quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Edição nº. 67







 PAPO NA CONFRARIA: TELMA LÚCIA FARIA



1- O que te motiva a escrever?
Escrever, para mim, é uma consequência de estar viva, observar as pessoas e contar suas histórias que também são minhas.

2-Cite os TRÊS livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida?
Alguns livros marcaram a minha vida. Entre eles posso citar Vidas secas de Graciliano Ramos, O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry e Últimos Sonetos de Cruz e Sousa.

3- Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura, de:

a)   Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries):

O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry

b)   Alunos do Ensino Médio

 Dom Casmurro de Machado de Assis

c)   Alunos do Ensino Superior:

A Divina Comédia de Dante Alighieri


4- Como se dá o processo da escrita em tua práticaca cotidiana?
Escrevo quase todos os dias. Gosto de comentar, opinar, projetar e até mesmo sonhar ou desabafar no meu caderno de anotações. Alguns textos viram poemas ou crônicas e alguns eu me arrisco a pulicar.

5- Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.
O apoio dos setores públicos ainda é muito acanhado, No Brasil, infelizmente, cultura ainda não é prioridade.

6- Fale sobre o papel das Academias  de Letras em relação à Língua e à Literatura?
As Academias são, em minha opinião, as guardiãs da Língua e deveriam ser as maiores promotoras da Literatura. Incentivar ações com concursos literários, doação de livros, palestras nas escolas, apoio ao teatro, cinema e até mesmo na criação de Blogs como o teu que divulga a arte de escrever.


Telma Lúcia Faria nasceu em Florianópolis, SC, em 29 de dezembro de 1957. Licenciada em Letras pela UFSC, especializando-se em Psicopedagogia pela Unisul. É autora de: Corpo submerso; Poemando , Ex-Corde e Anjo Solidão. Membro das Academias: São José de Letras de Letras  e Desterrense de Letras






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DA SÉRIE “POETAS MULHERES” – 9



                    (JE SUIS POEMAS)





EU NÃO VEREI A AURORA

Quando este mundo imundo desabar
caírem as ditaduras, a ignomínia das torturas
tiver fim, os povos forem
livres e fartos, as castanhas saltarem
festivas em todos os pratos
a longa noite acabar
eu não verei a aurora.

Eu não verei a aurora
e saúdo com aleluias
todos aqueles que a verão
temendo somente quer ela não venha
logo resplandecente e, ao surgir,
traga ainda estigmas do século
pálidos painéis de guerras e holocaustos
sombrias manchas de mártires e déspotas
sinistras forcas esmaecendo
ainda doendo antes de tragadas
pelo esplendor da nova gênese


(+ MAURA DE SENNA PEREIRA – SC , Despoemas, Achiamé, Rio de Janeiro, 1980)


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DE PEDRA, PERDA E PÓ


se me bate
saudade
apanho sol
chuva vento
suporto abalos
do tempo
:
poemas são
detritos
dentro


(VALÉRIA TARELHO – SP , in Livro da Tribo. Organizadores: Décio de Mello e Regina Garbellini, Editora da Tribo, 2014.)


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                                     (Escultura feminina de Elisa Zatera, Caxias do Sul/RS)




ORAÇÃO

Passo o dia delirando
Tua imagem gira e vira
Até quando diz
Serás apenas miragem?

Sem ti o mundo é vago
Um vazio de alma e frio
Das distâncias contidas
Entre dentre nossas vidas.

Então que faço
De laços acabados
Em que eu havia bordado
Teu nome... em meu coração!


(VANI NUNES – RS , Relicário, Somar, Porto Alegre, 2014, p. 29)



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TEMPESTADE

Com sorriso
Cortejo a tristeza.

O tempo, sem ter o que dizer,
Deixa a porta aberta
E me chama.

Fora,
A tempestade grita como fera.
Acendo a alma
E a encaro.

A vida é clara e
A morte também.


(MÁRCIA MENDES – RJ , Permanência, Mar de Letras, 2014, p. 81)


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PEDRA ROLADA

De onde vens, pedra rolada,
tão sozinha e tão saudosa,
agora tão sossegada
neste recanto da terra
com teu perfume de rosa
de outra feliz primavera?

Ó pobre pedra rolada,
és sombra errante e triste
por este mundo finito,
imagem de um ser aflito,
só eu sei que tu existes.

Querida pedra rolada
com sabor de sol e mar:
- és uma linda visão.
Tu dizes que és o nada,
mas teu grande coração
cheio de luz é morada
e instrumento de canção...
Ó linda pedra rolada,
rolaste da imensidão!

(ZORAIDA H. GUIMARÃES – SC , Semeadura, Lunardelli, 1979, p. 77)


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O HOMEM QUE EU AMO


Há quase vinte anos que eu te amo
Quando te conheci eras menino
Hoje é de “meu amor” que eu te chamo
Este grande amor era meu destino

Quando te olho me inflamo
Quando penso em ti me ilumino
Homem da minha vida eu te proclamo
É como se te dedicasse um hino

Nem eu sou jovem, nem tu és bonito
Mas ficas lindo quando eu te fito
Tu vens de longe só para me ver
E eu juro que jamais vou te esquecer


(LEATRICE MOELLMANN – SC , Leatrice poeta, Editora Tribo da Ilha, 2014, p. 88)

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O SILÊNCIO

o ego
eco
vira dor
contorna peito
de poeta
transforma pedra
em flor
separa o eu
do labirinto
o que não vejo
sinto.

LUANA DIAS – MG  (Face book, 06/01/2015)



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OBRIGADA

a Você
que ainda não virou
máquina.
Pior que não responder
é colocar uma resposta
AUTOMÁTICA!

(TEREZINKA PEREIRAEUA , 07/01/2015)


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SAUDADE...

" ... Quando penso que já foi...
Volta e rasga, sangra e doi!
Nem sei onde está, sei que ficou...
O que ficou... é mais q a dor...
Dor da falta, da perda...
Ficou um vácuo que me devora...
E tento sentir o que deixou
Para estancar toda esta dor... "

(DU CARMONA – SP Face book, 14/01/2015)


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LIMIAR


num broto de manhã
um sol furta-cor
pinta e borda
embriago-me de silêncio
___________ sorvendo
o sabor do momento

(CLÁUDIA GONÇALVES – RS, Face book, 12/012015)



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LI E RECOMENDO (8)







Obsceno abandono – amor e perda, livro editado pela Record na coleção Amores Extremos é uma novela da escritora e jornalista Marilene Felinto, de São Paulo que caiu-me nas mãos numa de minhas visitas a um sebo há muito tempo. Havia lido, gostado, marcado. Dia desses em uma  incursão aos recônditos de minha biblioteca voltei a olhá-lo, quase sem lembrar de seu teor. Resolvi relê-lo. De fato, foi como eu imaginava. MERECE SER RECOMENDADO. 

Nesta novela amorosa, dividida cirurgicamente em duas partes – a primeira, Abandono (páginas 9 a 45) e, a segunda, Obsceno (páginas 47 a 80) -  vergonhoso, obsceno, é abandonar o ser que se ama. A palavra dilaceramento se firma como contrapartida eventual da coragem de quem corre o risco, da dignidade da entrega desmedida. A dor é parte, apenas isso, desta mesma grandeza

Deveria haver uma lei que proibisse a obscenidade do abandono. Um decreto cheio de artigos, parágrafos, itens e subitens que proibissem a usurpação das ilusões e as fraudes amorosas. Que estabelecesse o direito humano inalienável e incontestável de ser amado pela pessoa amada.
Ser abandonada. Como uma bofetada. Que não para de arder e de ressoar nas mínimas coisas que ficaram. Do abandono, tem dias que se acorda com a cara de louca. Ou dias que, se é que se acorda, não se tem como saber, porque o pesadelo não é interrompido. Nessa novela, Marilene Felinto se permite dissecar a dor do amor partido – sem pejo, sem salvaguardas, sem vergonha de sofrer e de reconhecer-se sofrendo, até um extremo que não se imaginaria suportável.

Obsceno abandono - amor e perda, como já frisei anteriormente, integra a coleção Amores Extremos da Record. A edição que tenho nas mãos não possui ficha catalográfica, não traz em nenhum espaço a data em que foi publicado, qual a edição correspondente.

Uma obra tão significativa e tão contagiante editada por uma editora de renome recebe um tratamento tão amador e tão irresponsável. As únicas informações técnicas que se tem da obra, além dos dados da autora, é sobre a ilustração da capa: autoria de  Paul Gauguin, Undine, 1889, óleo sobre tela, 92 x 72 cm, bem como alguns dados sobre os objetivos da coleção, sem, no entanto, relacionar os outros títulos já publicados ou a publicar.


SOBRE A AUTORA


Marilene Felinto formou-se em Português e Inglês, Língua e Literatura pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo em 1981. De lá para cá, escreveu os romances As mulheres de Tijuco-papo – traduzido para o inglês, holandês e francês – e O lago encantado de Grongonzo, o volume de contos Postcard, além de um ensaio biográfico sobre Graciliano Ramos. Também é autora de Jornalisticamente incorreto, voluma de crônicas publicadas entre 1997 e 1999 em sua coluna na Folha. Em 1983 recebeu o prêmio Jabuti na categoria Autor Revelação. Em 1992, foi convidada pela University of California-Berkerley para ministrar um minicurso de literatura brasileirae, dois anos depois, pela Haus Der Kulturen der Welt para participar  de um circuito cultural de literatura brasileira pela Alemanha. Em 1998, foi convidada pelo Ministério da Cultura da França para participar do salão do Livro de Paris em homenagem ao Brasil. Colunista da Folha de São Paulo.




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INTIMIDADE COM A NOITE

                                                     Robert Frost

 Sou dos que tiveram com a noite alguma intimidade.
 Eu já caminhei sob a chuva — e retornei sob a chuva
 E já fui além das mais distantes luzes da cidade.

Atravessei ruelas as mais tristes e sombrias.
Com os olhos úmidos, sem saber por que,
Passei por guaritas solitárias e seus vigias.

Quieto, cessando o som de meus passos,
Já fiquei parado a ouvir um grito dilacerado
Que de outra rua vinha, atirando seus laços

Por sobre as casas, sem dizer adeus ou implorar
O meu regresso. E mais distante ainda, numa
Altura irreal, vi um relógio luminoso a proclamar

Que não há no tempo verdade nem inverdade.
Sou dos que tiveram com a noite alguma intimidade.



(Tradução livre de Silveira de Souza, especialmente para esta Confraria, dezembro/2014)



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DA SÉRIE “NOSSA LÍNGUA”







GAFES PUBLICITÁRIAS


A SÓSIA DE BROOKE SHIELDS

Sósia (pessoa semelhante ou parecida a outra) é sempre o: o sósia, um sósia, quer tenhamos homem, quer tenhamos mulher:

Ivã é o sósia de Tarcísio Meira.
Luiza Brunet é seu sósia, Hermengarda?
Maísa é um sósia perfeito de Lúcia Veríssimo! Lindíssima!

Se algo aí lhe causa estranheza, caro leitor, note que ídolo também é apenas o:  Lúcia é meu ídolo. Afirmar que Lúcia é minha ídolo é ser fã demais...
Eis agora, um anúncio de uma grande revista nacional:

A edição deste mês de P...B.y traz a irresistível sósia brasileira de Broole Shields.

De fato, ela é um sósia irresistível...

Em tempo – Um dicionário brasileiro, revisto e ampliado, registra sósia como nome comum-de-dois. Não é. Sósia é um nome sobrecomum, a exemplo de ídolo, registrado ali corretamente. As edições anteriores traziam o registro correto. Por que mudaram?

[ Luiz Antônio Sacconi, Gafite, nº. 1, abril 87, Nossa Editora, p. 20]



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DA SÉRIE  “REPASSANDO”




(Arte no café de Michele Espíndola, Café Mineiro, Lagoa da Conceição)



SÓ A LÍNGUA PORTUGUESA PERMITE ESCREVER ASSIM


Paulo Pedro Pereira Pinto, pequeno pintor Português, pintava portas,
paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar
Panfletos. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder
progredir.
Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para
Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres.
Porém, pouco praticou, porque Padre Pedro pediu para pintar panelas,
porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas. Pálido,
porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir
permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo,
portanto, Paris. Partindo para Paris, passou pelos Pirineus, pois
pretendia pintá-los. Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu
penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois
perigosas pedras pareciam precipitar-se, principalmente pelo Pico,
porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada,
provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo
percorriam, permanentemente, possantes potrancas. Pisando Paris, pediu
permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos,
pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos,
pestilentos, perniciosos, preferindo Paulo Pinto precaver-se. Profunda
privação passou Paulo Pinto. Pensava poder prosseguir pintando, porém,
pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos
pesares, principalmente por pretender partir prontamente para
Portugal. Povo previdente! Pensava Paulo Pinto... - Preciso partir
para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando
principais portos portugueses. Paris! Paris! Proferiu Paulo Pinto.
- Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo
progredir. Pisando Portugal, Paulo Pinto procurou pelos pais, porém
Papai Procópio partira para Província.
Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão
para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas. Profundamente
pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão,
penetrou pelo portão principal.
Porém, Papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu: - Pediste
permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo
Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia.
Porque pintas porcarias? - Papai, - proferiu Paulo Pinto - pinto
porque permitistes, porém, preferindo, poderei procurar profissão
própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por
Portugal. Pegando Paulo Pinto pelo pulso, penetrou pelo patamar,
procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr
Paulo Pinto para praticar profissão.
Perfeito: Pedreiro! Passando pela ponte precisaram pescar para poderem
prosseguir peregrinando. Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém,
passando pouco prazo, pegaram pacus, piaus, piabas, piaparas,
pirarucus. Partiram pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar
pertinho, para procurar primo Péricles primeiro. Pisando por pedras
pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro
profissional perfeito. Poucas palavras proferiram, porém prometeu
pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Paulo Pinto.
Primeiramente Paulo Pinto pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe
para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos.
Particularmente Paulo Pinto preferia pintar prédios. Pereceu pintando
prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas.
Pobre Paulo Pinto pereceu pintando...

Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois
pretendo parar para pensar... Para parar preciso pensar.
Pensei. Portanto, pronto: Pararei!

(Recebido por e-mail, autoria desconhecida)



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O MELHOR LIVRO DE POEMAS QUE ESCREVI POUQUÍSSIMOS PODERÃO LER NESTA VIDA.
ELE ESTÁ IMPRESSO NO MEU CORAÇÃO! E TU, COM CERTEZA ESTÁS LÁ, EM TODOS
OS VERSOS QUE NÃO FORAM PUBLICADOS.

(Pinheiro Neto)


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CONFRARIA DO [meu] POEMA-pn



Vendes teu ato?
Doído tempo
que te faz
conhecer-te limitado
de saber profundo
e sem moeda.

Que palavra  usas
para teu ato?

Alugas num quarto
que palavra?  

 (Pinheiro Neto, Comércio, A rosa do verso, 1988, p.31)