PAPO NA CONFRARIA: SILVEIRA
DE SOUZA(*)
1- O que te motivou a escrever?
-- O interesse pela literatura e a motivação
para escrever foi insuflada por meu pai. Lembro que lá pelos meus 7 ou 8 anos
de idade, quando eu já havia aprendido a ler com minha mãe, ele, meu pai, ao
receber o seu salário de funcionário público, trazia mensalmente braçadas de
livros e revistas para todo o pessoal da casa, ou seja, para ele próprio, minha
mãe , minhas duas irmãs e para mim.
Narrativas e contos de gente como, por exemplo, Monteiro Lobato e Hans
Christian Andersen tiveram grande influência na minha formação literária.
2- Cite os TRÊS livros (e respectivos autores) mais
significativos em tua vida?
-- Vou citar somente os de escritores
brasileiros:
a) Memórias
Póstumas de Braz Cubas, de Machado de Assis;
b) Grande
Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa;
c) Vidas
Secas, de Graciliano Ramos.
3- Indique um livro (Literatura
Brasileira) para leitura de:
a) Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries)
-- Reinações
de Narizinho, de Monteiro Lobato;
b) Alunos do Ensino Médio
-- Zélica
e outros, de Flávio José Cardozo
c) Alunos do Ensino Superior
-- A
superfície, de Ricardo Hoffmann
3- Como se dá o processo da escrita em tua prática
cotidiana?
No início surge, na mente, algo que nem é uma
estória. É um evento, ou uma figura humana. Não sei o que eles significam, mas
sei que eles incomodam, vão e veem, na mente. Chega um momento em que acho que
essas coisas precisam ser jogadas pra fora da mente. É quando eu tento
recriá-las sobre uma folha de papel, ou na tela de um computador. Essa é a
parte pior. É a pendenga da racionalidade com as forças do inconsciente. É o
embate do Dragão da Maldade contra o Anjo Guerreiro.
4-
Fale sobre o apoio
dispensado pelos setores público e privado à literatura.
-- Acho que todo apoio dispensado à literatura
ou às atividades culturais da comunidade deveria ser prioritário em qualquer
administração publica inteligente. Mas também acho que alguém que realmente
deseja fazer literatura ou arte não deve preocupar-se com isso. Arte e
literatura são coisas vitais. Você não pode deixar de fazê-las somente porque,
por acaso, está cercado por uma classe política formada de burocratas
despreparados.
5.
Fale sobre o papel das Academias de Letras em relação à língua e à literatura.
Se as Academias de Letras pudessem funcionar
como fontes de consulta organizadas e confiáveis a propósito de livros e
documentos fundamentais da história cultural de seus respectivos estados, creio
que já estariam prestando um serviço inestimável às comunidades as quais
pertencem.
(*) João Paulo Silveira de Souza é Membro da Academia Catarinense de Letras, Cadeira nº. 33
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LITERATURA INFANTO
JUVENIL EM SANTA CATARINA
Em
dezembro do ano passado, Terezinha Kuh Junks, esposa do saudoso professor e
escritor Lauro Junkes, ex presidente da Academia Catarinense de Letras,
organizou e lançou um dos vários trabalhos deixados por esse incansável
estudioso de nossa literatura, com sua
morte.
Trata-se
do primeiro de cinco volumes de pesquisa deixada por Lauro, praticamente
concluída, que trará ainda: contos e crônicas, novela, romance e poesia.
Segundo
Júlio de Queiroz, no texto O afã
incansável, que acredito esteja no livro à guisa de prefácio, “À medida
que, no decorrer das últimas décadas, a literatura infantil ampliava-se em
facetados aspectos, Lauro Junkes, como um colecionador reunindo seus achados,
lia a obra, elaborava suas considerações e as entregava ao seu riquíssimo baú
eletrônico.
Legítimo
herdeiro intelectual dos copistas medievais, como aqueles, não o fustigava a
necessidade premente de trazer a público seu nome como crítico de também essa
especialidade.”
Para
Maria de Lourdes Ramos Krieger, escritora e colega de Lauro na UFSC, enquanto
professores, e que apresenta o volume, “a literatura infantojuvenil também
mereceu de Lauro Junkes uma reflexão crítica. Ele mostrou que a identidade
catarinense se encontra não apenas na literatura dita para adultos, mas
igualmente na linguagem e no estilo dos textos voltados – por sua extensão e
tema – para criança e jovens.”
“Ele
sabia da importância da leitura para a formação do leitor, a partir do ambiente
escolar, razão por que visitava escolas, geralmente acompanhado de outros
membros da Academia: conversava, dialogava com professores e alunos, a respeito
da necessidade do livro, da literatura na e para a sociedade e para o próprio
indivíduo. (Ele sabia também que, infelizmente, por questões financeiras ou
descaso, no ambiente doméstico o acesso aos livros nem sempre é facilitado).
Abordava as obras dos autores nascidos em Santa Catarina ou aqui estabelecidos,
lembrando que um livro é bom por suas qualidades literárias – quando, aliado a
isso, for de autor da terra, merecia/merece maior apoio e divulgação.”
São
mais de trezentas páginas de pesquisa, trabalho árduo e resultado significativo
para o conhecimento e divulgação dessa área (infantojuvenil) que torna a
produção literária de Santa Catarina ainda mais consistente e importante, na
totalidade da literatura de nosso país.
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CICATRIZES (Clau Assi **)
Ferido peito
sangra a alma
restam apenas cicatrizes
desenhadas na alma
efeito concreto da dor
estilhaço,
lamento,
algoz que relembra
tecido marcado
carne infligida,
tatuagem inacabada.
intrépida passagem do tempo
que a tudo leva
e à face traz lágrimas
envidraça o sorriso
feito faca de fino corte
abre ferida no peito.
(**direto de sua página no face, fev.2013)
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NEM SEMPRE FREUD EXPLICA (Olsen Jr.)
Estou no consultório odontológico esperando
a minha vez. Procuro ler alguma coisa (qualquer coisa) para aliviar a tensão.
Pego uma revista “Status” (remake)... Na década de 1970 uma publicação com este
nome era o melhor que se tinha para a satisfação do público masculino. Guardo
um exemplar temático (só Drinks) daquela época. Agora, a edição que tenho em
mãos é uma pálida evocação do que a memória ainda retém.
Não deveria ter mais “certas” preocupações,
mas tenho... Vejo a senhora que sai do gabinete, caminha lentamente em minha
direção... Afirmo para descontrair “não doeu nada, certo?”... Ela parece
surpresa com a minha observação, afinal tudo ali é asséptico e sério... “Não,
meu filho, não doeu”...
Digo para ela que certos “traumas” ou “má
vontade” se preferir, com algumas situações a gente leva da infância e não muda
mais... A ela junta-se a atendente e ficam me ouvindo... Continuo, “dentista,
cortar cabelo e comprar roupas sempre foram questões a serem resolvidas para
mim”. O primeiro por não suportar o ruído que a broca faz (e a gente não vê o
que ela está fazendo), o segundo porque nunca me deixaram ter o cabelo comprido
na época em que isso era moda (na década de 1960 quando os Beatles mandavam na
música pop) e por último, se antes era porque a minha mãe escolhia o que iria
vestir, agora simplesmente porque não suporto a constatação sempre quando me
vejo num provador de que preciso perder peso, e todo o drama continua...”
A mulher e a recepcionista começam a rir e
naquele momento esqueço que sou o próximo a ser atendido. Ela concorda comigo e
lembra que na sua infância a broca nos consultórios era acionada por pedais e
claro, dependia das flutuações da energia do dentista despendidas no ato...
Penso que as alterações de rotação da dita cuja deveriam provocar “dores” de
intensidades variadas em curto espaço de tempo... E, “quanto aos provadores,
acrescentou ela, tenho verdadeiro pavor... Menos porque não goste de comprar
roupas, porque gosto, mas não sou compulsiva como uma amiga que já deve ter
perdido a conta de quantos sapatos tem em casa”...
Intervenho e afirmo que deve ser algo no
componente genético das mulheres porque não conheço uma que não goste de
sapatos...
Ela assente com a cabeça e continua a
história afirmando que sua amiga teve de ir a uma festa e comprou uma sandália
para combinar com a roupa... Quando já em casa foi procurar a peça descobriu
que tinha guardada outra sandália, da mesma cor e modelo... Mas eu estava falando
dos provadores, porque os detesto... Algum tempo atrás fui provar uma roupa...
Estava lá dentro me preparando para vestir a roupa que pretendia comprar quando
escorreguei e tentei me apoiar no que eu pensava ser uma parede daquela
cabine... Para minha surpresa, levei um susto, eram apenas cortinas dispostas
em “U” e caí de costas no provador ao lado... Naquele momento havia um homem só
de cuecas que iria também vestir alguma roupa... Caí por cima dele e foi um
“Deus nos acuda!”...
Aí foi a minha vez de juntar-me as
gargalhadas da recepcionista... A mulher pareceu não se abalar, disse já ter
superado o “trauma”, mas não esquecia o caso... Alguém avisou que o motorista
dela já estava esperando e ela saiu, não sem antes abraçar a secretária e a
atendente do gabinete... Depois olhou para mim e afirmou “não se preocupe, meu
filho, não vai doer nada!”
Agradeci aquele conforto moral e depois que
ela saiu fiquei imaginando que nada é melhor que o bom humor para encorajar um
homem recalcitrante (sem nenhuma vocação para herói) num gabinete de dentista!
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CONFRARIA DO POEMA-pn
I
Entre
os dedos
Reconduzo
versos
Do
fundo d’alma
Garimpo
poemas.
II
Vejo
poemas
Sem
olhos teus
Teço
poemas
Com
os de outrem.
(Nano
ensaios poéticos, Pinheiro Neto/2012)
Pinheiro, o texto "Literatura infantojuvenil em SC" é teu? Queria publicar em A ILHA, então preciso da confirmação do autor.
ResponderExcluirResponda com a urgência possível, por favor, estou fechando a edição.
Abraço do amorim
Pinheiro Neto, uma honra....honra...honra... ter versos meus estampados na tua página. Uma página deliciosa, diga-se. Uma delícia passear por elas.
ResponderExcluirMinha admiração é do tamanho da minha gratidão, senão maior.
Obrigada. Beijos mega ternurento de admiração.
Clau Assi