quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Edição nº. 68








 PAPO NA CONFRARIA: RUDINEY OTTO PFÜTZENREUTER


1- O que te motiva a escrever?

A leitura. Sempre gostei muito de ler. Chegando a Florianópolis, 1982, o meu serviço obrigava-me a percorrer o estado de SC, quando deparei com belezas geográficas e fabulosas histórias, completadas com a índole hospitaleira do povo catarinense. Comecei, então, a descrevê-las. Posteriormente coloquei as nuances descobertas como pano de fundo de romances e contos. Em 1990 completei o primeiro livro, titulado “Ainda Resta Um Sorriso”, depois outros oito se seguiram.

2- Cite os TRÊS livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida?

O primeiro autor a ater-me à leitura foi Érico Verissimo. Devo ter lido todas as obras deste gaúcho. Já fui visitar sua cidade natal, Cruz Alta-RS. A casa onde ele veio ao mundo foi transformada em museu. Depois, vieram os romances de Machado de Assis, José de Alencar, Paulo Coelho, entre outros. Incluo no rol a britânica Agatha Christie e a americana Danielle Steel. Todos romancistas. Gosto muito de ler, também, biografias. Atualmente leio o último da trilogia “Getúlio” de Lira Neto. Ótimo.

3- Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de:

Não saberia indicar títulos, mas os temas ideais, seriam:.

a)    Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries)

Livro de conteúdo agradável, de preferência focado nas profissões

b)    Alunos do Ensino Médio

Livro mais técnico, que vise resultado profissional

c)    Alunos do Ensino Superior
De acordo com a graduação. Nunca livros de cunho ideológico político, que põem dúvidas na cabeça do educando e frustram seus ideais honestos.


4- Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?

Normalmente tiro o enredo de um fato real destacado na imprensa. Crio os protagonistas e vou redigindo o texto no computador, de acordo a ordem do roteiro estabelecido.

5- Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.

Vejo que é muito pouco, pelo que a literatura pode contribuir para a robustez intelectual do cidadão. O sodalício que presido, a Academia São José de Letras, mantém convênio com a Prefeitura de São José, através da Secretaria de Cultura e Turismo, visando a publicação de livros, e também nos disponibiliza de um bom espaço para guarda do acervo e realização de reuniões, sem qualquer ônus de nossa parte. 
 
6- Fale sobre o papel das Academias  de Letras em relação à Língua e à Literatura?

Entendo que elas têm um eficiente significado na vida do criador. Na troca de ideias entre acadêmicos e acadêmicas surgem bons comentários sobre literatura, e os incentiva a escrever. Só não acho eficiente, os desentendimentos políticos em seu meio, quando a vaidade atropela a razão.


Rudney Otto Pfützenreuter

Natural de Orleans – SC, em 26 de janeiro de 1940. Advogado e Escritor.
É membro da Academia São José de Letras – ASAJOL – Cadeira 16, da
Academia de Letras de Palhoça – ALP – Cadeira 7 e da
Associação Literária Florianopolitana – ALIFLOR.



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DA SÉRIE “POETAS MULHERES” – 10





                                                [Escultura de Elisa Zatera, Caxias/RS]


  


JE SUIS POEMA


BALADA PARA O VENTO SUL

O vento sul chegou
desfolhando papoulas
vergando caules
sacudindo pólens
agitando palmeiras.

As águas se levantaram em cóleras plebeias
as aves tremeram.
Tremeram
as pencas leves das glicínias
e os gerânios duros dos balcões.

No meio do jardim convulsionado
toda entregue ao seu desvario
fico de pé como uma árvore flexível
- as ânsias e os cabelos em desordem
E as magas largas voando –
A parecer uma alegoria do vendaval.

O vento sul chegou
abanando possesso
a minha velha cidade menina
roçando casas
virando esquinas
levando folhas, areias, conchas.

Sou tua namorada, vento!
Leva-me também
Leva-me contigo
Para longe de mim.

   

[+ MAURA DE SENNA PEREIRA – SC , Poema publicado no Caderno de Sábado do Correio do Povo/RS, em 23/07/1977 em página a cargo do escritor Emanuel Medeiros Vieira]


                                                          [Deus dos Ventos - Internet]


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FATOR 50

que a sorte
não me solte
na meia-idade

nem esse sol
(assassino)
me assalte

no pôr-da-vida
peço paz
pele de pêssego

a esta crença
tão criança
que acha: casando passa


[VALÉRIA TARELHO – SP ,  Livro da Tribo. Organizadores: Décio de Mello e Regina Garbellini, Editora da Tribo, 2015, p.226.]


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RITOS

Adormeci na alma das coisas
Voei no espaço com sopro do vento
Mergulhei nas águas dos rios tristes
Divaguei na nudez das montanhas.

Suguei a seiva das plantas
Tenho a alma do bem
Ébria de alegria e ventura
Recolhi sabores com odores de nada.

Fiz versos para avivar a memória
Criei ritos entre línguas cansadas
Fiz o vento embalar árvores despidas
Sorrio com os lábios dos FELIZES.

[VANI NUNES – RS , Relicário, Somar, Porto Alegre, 2014, p. 30///// NOSSAS HOMENAGENS A ESSA POETA GAÚCHA QUE NO DIA 22 DO CORRENTE COMPLETA 90 ANOS DE VIDA. PARABÉNS, QUERIDA AMIGA VANI]



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                       [Fauno - Menção especial II Bienal IAC Argentina 2014 - Albertina Prates/ Florianópolis/SC]




RELVA

Cai a cabeça
         no peito
         sem jeito.

Busco esperança
no fundo
do mundo.

Onde te achar,
céu perdido,
rio corrido?

Onde te ouvir,
brisa fina,
eu menina,
a caminhar
sobre a relva do tempo?

[MILA RAMOS – SC, Sete rumos, Edições Sanfona, Florianópolis, 1985]



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O SOL NA TUA ESTRADA

Ao meu amor farei um inocente apelo:
Das noites que te dei meu doce sentimento,
Amor todos os dias, ou por um momento,
Manhãs só de alegrias; pra mim, total zelo!
Do meu amor direi, ao ter encantamento,
Da boca que beijei, dos pés até o cabelo,
Na pelo de avelã: sonhar sem pesadelo,
Do gosto de hortelã: paz e contentamento!...
Por fim a cortesã, princesa em teu castelo,
Luar até amanhã, ser teu amor mais belo,
A luz que te ilumina em toda madrugada...
Ser alma pura ou vã, ter alma enamorada.
No café da manhã, o mel o qual te melo...
Aquela que fascina, o Sol na tua estrada!...

[SOL FIGUEIREDO – SP, Poemas à flor da pele, Somar, Porto Alegre,2014, p. 111]



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DUBIA FLOR

que ser é este
tão inseguro
que às vezes
geme
idêntico à fêmea no cio
e noutras
urra
igual a macho acossado?

que ser é este
dúbia flor marginal
que assim forjada
desabrochou
isolada e rara
instigante
busca apenas o amor?

homo ou hétero
pobres flores sexuais
hoje temo teu sangue perverso
maldito pólen
que inconsciente distribuis
flores da desconfiança
vírus da morte
profecias da dor?


[MARIA ODETE OLSEN – SC, Sem rimas e sem razão, Paralelo 27, Florianópolis, 1991, pgs. 78 – 80]



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XXXIX

Julguei ser fácil
Edificar-te
Apesar de haver
Esta flauta
A soluçar nos desvãos
Do teu peito

Ah! Devastadora bússola
Relâmpago
                raio
Intimidade líquida
Das águas

Estabeleço aqui
O tombo
E árvores retorcidas
No solo morno
             da memória

[EULÁLIA MARIA RADTKE – SC,  Espiral poemas, Fundação Catarinense de Cultura, 1980, p. 54]



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                                                                   ( Arte em Café, Michele Espíndola, Café Mineiro 02/15)




ALMA

Tece minha alma
Com fios de ouro
Borda-me com teus segredos
Faz em mim tua arte
Poetisa versa em rimas
Encanta-me sei que és minha sina
Leva-me no profundo dos teus mares
Tece-me sabiamente
Na leveza das borboletas
Sobrevoa embeleza
Com jeitinho este coração
Jubiloso em receber teus carinhos!

[ SANDRINHA MAIA – RS, Poemas à flor da pele, 08, Somar, Porto Alegre, 2014, p. 109]



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METADES

Deixo-te mais um poema
Escrito nas linhas do tempo.
Versos confessos de amor e receios.
Quem sabe, tocar-te a alma,
Na suavidade de um beijo.
Sermos metade de chamas
O outro lado da rua,
Solidão e paixão sob a luz da lua.
Amar-te simplesmente ou calar os desejos
Viver eternamente entre dois mundos
Romper o dia no brilho do teu olhar.



[REGINA MOON – SP, E-book Antologia da autora, Face book, 2015, p. 6]

          


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LI E RECOMENDO (9)







AS DEZ MAÇÃZINHAS, Editora Brasiliense, coleção Eróticos é um belo livro de contos. Li um comentário no jornal O Estado de São Paulo e fiquei louco para ler. Não lembro mais como ou onde o consegui. Se comprei em uma livraria “normal” ou num sebo. Só sei que o devorei numa só mordida, pela primeira vez, em 1989, um ano depois de seu lançamento no Brasil. Remexendo em uma de minhas estantes deparei-me com ele há uma semana e resolvi relê-lo. Que ótima ideia. Devorei-o novamente em uma tarde e resolvi recomendá-lo.


"Vencedor do Prêmio La Sanrísa Vertical” 1979 - dedicado ao melhor da literatura erótica internacional – “As Dez Maçãzinhas” foi escrito por Ofélia Dracs. Mas quem é Ofélia Dracs? Possuidora de um imaginário erótico extremamente fértil, ela é o pseudônimo de oito conhecidos escritores espanhóis que, com isso, puderam liberar sem preconceitos toda as suas fantasias. Mas fizeram questão de se manter no anonimato. Afinal, o conteúdo destes dez contos é no mínimo comprometedor, para não dizer forte, apaixonante, explícito... " (contra-capa)
Os contos que compõem o volume são: A piranha, Chop-suey, Teresinha, que punha a tranca pra funcionar, A calça, Afrodisíaca bandeira, A cadelinha poodle, Eros, azimute três, A língua de sogra, Crepuscular e Os três sinais. Tratam-se de contos curtos, o maior tem 17 páginas e o menor 4, que a Editora Brasiliense incluiu em sua coleção Eróticos e o publicou pela primeira vez em 1988. Convém ressaltar que em nenhum momento, seja no índice, após o nome e o início de cada conto, nos “dados sobre a autora” ou mesmo no posfácio, existe qualquer indício da autoria de cada um dos contos. Os oito autores, alguns já conhecidos no âmbito da cultura catalã e outros, por serem colaboradores regulares da extinta revista satírica El Be Negre, estão muito bem escondidos por trás do pseudônimo “Ofélia Dracs”. Apenas o júri do Prêmio “La Sonrisa Vertical” é quem lhes conhece a identidade.
A tradução é de Deborah Roman de Jimenez que nos brinda com um português extremamente bem cuidado e, ao mesmo tempo, muito perto do linguajar falado em nosso cotidiano.

"...Escuta, por quatro paus ficamos um tempo, uma hora, cara, e por quinze, a noite inteira. E por uns cobres a mais, eu te chupo aqui mesmo, no carro, se é que isso te excita. Agora mesmo, se quiser. Sobe, não vai te acontecer nada de ruim... Você não tá legal? Não gostou de mim? Vamos nessa. Você viu as minhas coxas? Espera um pouco que eu já levanto a saia e te mostro. O que você acha? Ai, agora não dá para esconder: teus olhinhos têm um brilho de desejo que te delatam. Vem, se quiser eu levanto um pouquinho mais a saia. Quer ver a calcinha? Não, ainda não vou te mostrar. Daqui a pouco. Assim continua excitado. Só te digo que é branca e suave. E os seios? Você reparou nos meus seios? Vem cá, me dá a mão que te deixo tocar num deles..." ( in "A Piranha" - p.9 - Parte publicável). 
O erotismo por quem sabe escrever, em histórias críveis, insuspeitas, com doses comedidas de excitação e surpresa, encanto e perplexidade. Contos digestivos e divertidíssimos, até para se ler a dois (ou mais). Não é má ideia.


SOBRE A AUTORA

Ofelia Dracs era uma comunidade literária da Catalunha , Espanha .
Ela consistia de um núcleo fixo de escritores ( Joan Rende , Joaquim Carbó , Jaume Fuster , Maria Antonia Oliver , Joaquim Soler , Jaume Cabre , Vicenç Villatoro ,Margarida Aritzeta e Josep Albanell ) e outros esporádicos ( Isidre Grau , Quim Monzo , Carme Riera , Joana Escobedo , Josep Maria Illa , Xavier Romeu , Assumpció Cantalozella e Roser Vernet )  que na década de 1980 empurrou para a literatura o gênero mais profundo erótico, mistério, etc. Assim, a literatura catalã também teve de apreciar este tipo de narrativa como qualquer outra língua no mundo.




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DA SÉRIE   “EU SOU POEMA”









OS PASSOS DISTANTES

                                         (César Vallejo)






Meu pai dorme. Seu rosto augusto
demonstra um coração sensível;
está tão doce agora...
se há nele algo amargo, serei eu.

Há solidão na casa; nela se reza;
e não há notícias dos filhos hoje.
Meu pai se acorda, surge-lhe imagem
da fuga para o Egito, o paralisante adeus.
Está tão próximo agora;
se há nele algo de distante, serei eu.

E minha mãe caminha lá adiante na horta
saboreando um sabor já sem sabor.
Está tão suave agora,
tão asa, tão desprendida, tão amor.

Há solidão na casa, sem barulho,
sem notícias, sem verde, sem infância.
E se há algo quebrado nesta tarde,

e que se abate e que estala,
são dois velhos caminhos de neve, curvos.

Por eles segue meu coração, a pé.   



(Tradução livre de Silveira de Souza, especialmente para esta Confraria, fevereiro/2015)



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DA SÉRIE “CRÔNICAS”









FINAL DE TARDE NA BARRA DA LAGOA


                                                    (Rui Bittencourt)

Ontem à tarde, calor infernal, fugi do urbano e, em coisa de meia hora
estava de bermuda, camiseta, pedalando na beira do mar. Bita (cachorrinha)
junto, lógico. Praia lotadaça. Não demora e estava sentado num canto arejado
do Sombra, barzinho em frente ao canal. Pedi a mais gelada de todas, não
interessava muito a "raça", e fiquei por ali um bom tempo apreciando o
animado movimento da fauna turística e local que desfilava. Até tinha levado
um livro no bolso, mas ficou por lá mesmo.

 "Se usted quiere aprender español...venga para la Barra de La Lagoa".
Impressionante este ano a quantidade deles. Muitos argentinos. Não estou
reclamando.

Aí passou um bêbado cambaleando, "ave migratória" pois nunca o havia visto
por aqui, ainda que fosse a cara do Nilton, biritum nativo, filho do
Patueiro, que recentemente, numa pequena refrega "familiar", levou uma
paulada na cabeça do sobrinho.. e até hoje 'tá de cama, "fora da casinha".
Coisa fina..!

Gurizada pulando do trapiche, tomando banho, nadando, uns e outros se
distraindo tentando pegar uns peixinhos no caniço e os socós estridentes em
volta, ansiosos, na espera para ganhar o jantar...! Sempre sobra um.
Tem um pescador amigo que muito comumente está com a camisa do Palmeiras, o time de futebol "verdão" de São Paulo, então o chamo "Parmeira", e ele sorri satisfeito. Ontem limpava peixe-espada e, exímio no corte, tirava filés, pra arranjar uma graninha extra, com certeza, profissional da pesca que é.
Sempre o desfile de mulheres bonitas em seus biquínis recheados é coisa que
faz bem pra saúde..! A gente arrisca um olho né, porque se ficar cego de um
ainda tem o outro...!!!. Muitas belas jovens argentinas, simpáticas, até que
se esforçando para falar português.

Nisso passa o Má, dono do Felício, experiente, cujo bote estava meio
encrencado do radiador, contava ele, modos que não quis sair mar afora
enquanto não o consertassem, pelo risco. Figuraço, ótimo de papo, engraçado,
gosta que se enrosca de uma piadinha. Sempre tem uma nova. Agora está mal da vista, coitado, catarata , e está na fila para operar. Nada raro, anda meio
encrencado com a mulher, pois o galo velho é "meio safado". Comentávamos que tio Álvaro desapareceu, outro amigo, veterinário. Não o vimos mais.

Conversa vai-e-vem, aparece de tudo, até segredos que nem podemos revelar, um deles, o Rubião comentando, olha só... tem uma colombiana na área "oferecendo" serviços. Mas estamos fora dessas arapucas.

Acaba que tomei três cervejas e já fiquei um pouco alegre, "como suele
acontecer". Uma turma aglomerando, o Baía organizando, se preparavam para um ensaio noturno da escola de samba "caseira", os Baiacus da Barra, e ficou animada a coisa. Mas era hora de ir.
 Botei a Bita na cadeirinha da bicicleta, novidade (!), ela sempre fazendo
sucesso entre os apaixonados por cachorros - que não são poucos - , muitos
pedindo para fotografá-la, e fomos saindo de leve mas...lado norte, da
ponte, logo "estacionei" de novo, diante de um jovem argentino virtuoso, que
muito bem dedilhava seu afinado violão na bossa-nova de Tom Jobim/João
Gilberto. Aí não dava pra ir embora. Fiquei mais um pouco, ouvindo, me
enturmando com a rapaziada, gostando do que ouvia. Sua exótica namorada
também cantava. E se chegou outro, empolgado, meio hippie, e pedi pro músico tocar algo de Piazzola, o qual, sem vacilar, iniciou sua emblemática Balada para um Louco. Me emocionei, logo vindo à memória um show que anos atrás assistimos num teatro no subsolo da "calle" Florida, em Buenos Aires, eu, Teca, Jaimor, a Galega, Betinho Tonelli e Tânia. Depois foi a vez de Cabeça, de Carlos Gardel, surgindo não sei de onde uma outra pessoa, com um vozeirão, claro que argentino, e começou a cantar – ahh Zilo (Seu Sílvio) , pai do Silvinho, um apaixonado por tangos, para estar ali ouvindo e vendo tudo aquilo. Palmas, vivas, alegria . Dei 10 pila pro músico e fomos pra casa, pedalando, noite quente, eu cantarolando Piazzola e Bita, apreciando o movimento, para casa, para o merecido descanso do
guerreiro...de folga.

 Boa tarde.



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DA SÉRIE “NOSSA LÍNGUA”








GAFES PUBLICITÁRIAS



Um bom Carnaval

O carnaval pode ser bom, pode ser ótimo, pode ser até fantástico, mas será sempre carnaval (com letra minúscula).

Em nossa língua, as festas pagãs não têm vez: devem – todas – colocar-se nos seus devidos lugares, isto é, lá embaixo... Por isso, escrevemos carnaval, bacanais, micareta (carnaval temporão da Bahia), etc.

No Brasil, porém, dá-se tamanha importância a festas pagãs, que muitos querem mesmo é pular o Carnaval. Se possível, pular o CARNAVAL...

Contagiado talvez por essa ansiedade, um anúncio nos acabou pedindo:

   Não deixe o Carnaval acabar na quarta-feira.

Conheço um país em que o carnaval na língua não acaba nunca! Estende-se, estende-se, mas só cansa a quem não participa dele...

Os nomes de festas e comemorações religiosas, porém são escritos com inicial maiúscula, que é para ajudar a subir... Comete pecado mortal quem escreva páscoa, quaresma, sexta-feira santa, natal, etc. Para livrar-se do fogo do inferno – ao menos na língua – escreva sempre: Páscoa, Quaresma, Sexta-feira Santa, Natal, etc. E, assim,. Terá o Céu para sempre...


 [ Luiz Antônio Sacconi, Gafite, nº. 1, abril 87, Nossa Editora, p. 20]



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DA SÉRIE  “[IN]UTILIDADE PÚBLICA”



PAPEL ALUMÍNIO



O papel alumínio é largamente utilizado na gastronomia, mas na grande maioria das vezes isto acontece de forma incorreta. Vejo pessoas usando-o direto nos mais variados pratos e, também, em seu dia-a-dia.

É que os usuários tendem a colocar o lado brilhante virado para fora, pois deixa o visual do prato mais bonito.

O lado mais brilhante é assim porque recebe um polimento para criar uma barreira ao contato direto do alumínio com o alimento e, por conseguinte a liberação do alumínio para a nossa receita. Tínhamos que chamar o prato assim, por exemplo: “Picanha com alumínio”, pois o alumínio entrará como um algoz invisível na receita.

Esta proteção, o polimento, só não acontece dos dois lados, pois é um processo caro que inviabilizaria a comercialização do mesmo.

O alumínio é altamente tóxico e é comprovadamente o responsável por complicações gerais no funcionamento do nosso organismo e um grande alavancador do Mal de Alzheimer, inclusive fomentando sua aparição precoce.

Como usá-lo?

Além de usá-lo com o lado brilhante voltado para o alimento, deve-se evitar dar mais de uma volta no alimento, pois na segunda volta em diante os líquidos que gravitarem entre as camadas serão poluídos com o alumínio e voltarão impiedosamente para a nossa receita.
Assim é importante fazer a finalização em forma de trouxa que deve ficar situada na parte superior, para evitar esta comunicação dos caldos do alimento com a parte ruim do papel-alumínio.

Sobre as panelas de alumínio

Na minha cozinha é expressamente proibida a areação de panelas na parte de dentro, pois quando isto acontece, toda vez que cozinhamos algo estamos também incorporando o temível alumínio à nossa receita.

Quando isto acontece por alguma pessoa desavisada ou quando a panela ou caneca é nova, fervo algumas cascas de ovo na panela cheia de água, para elas liberarem o carbonato de cálcio, que vão impermeabilizar nossa panela, dando a segurança que necessitamos para nós mesmos e para as pessoas que mais amamos; nossa família e nossos amigos.


Ricardo Penna/Penninha, escritor e consultor gastronômico, 11/2012.



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DA SÉRIE "POEMAS VISUAIS" (1)








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O MELHOR LIVRO DE POEMAS QUE ESCREVI POUQUÍSSIMOS PODERÃO LER NESTA VIDA.
ELE ESTÁ IMPRESSO NO MEU CORAÇÃO! E TU, COM CERTEZA ESTÁS LÁ, EM TODOS OS VERSOS QUE NÃO FORAM PUBLICADOS.

(Pinheiro Neto)










CONFRARIA DO [meu] POEMA-pn



A cama desfeita
refaz o sonho.
Bêbado em angústia
pós ato
o lençol da esper(m)ança
cobre a lâmina.

E o corpo inerme,
última flor virginada
                   desabrocha.

     
(Pinheiro Neto, Querer, A rosa do verso, 1988, p.57)