PAPO NA CONFRARIA: Luiz Carlos Amorim
1-O que te motiva a escrever?
O que me motiva a escrever é compartilhar a minha visão do
mundo, me localizar no meu tempo e no meu espaço. É escrevendo que procuro a
minha identidade, que exteriorizo a aventura de viver. Escrever é um ato de
sobrevivência.
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2- Cite 3 livros e respectivos autores mais significativos em sua a vida.
Alguns dos livros mais significativos para mim: “Germinal”, de
Zola, “A quinta essência de Quintana” e “Cem anos de solidão”, de Gabriel
García Márquez. E não posso deixar de citar “Cruzeiros do Sul”, de Urda Alice
Klueger, pois de alguma maneira me lembra o livro de García Márquez.
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3- Indique um livro, da literatura brasileira, para leitura de:
a) Alunos do Ensino Fundamental – 5ª. a 8ª.: “Fernão Capelo Gaivota”, de
Richard Bach
b) Alunos do Ensino Médio: “Os Melhores Poemas de Mário Quintana”
c) Alunos do ensino Superior: “Os melhores contos de Tchekov”
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4- Como se dá o processo criativo em tua prática cotidiana?
O processo de criação para mim é simples. Presto atenção em
tudo, vou recolhendo pedaços do cotidiano e da relação com as pessoas e vou
sempre anotando. Quando é possível, anoto no primeiro papel que estive à mão,
pois se deixarmos para depois o assunto será abordado de maneira diferente, já
não será a mesma coisa. E depois de escrito, reler, reler, reler.
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5- Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.
Não vejo muito apoio à leitura, por parte dos setores públicos.
Não temos bibliotecas em todas as escolas, principalmente as públicas, não
temos bibliotecas em todos os municípios, tanto aqui de nosso Estado como em
outros pontos do país, não temos um espaço especificamente dedicado à leitura e
literatura em nossos currículos escolares. Vejo mais iniciativas privadas para
o incentivo à leitura. Pessoas anônimas que montam bibliotecas em lugares
diversos, que angariam livros na sua comunidade para colocar a disposição de
quem não tem dinheiro para compra-los, pessoas que trocam lixo por livros, e
assim por diante. Um exemplo está bem aqui em Florianópolis: o projeto Floripa
Letrado, da Prefeitura da capital, colocou estantes nos terminais de ônibus,
mas está colocando lá, há algum tempo, quase que exclusivamente livros
didáticos, alguns já defasados e de segunda mão. Não há verba para comprar
livros novos, livros literários.
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6- Fale sobre o papel das Academias de Letras em relação à língua e à literatura.
As academias literárias deveriam ter um papel muito mais
dinâmico no sentido de preservar a nossa língua e valorizar a nossa literatura.
Elas precisam ir até os leitores e trazê-los, também, para dentro de suas
casas, e estamos encaminhando para isso, felizmente. Os escritores precisam
estreitar a aproximação com o leitor e não só os acadêmicos precisam fazer
isso, mas todo aquele que escreve.
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Luiz Carlos Amorim é natural de Corupá (SC), nascido em 16.02.1953 e formado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Joinville. É fundador e Presidente do Grupo Literário A ILHA em SC, com 34 anos de atividades e editor das Edições A ILHA, que publicam as revistas Suplemento Literário A ILHA e Mirandum (Confraria de Quintana), além de mais de 50 livros.
Editor de conteúdo do portal
PROSA, POESIA & CIA. – Http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br -
e autor de 29 livros de crônicas, contos, poemas e infanto-juvenil, três deles
publicados no exterior, em inglês, espanhol, francês e italiano.
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
DA SÉRIE “POETAS MULHERES” - 6
POR RAZÃO NENHUMA
desejo
um riso
profundo
que não corra
o raso risco
ou uma rente
rasura
e se curve
sem motivo
profundo
que não corra
o raso risco
ou uma rente
rasura
e se curve
sem motivo
desalinhando o
siso
do sol da boca
do sol da boca
[Valéria
Tarelho, Face, 01/10/2014]
SILÊNCIO DE NÓS
Pousa teu olhar devagar
e prende a palavra
deixe que apenas o querer
eternize o instante
eu guardarei na lembrança
esse momento perfeito
----------------
Desfez-se todo o
sortilégio
tornaram-se comuns
apenas uma leveza vulgar
e permaneceram amantes
em lugar de velhos
conhecidos
-------------------
Um banquete a dois
de risos, venenos e
entregas
você diluindo os
segredos
eu semeando as
vertigens
produzindo
ressonâncias
naquela noite
-------------------
Fala-me dos teus pecados
esses me interessam
consinta a plenitude do
amargo
deixa-te devorar pela
ânsia voraz
das impermanências
discurso eloquente
não convence
[CRIS MP BRANCO, POA,
2014]
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LÁGRIMAS
AMARGAS
Meu
coração pulsa forte
Ao
som de tua voz
Todo
meu corpo estremece
Ao
vê-lo passar
Mãos
suadas e frias
Lembro-me,
não sou mais tua
Arde
em meu peito a dor
Retenho
a emoção
Finjo
estar bem, sorrio
Um
sorriso dolorido
Que
sufoca impiedosamente
Minhas
lágrimas amargas
Lágrimas
de tua ausência.
[
Carina Morais, 31/10/2012, republicado no Face pela autora
em 15/09/2014]
FURACÃO
Soprou
tão forte
sobre
as frágeis nuvens
que
as desfez
enredou
casas,muros,
cruzes,
faces, pontes,
arou
tudo sobre a terra
e
depois escondeu-se
cansado,
coberto de lama
e
só a brisa o entendeu!
[
Ana
Luiza Conceição , Poemas à flor
da pele 8, Somar, pg. 21, Porto Alegre, 2014]
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DESCOBERTA
Não
desisto dos meus sonhos,
a
cada passo vejo o caminho,
ele
às vezes é claro,
às
vezes escuro, mas não desanimo.
O
olhar busca a alegria,
e
a beleza das cores,
um
passo a cada dia,
num
caminho, às vezes tortuoso,
às
vezes repleto de flores.
Cabelos
ao vento,
pele
arrepiada pela brisa,
sensações
novas a cada momento,
provocam
sorrisos ou lágrimas,
é
a vida que improvisa,
provocando
encantamento.
Troco
de roupa no outono,
para
ressurgir feliz e colorida,
na
primavera, onde espiono
os
movimentos da fantasia tingida,
pelos
pincéis nas mãos do dono.
Sou
a força do meu ser,
sou
a minha criadora e dona,
sei
o que quero e o que fazer.
Sou
um ser que se emociona
e
se impulsiona, sabendo se ter.
[Celma Capeche [RJ], Poemas à flor da pele 8, Somar,2014, pg.31]
O HOMEM
Massa desfigurada
número de série infinita
de banco de memória
que o sacrifica
e o anula
coisificando-o
dentro desta conjuntura
onde o número é símbolo
do ser esquecido
[ Margarida Finkel, No tear dos
ventos, Massao Ohno-Roswitha Kempf/Editores, São Paulo, 1980]
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ENVELHECENDO
Os
cabelos grisalhando,
o
rosto emurchecendo:
é
o tempo que está voando
ou
nós estamos passando?
As
coisas que mais amávamos
já
não trazem prazer:
recordações
nos perseguem
o
medo nos assedia,
a
esperança vai fugindo
e
o desengano vem chegando...
Tudo
parece dizendo adeus:
O
sol já não aquece tanto
e
as estrelas já não brilham como antes!
[Silvia
Amélia, Poemas do meu caminho, Coleção ACL 2, p. 55, Floripa, 1993]
VIDA I
E quantas águas brotaram,
Rolaram.
Quantos olhares
cruzaram-se,
Desviaram-se.
Só esperanças, sonhos,
desejos.
Quantas montanhas a
cruzar;
Quantas barreiras a
enfrentar;
Quantos caminhos a
percorrer
ao chegar a resposta da
verdadeira
existência do ser humano.
[ Jaqueline Boabaid, Um cheiro de vida verde, Edições Bernúncia, p.4,
Floripa,1985]
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TARDES DE SÁBADO
Um burburinho de vozes,
onde nenhuma palavra se
entende...
borboletas com pés nas
nuvens
e folhas de joaninha pelo
chão.
Minha lucidez?
é tudo que não quero de
volta:
vou ser feliz um pouco
mais.
[Basilina
Pereira , Tempo contrário, Verbis editora, p. 82, Brasília, 2011]
AVE
NOTURNA
Que
me perdoem as madrugadas
mas
serei sempre
apaixonada
pela beleza
do
entardecer.
Quando
a noite é quase
uma
certeza,
quando
as pessoas
acendem
as luzes dos olhos
e
o real fica mesclado
de
fantasia,
sou
como ave noturna:
canto
para as estrelas,
canto
porque sou triste
meu
canto está derramado
pelas
distantes lagoas
dos
teus olhos.
[
Telma
Lúcia Faria, Anjo solidão, Editora Secco, p. 72, Florianópolis, 2007]
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
ESPERANDO
A MORTE CHEGAR (crônica)
Quando
alguém pergunta para você: como vai? Não dá tempo para se esboçar uma resposta
e o sujeito já está falando sobre outra coisa que sequer tem nexo com a
indagação inicial. Qual é a idéia? Simples. Este protocolo está ficando
caricato, como uma série de gestos, comportamentos, manias, cacoetes que
herdamos sem atinar para o seu significado ou por sua abrangência caso
tentássemos ir mais fundo nesta superficialidade em que tudo se está
transformando, ou melhor, a que nós mesmos estamos reduzindo e claro, por supuesto como dizem ali em Buenos
Aires, nos reduzindo juntos.
O Raul Seixas tem uma música que fez sucesso em 1973, chamada “Ouro de Tolo” que é muito elucidativa. Na canção o protagonista tem a consciência de se contentar com o que possui num mundo em que ele não entende. Quer dizer, ter-se a noção de que se está doente é o primeiro passo para a cura. Só esta consciência não basta, diria o Sartre, é preciso agir.
Dia destes caí na armadilha. Deixo o carro no posto para lavar e vou ao bar tomar um café (também estou ficando mentiroso, alô Tim Maia!) enquanto espero. Quando entro dou de cara com um conhecido e pergunto logo: como vai? Logo depois (antes mesmo de terminar a frase) me arrependo, penso, se ele me disser “como está indo” quem está “ferrado” sou eu. Com um cigarro em uma das mãos e o copo na outra, para minha surpresa, o sujeito dá uma boa tragada, deixa o copo de cerveja no balcão e me estende a mão afirmando ”esperando a morte chegar”.
Não resisto e tasco logo:
--- Tá brincando!
Ele me olha sério e contrapõe.
--- Por que, você não está esperando a morte?
--- Estás é louco, digo. --- Entre a morte e outra coisa, prefiro outra coisa.
--- Vai dizer que você acha que não vai morrer?
Antes de responder ainda tiro um sarro.
--- Esta outra coisa pode ser a Vera Fischer, a musa... Tudo menos essa aí que você se referiu...
Rimos.
--- Mas que ela vai chegar, vai, insiste.
--- Tudo bem, digo. --- Mas não precisa ser agora e enquanto ela não chega, podemos fazer alguma coisa ainda.
De repente tudo ficou silencioso. O cara comendo o pastel parou o ato, o outro segurando o copo no ar, o cidadão na minha frente dá outra tragada, o proprietário está impaciente atrás do caixa, todos esperando que alguma coisa fosse feita, afinal tinha-se a impressão de que a morte estava ali rondando esperando o primeiro abrir a boca para levá-lo.
--- Como se diz lá na minha terra, começo, referindo-me a morte. --- Posso até ir, mas vou esperneando.
Eles riram.
--- Absolutamente contra a vontade, concluo, emendando. --- A vida é esta, pode ser um inferno, como diria o poetinha, mas ninguém me provou que exista outra, portando temos que vivê-la da melhor forma possível, de preferência, fazendo o que se gosta...
Depois disso o ambiente se descontraiu. No entanto, observando mais atentamente aquele meu conhecido, um habitué do local, destes que chegam sempre no mesmo horário, pedem a mesma coisa e sentam-se à mesma mesa, invariavelmente conversam sobre as mesmos assuntos, enfim, repetem o que os garçons chamam “o de sempre”, percebi aquele olhar perdido em um ponto indefinido na parede, como se estivesse esperando algo que não soubesse precisar bem o quê... Expectativa quebrada quando estaciona um carro em frente da porta do bar, ele toma o resto da cerveja num gole, se despede e sai. Alguém brinca, “é a rádio patroa chegando”... Vejo a mulher do sujeito dentro do veículo, tamborilando os dedos sobre o volante, denotando impaciência, o que parecia normal para todo o mundo, menos pra mim.
É! Penso - para muita gente a morte deve ser mesmo um consolo - e digo para o garçom: suspende o café e me traga outra coisa!
O Raul Seixas tem uma música que fez sucesso em 1973, chamada “Ouro de Tolo” que é muito elucidativa. Na canção o protagonista tem a consciência de se contentar com o que possui num mundo em que ele não entende. Quer dizer, ter-se a noção de que se está doente é o primeiro passo para a cura. Só esta consciência não basta, diria o Sartre, é preciso agir.
Dia destes caí na armadilha. Deixo o carro no posto para lavar e vou ao bar tomar um café (também estou ficando mentiroso, alô Tim Maia!) enquanto espero. Quando entro dou de cara com um conhecido e pergunto logo: como vai? Logo depois (antes mesmo de terminar a frase) me arrependo, penso, se ele me disser “como está indo” quem está “ferrado” sou eu. Com um cigarro em uma das mãos e o copo na outra, para minha surpresa, o sujeito dá uma boa tragada, deixa o copo de cerveja no balcão e me estende a mão afirmando ”esperando a morte chegar”.
Não resisto e tasco logo:
--- Tá brincando!
Ele me olha sério e contrapõe.
--- Por que, você não está esperando a morte?
--- Estás é louco, digo. --- Entre a morte e outra coisa, prefiro outra coisa.
--- Vai dizer que você acha que não vai morrer?
Antes de responder ainda tiro um sarro.
--- Esta outra coisa pode ser a Vera Fischer, a musa... Tudo menos essa aí que você se referiu...
Rimos.
--- Mas que ela vai chegar, vai, insiste.
--- Tudo bem, digo. --- Mas não precisa ser agora e enquanto ela não chega, podemos fazer alguma coisa ainda.
De repente tudo ficou silencioso. O cara comendo o pastel parou o ato, o outro segurando o copo no ar, o cidadão na minha frente dá outra tragada, o proprietário está impaciente atrás do caixa, todos esperando que alguma coisa fosse feita, afinal tinha-se a impressão de que a morte estava ali rondando esperando o primeiro abrir a boca para levá-lo.
--- Como se diz lá na minha terra, começo, referindo-me a morte. --- Posso até ir, mas vou esperneando.
Eles riram.
--- Absolutamente contra a vontade, concluo, emendando. --- A vida é esta, pode ser um inferno, como diria o poetinha, mas ninguém me provou que exista outra, portando temos que vivê-la da melhor forma possível, de preferência, fazendo o que se gosta...
Depois disso o ambiente se descontraiu. No entanto, observando mais atentamente aquele meu conhecido, um habitué do local, destes que chegam sempre no mesmo horário, pedem a mesma coisa e sentam-se à mesma mesa, invariavelmente conversam sobre as mesmos assuntos, enfim, repetem o que os garçons chamam “o de sempre”, percebi aquele olhar perdido em um ponto indefinido na parede, como se estivesse esperando algo que não soubesse precisar bem o quê... Expectativa quebrada quando estaciona um carro em frente da porta do bar, ele toma o resto da cerveja num gole, se despede e sai. Alguém brinca, “é a rádio patroa chegando”... Vejo a mulher do sujeito dentro do veículo, tamborilando os dedos sobre o volante, denotando impaciência, o que parecia normal para todo o mundo, menos pra mim.
É! Penso - para muita gente a morte deve ser mesmo um consolo - e digo para o garçom: suspende o café e me traga outra coisa!
(Olsen
Jr., Diário da Provyncia, 28/09/2014)
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
LI E
RECOMENDO (8)
O DESPERTAR DOS MÁGICOS
Introdução ao realismo fantástico
Escrito por
Louis Pauwels e Jacques Bergier, 6ª. edição, Difusão Européia do Livro, São
Paulo, 1971, tradução de Gina de Freitas e capa de Marianne Peretti, 463
páginas continua como um dos meus livros de cabeceira, de consultas e de
infindáveis retornos. Acredito que todos os escritores, prosadores e poetas, se
ainda não o fizeram, deveriam lê-lo.
Será a
sociedade secreta a futura forma de governo? Terão existido em tempos
imemoriais civilizações técnicas? Haverá portas abertas para universos
paralelos? Estaremos avançando para alguma forma de ultra-humano?
Aparentemente,
estas são perguntas loucas. Mas, para Jacques Bergier e Louis Pauwels, que
investigaram exaustivamente as linhas avançadas do conhecimento, é
indispensável que estas questões sejam formuladas. Estas e muitas outras ainda
mais estranhas. Nós interrogamos a realidade através dos nossos preconceitos,
antigos ou modernos. Mas há outra forma de a interrogar e então ela se revela
fantástica. Para nos dar um exemplo ao nosso alcance, os autores estudaram especialmente
o nazismo. Apresentam-nos uma sociedade místico-política que acreditava na
terra oca, na presença real do Superior Desconhecido, nos Gigantes da era
secundária, sociedade que lançava expedições à conquista do Graal e julgava
poder vencer por meio de sacrifícios rituais o frio da planície russa. E essa
sociedade por pouco não conseguiu a vitória! Será lida com assombro esta
descrição do socialismo mágico hitlerista, que altera as nações admitidas pela
história oficial.
Todavia, isto
é apenas um exemplo daquilo que pode desvendar o método de exploração que os
autores chamam de realismo fantástico.
A história dos descobrimentos, a história do pensamento desde o século XIX até
os nossos dias, a história das civilizações adquirem proporções fabulosas. Na
terceira parte de O Despertar dos
Mágicos, sem dúvida a mais importante do livro, é a nossa concepção da
psicologia humana que se encontra alterada. Tudo o que geralmente pensamos a
respeito dos poderes da inteligência, dos estados de consciência, do equipamento
do nosso cérebro, do gênio, da intuição, da memória ou do sonho, é varrido por
um vento prodigioso, e achamo-nos numa floresta de hipóteses aterradoras e
feéricas. Ora, não se trata de meditações gratuitas ou de efabulações poéticas.
Trata-se de conhecimentos trazidos à luz por um método revolucionário e
expresso com uma paixão clara.
Eis por que esta obra singular, cuja
documentação é enorme, se lê como um romance. Aliás, talvez seja um romance...
SOBRE OS AUTORES:
Louis Pauwels nasceu em Ghent, na Bélgica em 02 de
agosto de 1920 e faleceu em 28 de janeiro de 1997 em Paris. Foi jornalista e
escritor.
Jacques Bergier nasceu em Odessa em 8 de agosto de
1912 e faleceu em 23 de novembro de 1978 em Paris. Foi engenheiro químico,
espião, membro da resistência francesa, jornalista e escritor.
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
SONETO nº 15
William
Shakespeare
Quando considero que
tudo quanto cresce
Mantém-se um só
instante em sua perfeição,
Que este cenário no
mundo pouco mais oferece
Além da secreta
influência dos astros em ação;
Quando percebo que os
homens, como as plantas, evolvem
Animados e restritos
debaixo de um mesmo céu,
Orgulhosos das seivas
jovens, que mais tarde se recolhem
E escondem da memória
os bravos dias, como um véu;
Então a imagem dessa
instável permanência
Mostra você mais rica
em juventude ante meus olhos,
Enquanto tempo e
ruína combatem em turbulência
Para mudar a
jovialidade do dia em noite de abrolhos.
E inteiramente em
guerra contra o tempo pelo meu amor,
Tudo que ele de você
retira, reponho com maior valor.
(Tradução
de Silveira
de Souza, especialmente para esta Confraria, setembro/2014)
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
DA SÉRIE “NOSSA LÍNGUA”
“COMPUTADOR TIRA-TEIMA
Eis aí um computador maroto. Em nossa língua existe apenas “tira-teimas”, o mesmo que “tira-dúvidas” (ambas sempre com s final, a exemplo de pires, Tênis, lápis, ônibus, etc).
Veio, então, junho de 1986. E com junho veio a Copa do Mundo do
México. E com a Copa veio uma emissora de televisão com uma novidade: um
computador, a que deram o nome de “tira-teima”.
Tratava-se de um computador que auxiliava os telespectadores a tirar dúvidas
de certos lances capitais de cada jogo. Apesar de ser fortemente
irrecomendável, dia destes voltaram a ressuscitar o tal computador, que teima
em ser maroto.
Ora, senhores, inventar é bom mas com saúde...
Essa mesma emissora usou um locutor paulista durante as transmissões
de todos os jogos da Copa do mundo. Foi outro pequeno desastre: a cada lance
digno de ser revisto pelo telespectador, o homem ordenava a todos nós: “Reveja de novo o lance!”
Inventar é bom. Mas com saúde...
Em tempo
– Um dicionário brasileiro, revisto e bastante ampliado, registra, para
nosso espanto, o verbete “tira-teima”. Ora...
Por que não registrar também, então, “tira-dúvida”?
Ou pire, têni, lápi, ônibu?
Saúde, realmente, não é para todo dia – e muito menos para sempre...”
(Luiz Antônio Sacconi, Gafite, as gafes da atualidade, nº. 1, Nossa Editora, abril 87, P.
14)
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
Você vai ao bar e bebe uma cerveja. Bebe a segunda cerveja.
A terceira e assim por diante.
O seu estomago manda uma mensagem para seu cérebro dizendo "caracas véio... o cara tá bebendo muito liquido, tô cheião!!!"
Seu estômago e seu cérebro não distinguem que tipo de liquido está
sendo ingerido, ele sabe apenas que "é líquido". Quando o cérebro
recebe essa mensagem ele diz: "Caracas, o cara tá maluco!!!" E manda
a seguinte mensagem para os Rins "Meu, filtra o máximo de sangue que tu
puder, o cara aí tá maluco e tá bebendo muito líquido, vamo botar isso tudo pra
fora" e o Rim começa a fazer até hora-extra e filtra muito sangue e enche
rápido. Daí vem a primeira corrida ao banheiro. Se você notar, esse primeiro xixi é
com a cor normal, meio amarelado, porque além de água, vêm as impurezas do
sangue.
O Rim aliviou a vida do estômago, mas você continua bebendo e o estômago
manda outra mensagem para o Cérebro "Cara, ele não pára, socorro!!!"
e o Cérebro manda outra mensagem pro RIM "Véi, estica a baladeira, manda
ver aí na filtragem!!!" O Rim filtra feito um louco, só que agora, o que
ele expulsa não é o álcool, ele manda pra bexiga apenas ÁGUA (o líquido
precioso do corpo). Por isso que as urinadas seguintes são transparentes,
porque é água. E quanto mais você continua bebendo, mais o organismo joga água
pra fora e o teor de álcool no organismo aumenta e você fica mais
"bunitim".
Chega uma hora que você tá com o teor alcoólico tão alto que teu
Cérebro desliga você. Essa é a hora que você desmaia... dorme... capota... Ele
faz isso porque pensa "Meu o cara tá a fim de se matar, tá bebendo veneno
pro corpo, vou apagar esse doido pra ver se assim ele pára de beber e a gente
tenta expulsar esse álcool do corpo dele"
Enquanto você está lá, apagado (sem dono), o Cérebro dá a seguinte
ordem para o sangue "Bicho, apaguei o cara, agora a gente tem que tirar
esse veneno do corpo dele. O plano é o seguinte, como a gente está com o
nível de água muito baixo, passa em todos os órgãos e tira a água deles e assim
a gente consegue jogar esse veneno fora". O Sangue é como se fosse o
Boy do corpo. E como um bom Boy, ele obedece as ordens direitinho,e por
isso começa a retirar água de todos os órgãos. Como o Cérebro é constituído de
75% de água, ele é o que mais sofre com essa "ordem" e daí vêm as
terríveis dores de cabeça da ressaca.
Então, sei que na hora a gente nem pensa nisso, mas quando for
beber, beba de meia em meia hora um copo d’água, porque na medida que você
urina, já repõe a água.
(Texto retirado do "O bar do Zé)
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
CONFRARIA
DO [meu] POEMA-pn
Ah
crianças
dos
olhos azuis.
O que
será
das
crianças
sem cor
nos olhos
das
latas de lixo
da cama
feita relento
da
desesper(m)ança?
Ah
crianças
da
comida na mesa
do
estudo, do clube,
da
piscina, do computador.
O que
será das crianças
tamanho
grande, médio, pequeno
-
...enta milhões –
cúmplices
no não-alimento
dia sim
e outro?
(Pinheiro
Neto, [Des]istoricizando 2, A rosa do
verso, 1988, p.69)