domingo, 24 de maio de 2015

Edição nº. 71

PAPO NA CONFRARIA:






PAULO ROBERTO BORNHOFEN

1- O que te motiva a escrever? 

Escrevo para que os outros leiam. Simples assim. 

2- Cite os TRÊS livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida?

A marcha para o oeste,  a epopeia da expedição Roncador-Xingu, de Orlando Villas Boas e Cláudio Villas Boas;

Chatô, o rei do Brasil, de Fernando Morais;

O Anjo Pornográfico, a vida de Nelson Rodrigues, de Ruy Castro.


3- Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de:

a)    Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries)

Anita, a guerreira das repúblicas, de Adílcio Cadorin.

b)   Alunos do Ensino Médio

O fantástico na ilha de Santa Catarina, de Franklin Cascaes.

c)    Alunos do Ensino Superior

Saga brasileira, a longa luta de um povo por sua moeda, de Miriam Leitão.


4- Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?

Não existe um padrão. Pode ser um fato que eu presencie e que me inspire a escrever um conto.

5- Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.

No setor público, eu entendo que os editais são fundamentais para cobrir custos com a produção. Só entendo que tais editais deveriam beneficiar apenas os iniciantes. Quem já é conhecido, ou já produz e publica literatura não deveria ser beneficiado. Falo isso não apenas para literatura, mas para todos os setores da cultura. 
O setor privado precisa investir mais. Temos boas iniciativas, mas são poucas.

6- Fale sobre o papel das Academias  de Letras em relação à Língua e à Literatura?

As Academias de Letras, no meu entendimento, são clubes de escritores. O papel delas é justamente esse, reunir aqueles que tem interesse na criação literária. Se determinada Academia é formado por escritores que produzem e publicam, será uma Academia forte e atuante. Por outro lado, se seus integrantes forem mais contemplativos de que produtivos, tal Academia deve encontrar dificuldades em justificar sua existência.


Sobre o autor:

Membro da Academia São José de Letras, Cadeira nº. 1. Membro da Academia de Letras dos Militares de santa Catarina e da Academia de Letras de Blumenau.
Casado com Taisa Adriana Cardoso Bornhofen.
Naturalidade: São José / SC.
Mestre em Desenvolvimento Regional, FURB – Universidade Regional de Blumenau, 2008.

Livros:

- Epicentro de uma tragédia: relatos e dramas de policiais militares que estiveram no centro da tragédia que atingiu Santa Catarina em novembro de 2008. Blumenau: Ed Papa-Livro, 2013. 2ª Ed. 
- Décimo Batalhão de Polícia Militar - Seus primeiros vinte e cinco anos. Blumenau: do autor, 2012.
- Epicentro de uma tragédia: relatos e dramas de policiais militares que estiveram no centro da tragédia que atingiu Santa Catarina em novembro de 2008. Blumenau: Ed Cultura em Movimento, 2010. Livro digital. 
- Gestão Estratégica na Segurança Pública: Livro Didático. Unisul, Palhoça, 2006. Livro publicado em co-autoria com Ana Paula Reusing Pacheco.
- Gestão da Prevenção e Repressão à Violência: Livro Didático. Unisul, Palhoça, 2006 (Organizador).
- Sobrevivência Urbana: aplicação de técnicas visando a redução da oportunidade para a ocorrência de crimes. Diminuição do potencial de vitimização no caos urbano. São Paulo: Nova Sampa, 2001.



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DA SÉRIE “POETAS MULHERES” – 11

  





JE SUIS POEMA




DESAFIO



... assim inexorável
ao menos venha ela
após caminho longo
depois de longa vida bela
com pão, maçãs e vinho
e a paz e o amor grudados
na flor azul da Terra.

Venha como um sono, uma carência
de parar, uma exaustão, um orgasmo.
Assim venha
portanto – incréus ou crentes –
desse sono vamos
despertar no Nada fatalmente.




 [MAURA DE SENNA PEREIRA, A dríade e os dardos, Livraria São José, 1978, pg. 93]



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PETIT POIS

F
ervilha
na veia
um poema
“verderreticente”

...

ser poeta
- ao ponto –
não é sopa



[VALÉRIA TARELHO, Livro da Tribo, São Paulo, 2013, pg. 294]





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PALAVRA

A palavra lavra e rasga
Vai aos porões da alma
E em silêncio mostra o norte
O horizonte da dor.

A palavra mima e acaricia
Sublima e enternece
A singeleza das coisas
Do que está no universo.

A palavra dura ou doce
Transparece o terno amor


 [ VANI CAMPOS, Relicário, Somar, Porto Alegre, 2014, P. 91]



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CORDURA
  
Não deve crer-me
neste momento.
Arrisco um encontro
com a cordura,
mas saio machucada.
De que vale
a luz da vela
sem a noite
para olhá-la?


[Terezinka Pereira, EUA, abril 2015] 


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 MARINHOS 
               
   
                             meus olhos são peixes 
                                        te pressinto 
                                        me sentes 
                               e armas tuas redes

                              eu te navego 
                              te bebo em espumas 
                              desmancho em sedes
                              me encontro nos ares 
                              me perco em mares 
                              vagueio em brumas 
                              te aceno em ais
                               naufrago em ti

                              tu me ousas 
                               te espraias 
                               exploras as rotas 
                               descansas nas grutas 
                               me inundas 
                              explodes em ondas 
                              eternizas em mim
                               


[ Tânia Francalacci  Schambeck, 2015, especialmente para Confraria da Leitura-pn]






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LI E RECOMENDO (11)








DISCÍPULOS DE NINGUÉM

Novo romance de Olsen Jr, lançado pela Letras Contemporâneas no final de 2014, 431 páginas, integra uma coleção (Humanos e rebeldes, As paixões inúteis, O homem solitário) que o autor resolveu denominar de “O preço da liberdade”. Podem ser lidos separadamente e cobre um período que vai8 do início dos anos 1970 (separação dos Beatles) e encerra em 1980 (com a morte de John Lennon).

Neste novo romance, dois personagens principais reunidos por um acaso: de um lado, Ernani Savoy, mais velho, formado em contabilidade, casado, pai de família, buscando melhores oportunidades de trabalho na cidade grande; de outro, Osvaldo Ortiz, em véspera de fazer um vestibular onde busca uma ocupação que melhor possa sustentar o que acredita seja a sua real vocação, quer ser escritor.

A uni-los, um quarto de pensão na mesma cidade, os bares de então, o dia a dia de cada um e a solidão que parece perpassar todas as “escolhas” que ambos fazem para conseguir o que querem, mas sobretudo a obsessão e o idealismo com que perseguem os seus objetivos.

Para Ernani, que renunciou a um emprego por questões ideológicas, resta o desabafo “... Sinto-me um estranho, alguém que evitou fazer – de maneira forte – o jogo dos fracos. Vejo a cada passo a impotência da vontade diante da necessidade. Eles vivem cobrando-nos a decência e ações honestas... E nós, em troca de uma dignidade infame, portando-nos como cordeiros tentando mantê-la no alto enquanto a nossa própria condição humana se esfacela. Somos fortes quando renunciamos a luta para restabelecê-los em todos os níveis”.

Já Osvaldo, às voltas com questões idealistas, o pensamento “Vivo procurando a verdade, ela está em todos os lugares, mas não era suficiente procura-la em todos os lugares, era necessário imaginá-la em algum lugar. Uma imaginação que não admitira controle, mas que gerava emoções controláveis. Não pode haver sentido – concluía – para uma arte que esteja desvinculada do real.”

Ambos acreditam que a raiz de seus dissabores se encontra no passado, onde cada um carrega um fardo e procura administrar com o que aprendeu e com o que encontra no caminho. (Das orelhas do livro)

Para o escritor Péricles Prade, responsável pelo prefácio da obra, “Quando afirmamos que seus personagens são autobiográficos, e o autor de seus discursos, ansiedades, desejos e contradições se manifesta através deles (ou o contrário), somos obrigados a dizer que a literatura precisa também destes traços dialéticos, quase dramatúrgicos, criados pela ojeriza que o autor tem à submissão humana, qualquer que ela seja, de onde ela venha e tão bem manifesta em sua obra.”

E conclui, “Enfim, a leitura de Discípulos de ninguém é fundamental para se compreender uma época de triste memória, cujos fatos históricos e personagens centrais (Osvaldo e Ernani), projetados no curso do tempo, propicia, o melhor/maior conhecimento do que se passa no presente.”




SOBRE O AUTOR

Olsen Jr. (Chapecó, 1955) é jornalista e escritor. Graduou-se em Direito pela FURB, de Blumenau, e tem especialização em nível de Mestrado pela UFSC. Atua desde a década de 70 como organizador e editor de vários jornais alternativos, entre eles o Acadêmico ( com oito anos de circulação consecutiva e ininterrupta), recebendo, em 1976, os prêmios Parker Pen do Brasil, como um dos melhores informativos – de nível universitário – do País, e da União Brasileira de Escritores, seccional do Rio de Janeiro, pelo Mérito Cultural, em 1981.
Em sua atuação como editor, fundou várias editoras, entre elas a Acadêmica e a da FURB, ambas em Blumenau, e a Paralelo 27 e a Obra Jurídica, em Florianópolis.
Publicou dentre vários trabalhos, coletâneas e antologias, os livros: Desterro, SC; Os esquecidos do Brasil; Estranhos no paraíso; Confissões de um cínico; O burguês engajado; A cidade dos homens indiferentes e Memórias de um fingidor.
Ocupa a Cadeira número 11 da Academia Catarinense de Letras.

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DA SÉRIE “EU SOU POEMA”







A EXPRESSÃO DA ALMA (*)



Com lábios vacilantes e sonoridade não ajustada
Empenho-me e luto para a correta sintonia
Da música de meu ser, noite e dia
Com sonho e pensamento e sentimento entrelaçada.

Imprimo então em meu íntimo as sensações do real
Ao redor, com oitavas de mística transcendência,
 Que na direção do infinito voam em reverência
Saindo do escuro recanto do chão sensual.

É esta a canção da alma que me empenho em elevar
Através dos portais dos sentidos, sublime e inteira
E, como num grito de todo o meu ser, dispersá-la no ar.

Mas se isso eu fiz— tal a trovoada que espalma
E rompe sua própria nuvem, minha carne deveu ali perecer
Ante aquele terrível apocalipse da alma.


 [*Elisabeth Barret  Browning. Tradução livre de Silveira de Souza, especialmente para Confraria da Leitura-pn]




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DA SÉRIE “CRÔNICAS, CONTOS E OUTROS TANTOS”





[Albertina Prates/SC, O canto do sabiá - espaço]]




Alô:

resolveu telefonar:
 
-- olha, aqui em casa têm umas camisas, uns livros. tudo seu.

-- você guardou essas tralhas?

ambos riram. 

ele, de prazer, porque alguém ainda se importava.

ela, de vergonha, por se importar.

(Mariza Lourenço, Valinhos/SP, Germina: revista de literatura e arte)
                          

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DA SÉRIE “NOSSA LÍNGUA”





GAFES EXECUTIVAS


QUÁ, QUÁ, QUÁ

Em português uma boa gargalhada se representa assim: quá-quá-quá (com hífen).

Em português, todas as fórmulas de tratamento se escrevem com iniciais maiúsculas: V.Sª.,  V. Exª., V. A, V. M.., etc. Essas fórmulas devem ser escritas sempre abreviadas, a não ser quando se trate do presidente da República, cujo tratamento devido é Excelentíssimo Senhor Presidente , Vossa Excelência, Sua Excelência, etc., sempre por extenso.

Ao Papa também se deve  tratamento por extenso: Vossa Santidade, Sua Santidade.

Voltemos, porém, a coisas menos santas. Veja como apareceu nos jornais a declaração de um famoso deputado federal pelo Rio de Janeiro:

“Se v. exas. vem me dizer que este governo é sério, respondo como José Bonifácio: quá, quá, quá.”



 [ Luiz Antônio Sacconi, Gafite, nº. 1, abril 1987, Nossa Editora, p. 16]


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DA SÉRIE  “PARA SÓ[RIR] E REFLETIR”







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DA SÉRIE “POEMAS VISUAIS”






[Fátima Queiroz, Fooom, 2015]


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[Pinheiro Neto, Poemas Reunidos, 2010]




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O MELHOR LIVRO DE POEMAS QUE ESCREVI POUQUÍSSIMOS PODERÃO LER NESTA VIDA.
ELE ESTÁ IMPRESSO NO MEU CORAÇÃO! E TU, COM CERTEZA ESTÁS LÁ, EM TODOS
OS VERSOS QUE NÃO FORAM PUBLICADOS.

(Pinheiro Neto)




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CONFRARIA DO [meu] POEMA-pn








Vai vento
e volta
cata-vento.

Vai bumerangue
e não volta
des(a)tino.



(Pinheiro Neto, Jogo 5, A rosa do verso, 1988, p.51)