queira desgrudar do livro um só minuto. Quiçá a fórmula trazida da
época da revista.
Segundo
Paco Maluco (Paulo Henrique Amorim), um dos metais da grande banda Loucos de
64, “Realidade captou aquela ânsia de
entender o mundo desorganizado dos anos 60, os costumes, os novos personagens,
a miséria que São Paulo desconhecia: uma realidade que soltava um cheiro
parecido com o dos mictórios dos bares que nós frequentávamos. Tudo misturado à
intervenção militar.”
Mylton
Severiano, paulista de Marília, onde concluiu o ensino médio e um curso de
música de seis anos, hoje mora em Florianópolis. Passou por inúmeras redações
de jornais, revistas e telejornais, antes de se tornar free-lancer e dedicar-se a criar peças para campanhas eleitorais e
a escrever livros. Publicou, entre outros, Se
liga! O livro das drogas (Record), a biografia Paixão de João Antônio (Casa Amarela) e Nascidos para perder – história do Estadão (Insular).
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REGISTRO
LANÇAMENTO
O
romance de Miro Morais, O reino dos
esquecidos, editado pela Insular, será lançado no dia 7 de junho próximo, a
partir das 19:30 na Lindacap, em Florianópolis.
VAIA
Recebi
o número 33 de do jornal Vaia, de Porto Alegre que tem como Editor Fernando
Ramos e Diagramação de Marcos Marques. Destaque para a programação da 6ª. Festa
Literária de Porto Alegre – FestiPoa, para a entrevista com Cristóvão Tezza e
para o Concurso Literário Contista Estreante. www.jornalvaia.com.br –
jornalvaia@gmail.com
O NHEÇUANO
O número 14 do jornal de
Roque Gonzales, referente a abril e maio deste ano e editado por Marcos Marques
chega às minhas mãos juntamente com Vaia. Um jornal cultural que dá conta das
questões do povo Guarani, de livros, de literatura, de poemas e de notícias. Um
jornal que sempre mantém aberto um canal para a divulgação de escritores
catarinenses, principalmente através dos escritores Inês e Nelson Hoffmann (o
primeiro, um amigo que guardo do lado esquerdo do peito). (...) Nheçu, líder indígena Guarani, defensor
de seu povo, sua cultura e sua terra, pioneiro na resistência aos
conquistadores, no século XVII, na atual região das Missões, RS(...)
O TRINTA RÉIS
Recebi e agradeço o
Boletim Informativo nº. 68, referente aos meses de abril e maio, da Academia
São José de Letras, entidade presidida pelo escritor Artêmio Zanon.
POEMAS À FLOR DA PELE
A dinâmica escritora
Soninha Porto (de Porto Alegre), presidente da Associação Cultural Poemas à
Flor da Pele prepara uma festa ímpar para a comemoração dos 7 anos de
existência do movimento. A programação contará com edição de nova coletânea
reunindo escritores do Brasil e do exterior, passando pela estruturação da
entidade, por lançamentos na Feira do Livro de Porto Alegre, em São Paulo e em
outras cidades e culminando com um evento lítero-artístico-cultural na capital
gaúcha.
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CONFRARIA DO POEMA-pn
A palavra
chega rápido.
Não a domino.
Fogem as
imagens
as figuras
as idéias.
Animal xucro
fêmea
insaciável.
Ah...
palavra!
(prostituída)?
Sem
substituta –
A cada dia
mais potra!
(Palavra, Pinheiro Neto, A rosa do verso,1988)
Fim de tarde num feriado tão frio aqui em São paulo, poder encerrar o dia a tarde passeando em seu blog é mesmo um alento. Um sopro de calor.
ResponderExcluirBeijo ternurento
A escolha em entrevistar o Prof. Celestino foi das mais acertadas. Sou um fã confesso, como escritor e pesquisador. Gostei mto de suas respostas, francas e com tamanha leveza, próprio dele.
ResponderExcluirAlém do mais, destaco a divulgação do livro infantil do Augusto de Abreu; oportuna!!! Abraços lítero-culturais! Paulo Berri