segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Confraria da Leitura-pn Edição 26



NOS SERTÕES DO SÃO FRANCISCO

Recebi das mãos do querido confrade José Artulino Besen, devidamente autografado, um exemplar da segunda edição de seu livro Nos Sertões do São Francisco: recordações do mundo sertanejo.
A clareza e objetividade da narrativa e a excelência das fotos em preto e branco, tiradas todas pelo autor do livro, nos fazem viajar, sofrer e sorrir com as águas do São Francisco que, de longe na maioria das vezes, acompanham a lida e a persistência do sertanejo brasileiro.
Considero extremamente importante reproduzir aqui o prefácio escrito por Júlio de Queiroz pois resume com clareza o que passa ao leitor a obra do Padre Besen.
“É estranho o modo pelo qual uma obra literária autêntica se afirma. Longe de louvores descabidos de grupelhos, tão exagerados quanto inconstantes, as obras de genuíno valor vão lentamente se propalando em círculos crescentes, tocando sensibilidades, exigindo mais leitores.
Um é o gosto da terra árida e ingrata que faz com que aqueles que nela vivem sejam lacônicos, avaros de trejeitos verbais.
Um outro é o gosto da gente que vive sem rodeios. Desde sempre abandonada e menosprezada.
Mas há também o gosta da hospitalidade genuína de quem sabe o acre sabor da fome permanente.
Junte todos estes gostos e ter-se-á o gosto da vida. De vida dura, tão dura que não permite sequer um único sonho do universo burguês. É viver a dura vida e ter a mortalha pronta.
Mas este livro tem, acima de todos estes aspectos, o gosto da fraternidade legítima – este mais belo fruto humano do cristianismo. E é por isto que ele floresce numa empatia comovedora. Ficaria menor se aceitasse ser neutro estudo social; ficaria menor ainda se decaísse para relatos caricaturais de costumes, gentes, situações e época.
“Nos Sertões” – a mais brasileira das paisagens – “do São Francisco”, o mais brasileiro dos rios – o que se testemunha é um descendente de emigrantes alemães, ido do Sul, distribuir sua fé, seu “ser para o outro” e, no constante milagre deste país magnífico, chamar de irmãos todos os dele tão diferentes; deles, sofrer as dores; com eles dividir esperanças rudes e pequenas alegrias imediatas e os dramas imensos que a parcimônia do viver não deixa virar epopéias.
Neste livro, os do Sul descobrirão uma parte do Brasil que o coração do Padre José A. Besen orvalhou e, dele, lhes trouxe os neologismos encantadores, a justeza do bem dizer sem escolaridades e a fidelidade inconsciente àquilo que faz com que o Brasil seja brasileiro.”

Quem é José A. Besen

O padre José Artulino Besen nasceu em Antônio Carlos, Santa Catarina. Realizou os estudos em sua terra natal, no Seminário de Azambuja e na Universidade Gregoriana, em Roma. Foi ordenado sacerdote em 3 de julho de 1976, pela imposição das mãos de Dom Afonso Niehues.
Seu primeiro campo de trabalho foi lecionar no Seminário de Azambuja, na Fundação Educacional e Brusque e no Instituto Teológico de Santa Catarina, em Florianópolis.
Em 1984 foi nomeado primeiro pároco de São Francisco Xavier, Saco Grande II, no norte da Ilha de Santa Catarina. Três anos depois viajou para a diocese de Barra, no sertão baiano, tendo sido pároco em Oliveira dos Brejinhos e Ipupiara e administrador paroquial de Brotas de Macaúbas. Retornando em 1990, foi provisionado nas paróquias de Saco dos Limões, Catedral Nossa Senhora do Desterro e, desde 2001, Nossa Senhora de Lourdes, Agronômica, todas na Ilha de Santa Catarina. Atualmente é provisionado na paróquia de São José, na Grande Florianópolis.
Há 25 anos é professor de História da Igreja no ITESC, publicou diversos livros no campo da história eclesiástica e da hagiografia (biografia de santos) e muitos artigos em revistas e jornais. É membro da Academia Catarinense de Letras (cadeira 13) e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.

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HOMENAGEM

Manoel Inácio da Silva Alvarenga (1749-1814), na Arcádia Alcindo Palmireno, nasceu em Vila Rica. Poesia: O Desertor, 1774; Glaura, 1799. J. Norberto de Souza e Silva reuniu as Obras Poéticas em 1864. Em 1948, edição de Glaura por Afonso Arinos de Melo Franco (INL).

O JASMINEIRO (Rondó XI)

Venturoso Jasmineiro,
Sobranceiro ao claro Rio,
Já do Estio o ardor se acende,
Ah! Defende este lugar.

Ache Glaura na frescura
Destas penhas encurvadas
Moles heras abraçadas
Com ternura a vegetar.

Ache mil e mil Napéias,
E inda mais e mais Amores,
Do que mostra o campo flores,
Do que areias tem o mar.

Venturoso Jasmineiro,
Sobranceiro ao claro Rio,
Já do Estio o ardor se acende,
Ah! defende este lugar.

Branda Ninfa que me escutas
Desse monte cavernoso,
Nem o raio luminoso
Nestas grutas possa entrar.

Hás de ver com dor, e espanto,
Como pálida a Tristeza
Dos seixinhos na aspereza
Faz meu canto congelar.

Venturoso Jasmineiro,
Etc., etc., etc..

(Glaura, Lisboa, Oficina Nunesiana, 1799, págs. 44-47

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ZÉ PERRI, O DOC, *
João Carlos Mosimann* *

Depois que dois amigos saíram decepcionados do cinema após assistirem a DeSaint-Exupéry a Zé Perri resolvi conferir. Um deles, grande poeta, a quem os aspectos lúdicos poderiam até agradar, não se convenceu. Os dois deixaram a sala frustrados com a falta de evidências, qualquer vestígio da presença do piloto em Florianópolis.
O pretenso Doc usou o estilo clássico de documentário, alternando formas como depoimentos, imagens e uma locução over, conhecida no cinema como voz do saber, um artifício para dar credibilidade ao tema. A fala, melódica e aveludada, posta sobre uma imagem do piloto, por exemplo, faz referência às várias vezes que esteve no Campeche. Os escolares que o assistirem certamente acreditarão.
O verdadeiro documentário serve de fonte de informação para todos os que pretendem saber como foi e como aconteceu, uma forma de registro e mediação da realidade, calcada em fatos reais, segundo Manuela Penafria, uma especialista. E esse não foi o caso, infelizmente! Fiel ao imaginário de Deca Rafael, mas enganoso com relação à presença do piloto. E é justamente a associação feita a Saint-Exupéry de forma artificiosa que configura uma reinvenção da memória do pescador, essa representação que lhe confere falta de credibilidade.
Os aviadores franceses merecem a reverência dos catarinenses, como mereceram de argentinos e chilenos. Na qualidade de heróis de um período histórico da aviação e da aventura humana, do qual o campo do Campeche fez parte. Entre eles sobressaía Mermoz, símbolo da epopeia e modelo de todos os aviadores, este, sim, habitué do Campeche. Mas que a homenagem seja espontânea, natural, baseada na verdade dos fatos. A transformação da área do Campeche em complexo turístico e cultural, como algumas autoridades sonham, pode prescindir de artifícios e de invencionices que, seguramente, serão desmentidos num futuro não muito longínquo.
* TEXTO PUBLICADO DIA 20/08/2011 NO DC (9267)
** PESQUISADOR E ESCRITOR


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PONTO DO POETA

Trago no peito
Cicatrizes de verbos
Mal conjugados.

(Vi[vi]da 1, 05/09/2011)


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