PAPO NA CONFRARIA:
PAULO ROBERTO BORNHOFEN
1- O que te motiva a
escrever?
Escrevo para que os outros leiam. Simples assim.
2- Cite os TRÊS
livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida?
A marcha para o oeste,
a epopeia da expedição Roncador-Xingu, de Orlando Villas Boas e Cláudio Villas
Boas;
Chatô, o rei do Brasil, de Fernando Morais;
O Anjo Pornográfico, a
vida de Nelson Rodrigues, de Ruy Castro.
3- Indique um livro
(Literatura Brasileira) para leitura de:
a) Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries)
Anita, a guerreira das repúblicas, de Adílcio Cadorin.
b) Alunos do Ensino Médio
O fantástico na ilha de Santa Catarina, de Franklin Cascaes.
c) Alunos do Ensino Superior
Saga brasileira, a longa luta de um povo por sua moeda, de Miriam Leitão.
4- Como se dá o
processo da escrita em tua prática cotidiana?
Não
existe um padrão. Pode ser um fato que eu presencie e que me inspire a escrever
um conto.
5- Fale sobre o apoio
dispensado pelos setores público e privado à literatura.
No setor público, eu entendo que os editais são fundamentais
para cobrir custos com a produção. Só entendo que tais editais deveriam
beneficiar apenas os iniciantes. Quem já é conhecido, ou já produz e publica
literatura não deveria ser beneficiado. Falo isso não apenas para literatura,
mas para todos os setores da cultura.
O setor privado precisa investir mais. Temos boas iniciativas,
mas são poucas.
6- Fale sobre o papel
das Academias de Letras em relação à Língua e à Literatura?
As Academias de Letras, no meu entendimento, são clubes de
escritores. O papel delas é justamente esse, reunir aqueles que tem interesse
na criação literária. Se determinada Academia é formado por escritores que
produzem e publicam, será uma Academia forte e atuante. Por outro lado, se seus
integrantes forem mais contemplativos de que produtivos, tal Academia deve
encontrar dificuldades em justificar sua existência.
Sobre o
autor:
Membro da Academia São José de Letras, Cadeira nº. 1. Membro da
Academia de Letras dos Militares de santa Catarina e da Academia de Letras de
Blumenau.
Casado com Taisa Adriana Cardoso Bornhofen.
Naturalidade: São José / SC.
Mestre em Desenvolvimento Regional, FURB – Universidade Regional
de Blumenau, 2008.
Livros:
- Epicentro de uma
tragédia: relatos e dramas de policiais militares que estiveram no centro da
tragédia que atingiu Santa Catarina em novembro de 2008. Blumenau: Ed
Papa-Livro, 2013. 2ª Ed.
- Décimo Batalhão de
Polícia Militar - Seus primeiros vinte e cinco anos. Blumenau: do autor,
2012.
- Epicentro de uma
tragédia: relatos e dramas de policiais militares que estiveram no centro da
tragédia que atingiu Santa Catarina em novembro de 2008. Blumenau: Ed
Cultura em Movimento, 2010. Livro digital.
- Gestão Estratégica na
Segurança Pública: Livro Didático. Unisul, Palhoça, 2006. Livro publicado
em co-autoria com Ana Paula Reusing Pacheco.
- Gestão da Prevenção e
Repressão à Violência: Livro Didático. Unisul, Palhoça, 2006 (Organizador).
- Sobrevivência Urbana:
aplicação de técnicas visando a redução da oportunidade para a ocorrência de
crimes. Diminuição do potencial de vitimização no caos urbano. São Paulo:
Nova Sampa, 2001.
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DA SÉRIE “POETAS MULHERES” – 11
JE SUIS POEMA
DESAFIO
... assim inexorável
ao menos venha ela
após caminho longo
depois de longa vida
bela
com pão, maçãs e
vinho
e a paz e o amor
grudados
na flor azul da
Terra.
Venha como um sono,
uma carência
de parar, uma
exaustão, um orgasmo.
Assim venha
portanto – incréus ou
crentes –
desse sono vamos
despertar no Nada
fatalmente.
[MAURA DE SENNA PEREIRA, A dríade e os dardos, Livraria São José, 1978, pg. 93]
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PETIT
POIS
F
ervilha
na
veia
um
poema
“verderreticente”
...
ser
poeta
-
ao ponto –
não
é sopa
[VALÉRIA TARELHO, Livro da Tribo, São Paulo, 2013, pg. 294]
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PALAVRA
A palavra lavra e rasga
Vai aos porões da alma
E em silêncio mostra o norte
O horizonte da dor.
A palavra mima e acaricia
Sublima e enternece
A singeleza das coisas
Do que está no universo.
A palavra dura ou doce
Transparece o terno amor
[ VANI CAMPOS, Relicário, Somar, Porto Alegre, 2014, P. 91]
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CORDURA
Não deve crer-me
neste momento.
Arrisco um encontro
com a cordura,
mas saio machucada.
De que vale
a luz da vela
sem a noite
para olhá-la?
[Terezinka Pereira,
EUA, abril 2015]
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MARINHOS
meus olhos são peixes
te pressinto
me sentes
e armas tuas redes
eu te navego
te bebo em espumas
desmancho em sedes
me encontro nos ares
me perco em mares
vagueio em brumas
te aceno em ais
naufrago em ti
tu me ousas
te espraias
exploras as rotas
descansas nas grutas
me inundas
explodes em ondas
eternizas em mim
[ Tânia Francalacci Schambeck, 2015, especialmente
para Confraria da Leitura-pn]
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LI E
RECOMENDO (11)
DISCÍPULOS
DE NINGUÉM
Novo romance de Olsen Jr, lançado pela Letras Contemporâneas
no final de 2014, 431 páginas, integra uma coleção (Humanos e rebeldes, As paixões inúteis, O homem solitário) que o
autor resolveu denominar de “O preço da liberdade”. Podem ser lidos
separadamente e cobre um período que vai8 do início dos anos 1970 (separação
dos Beatles) e encerra em 1980 (com a morte de John Lennon).
Neste novo romance, dois personagens principais reunidos por
um acaso: de um lado, Ernani Savoy, mais velho, formado em contabilidade,
casado, pai de família, buscando melhores oportunidades de trabalho na cidade
grande; de outro, Osvaldo Ortiz, em véspera de fazer um vestibular onde busca
uma ocupação que melhor possa sustentar o que acredita seja a sua real vocação,
quer ser escritor.
A uni-los, um quarto de pensão na mesma cidade, os bares de
então, o dia a dia de cada um e a solidão que parece perpassar todas as
“escolhas” que ambos fazem para conseguir o que querem, mas sobretudo a
obsessão e o idealismo com que perseguem os seus objetivos.
Para Ernani, que renunciou a um emprego por questões
ideológicas, resta o desabafo “... Sinto-me um estranho, alguém que evitou
fazer – de maneira forte – o jogo dos fracos. Vejo a cada passo a impotência da
vontade diante da necessidade. Eles vivem cobrando-nos a decência e ações
honestas... E nós, em troca de uma dignidade infame, portando-nos como
cordeiros tentando mantê-la no alto enquanto a nossa própria condição humana se
esfacela. Somos fortes quando renunciamos a luta para restabelecê-los em todos
os níveis”.
Já Osvaldo, às voltas com questões idealistas, o pensamento
“Vivo procurando a verdade, ela está em todos os lugares, mas não era
suficiente procura-la em todos os lugares, era necessário imaginá-la em algum
lugar. Uma imaginação que não admitira controle, mas que gerava emoções
controláveis. Não pode haver sentido – concluía – para uma arte que esteja
desvinculada do real.”
Ambos acreditam que a raiz de seus dissabores se encontra no
passado, onde cada um carrega um fardo e procura administrar com o que aprendeu
e com o que encontra no caminho. (Das orelhas do livro)
Para o escritor Péricles Prade, responsável pelo prefácio da
obra, “Quando afirmamos que seus personagens são autobiográficos, e o autor de
seus discursos, ansiedades, desejos e contradições se manifesta através deles
(ou o contrário), somos obrigados a dizer que a literatura precisa também
destes traços dialéticos, quase dramatúrgicos, criados pela ojeriza que o autor
tem à submissão humana, qualquer que ela seja, de onde ela venha e tão bem
manifesta em sua obra.”
E conclui, “Enfim, a leitura de Discípulos de ninguém é fundamental para se compreender uma época
de triste memória, cujos fatos históricos e personagens centrais (Osvaldo e
Ernani), projetados no curso do tempo, propicia, o melhor/maior conhecimento do
que se passa no presente.”
SOBRE O AUTOR
Olsen Jr. (Chapecó, 1955) é jornalista e escritor.
Graduou-se em Direito pela FURB, de Blumenau, e tem especialização em nível de
Mestrado pela UFSC. Atua desde a década de 70 como organizador e editor de
vários jornais alternativos, entre eles o Acadêmico
( com oito anos de circulação consecutiva e ininterrupta), recebendo, em
1976, os prêmios Parker Pen do Brasil, como um dos melhores informativos – de
nível universitário – do País, e da União Brasileira de Escritores, seccional
do Rio de Janeiro, pelo Mérito Cultural, em 1981.
Em sua atuação como editor, fundou várias editoras,
entre elas a Acadêmica e a da FURB, ambas em Blumenau, e a Paralelo 27 e a Obra
Jurídica, em Florianópolis.
Publicou dentre vários trabalhos, coletâneas e
antologias, os livros: Desterro, SC; Os
esquecidos do Brasil; Estranhos no paraíso; Confissões de um cínico; O burguês
engajado; A cidade dos homens indiferentes e Memórias de um fingidor.
Ocupa a Cadeira número 11 da Academia Catarinense de
Letras.
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DA SÉRIE “EU SOU POEMA”
A EXPRESSÃO DA ALMA (*)
Com lábios vacilantes e
sonoridade não ajustada
Empenho-me e luto para a
correta sintonia
Da música de meu ser, noite e
dia
Com sonho e pensamento e
sentimento entrelaçada.
Imprimo então em meu íntimo
as sensações do real
Ao redor, com oitavas de
mística transcendência,
Que na direção do infinito voam em reverência
Saindo do escuro recanto do
chão sensual.
É esta a canção da alma que
me empenho em elevar
Através dos portais dos
sentidos, sublime e inteira
E, como num grito de todo o
meu ser, dispersá-la no ar.
Mas se isso eu fiz— tal a
trovoada que espalma
E rompe sua própria nuvem,
minha carne deveu ali perecer
Ante aquele terrível
apocalipse da alma.
[*Elisabeth
Barret Browning. Tradução livre de Silveira de Souza, especialmente para
Confraria da Leitura-pn]
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DA SÉRIE “CRÔNICAS, CONTOS E OUTROS TANTOS”
Alô:
resolveu telefonar:
-- olha, aqui em casa têm umas camisas, uns livros. tudo seu.
-- você guardou essas tralhas?
ambos riram.
ele, de prazer, porque alguém ainda se importava.
ela, de vergonha, por se importar.
(Mariza Lourenço,
Valinhos/SP, Germina: revista de literatura e arte)
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DA
SÉRIE “NOSSA LÍNGUA”
GAFES
EXECUTIVAS
QUÁ, QUÁ, QUÁ
Em português uma boa gargalhada se representa
assim: quá-quá-quá (com hífen).
Em português, todas as fórmulas de tratamento
se escrevem com iniciais maiúsculas: V.Sª., V. Exª., V. A, V. M.., etc. Essas
fórmulas devem ser escritas sempre abreviadas, a não ser quando se trate do
presidente da República, cujo tratamento devido é Excelentíssimo Senhor Presidente , Vossa Excelência, Sua Excelência,
etc., sempre por extenso.
Ao Papa também se deve tratamento por extenso: Vossa Santidade, Sua Santidade.
Voltemos, porém, a coisas menos santas. Veja
como apareceu nos jornais a declaração de um famoso deputado federal pelo Rio
de Janeiro:
“Se v.
exas. vem me dizer que este governo é sério, respondo como José Bonifácio: quá, quá, quá.”
[ Luiz Antônio Sacconi, Gafite, nº. 1, abril
1987, Nossa Editora, p. 16]
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DA
SÉRIE “PARA SÓ[RIR] E REFLETIR”
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
DA SÉRIE “POEMAS
VISUAIS”
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O MELHOR LIVRO DE POEMAS QUE ESCREVI POUQUÍSSIMOS
PODERÃO LER NESTA VIDA.
ELE ESTÁ IMPRESSO NO MEU CORAÇÃO! E TU, COM CERTEZA ESTÁS LÁ, EM TODOS
OS VERSOS QUE NÃO FORAM PUBLICADOS.
ELE ESTÁ IMPRESSO NO MEU CORAÇÃO! E TU, COM CERTEZA ESTÁS LÁ, EM TODOS
OS VERSOS QUE NÃO FORAM PUBLICADOS.
(Pinheiro Neto)
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CONFRARIA
DO [meu] POEMA-pn
Vai vento
e volta
cata-vento.
Vai bumerangue
e não volta
des(a)tino.
(Pinheiro Neto, Jogo 5, A rosa do
verso, 1988, p.51)