domingo, 9 de novembro de 2014

Edição nº. 65









 PAPO NA CONFRARIA: KÁTIA REBELO


1- O que te motiva a escrever?

Escrevo para dar o meu depoimento sobre a vida. Dizer como eu vejo o mundo. Contar uma história que surgiu de uma ideia e tomou forma para se transformar em um livro.


2- Cite os TRÊS livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida?

Rebecca, de Daphne Du Maurier.
Casa Velha, de Machado de Assis.
Os papéis de Aspern, de Henry James.


3- Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de:

a)         Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries)

Trabalhei muitos anos como bibliotecária e acredito que a biblioteca escolar precisa ser uma extensão da sala de aula. Uma visita orientada à biblioteca fará com que os alunos conheçam, por exemplo, a literatura clássica de Monteiro Lobato: Reinações de Narizinho e a literatura moderna de Ana Maria Machado: Bisa Bia Bisa Bel. O que realmente importa é o contato do leitor/estudante com o acervo disponível na biblioteca.

b)         Alunos do Ensino Médio

No Ensino Médio o elo entre sala de aula e biblioteca precisa ser reforçado. Para instigar a imaginação, a leitura de narrativas de mistério, desperta a curiosidade dos leitores/alunos. Indico Crime na baía sul, de Glauco Rodrigues Correa, pois além de ser uma ficção policial, traz um final inesperado.

c)         Alunos do Ensino Superior

Aos alunos da graduação indico Machado de Assis. A leitura de Dom Casmurro, bem conduzida pelo professor, será um encontro prazeroso e desafiador com a volubilidade do narrador Machadiano.


4- Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?


Escrevo todos os dias. Mesmo que seja para revisar, acrescentar um parágrafo, uma sentença ou mesmo um vocábulo. É necessário manter o ritmo de produção.

5- Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.


Deveria haver maior apoio às artes: prêmios literários, incentivo aos novos autores. O setor público concede apoio com editais, contemplando assuntos ligados ao folclore local, atestando o “Instinto de Nacionalidade” que Machado de Assis já abominava no século dezenove. O que realmente importa, é o “Sentimento íntimo”, pregava o autor. Afinal, um tema universal alcança um maior número de leitores.


6- Fale sobre o papel das Academias  de Letras em relação à Língua e à Literatura?

Nas Academias de Letras os escritores unem forças, seja na valorização da língua, com palestras e produções dos autores, como também na publicação e divulgação dos trabalhos dos acadêmicos.


Kátia Rebelo é natural de Florianópolis. Formou-se em Biblioteconomia na UFSC. É mestre e doutora em Literatura. Suas obras: A casa da praia, 1988; Homicídio em dó maior, 1966; Coincidência!, 1999; Em nome da arte, 2000; Olhos de vidro, 2001; Por falar em fantasma, 2005; O silêncio do olhar, 2011 e A realidade e a ficção, 2013 (todos pela editora Papa-livro).
É membro da Academia Desterrense de Letras, onde ocupa a cadeira número 2, e da Academia São José de Letras, cadeira número 30.  


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DA SÉRIE "POETAS MULHERES - 7" 



                                    [Franklin Cascaes, Bruxa]






CORAÇÃO CANSADO


Bate forte coração cansado,
sob o peso de tantas ilusões,
por belos sonhos embalados
ao som de velhas canções.

Bate pelas esperanças malogradas,
se amarguras que teimam em voltar.


Bate enfim para lembrar
de alguém o derradeiro afago
que, num passe de mago,
te fez um dia (segredo?)
fortemente pulsar!


[ Silvia Amélia, Poemas do meu caminho, Coleção ACL, 2,Florianópolis, 1993. “Homenagem ao Centenário de nascimento da Secretária Perpétua da Academia Catarinense de Letras”.] 
                                                             
 
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POR RAZÃO NENHUMA


desejo um riso
profundo
que não corra
o raso risco
ou uma rente
rasura
e se curve 
sem motivo
desalinhando o siso
do sol da boca


[Valéria Tarelho, Face 01-10-2014]




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[Arte de Michele Espíndola - Café Mineiro/2014]



MISTÉRIOS

Imagens fatigam
Rodeadas de batalhas
Velho é o tempo
Fora de casa
No quintal de quimeras
Vergel de primaveras
Limite temporal
Mora entre vírgulas escondidas
E interrogações solitárias
E eu, entro no mistério
De colher orvalhos
Ao amanhecer...

[Vany Campos, Relicário, Porto Alegre, Evangraf/Somar, 2014, p.21]


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TEIA

Ela tece sua teia
se enrola se enleia
os fios trameia
na teia.
Como gangorra
sobe
desce
pelos fios balança
se lança
quase cai.
Equilibra avança
o topo logo alcança
enlaça abraça
suas crias cria
passa a noite
chega o dia
ela continua sua lida
sua vida conquista
realiza
vence.

Ela é uma MULHER!

[Adélia Einsfeldt, POA/RS]


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[Arte de Michele Espíndola - Café Mineiro/2014]





FEITO A LUA

És feito a lua...
reluzente
misterioso
sombrio!
Ora aparece
ora nebuloso,
ora fugidio!

És feito a luz ...
tímido
prata
faceiro!
Ora some,
ora reflete,
ora inteiro!
Ah! Como eu gosto da lua cheia!
                        
                       [ Andréa Lúcia, RJ]


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MOMENTOS

Minutos não esquecidos,
Lembranças vividas,
Carinhos enternecidos
Em consequentes idas.

Não obstante o olhar,
Pasmo, fico a pensar,
Ideias fazem pairar
Suspiro a desabrochar.

No desencanto da vida
Espero o desenrolar,
Como tudo se faz passar
Vivo mementos, torno a pensar.

[Elba Khadija Gomes, RJ]


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SERENIDADE

O barulho da água a jorrar
Liberta o pensamento no ar

Voa livre, sem destino.
Busca o eu encontrar

As ideias a navegar
As imagens refletem sobre o mar
Assim como as ondas livres e calmas a quebrar

A paz invade contente
O coração da gente

É possível notar
O movimento ao respirar
A presença de Deus
Trazendo o conforto
O ambiente para orar!

[Flávia Assaife]


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[Arte de Michele Espíndola - Café Mineiro/2014]





NOS BRAÇOS DA POESIA

Num repente as palavras acordaram
Revelando todos os meus reversos
Em rimas, as letras sobejaram
Suscitando a cumplicidade dos versos.

Chegou, do silencio elegendo o fim
Desatando o que interditava a voz
Na aridez do papel promoveu jardim
Meu dia amanhecendo, vibrante, veloz.

Então, silente, por minhas ruas andei
A sussurrar segredos em cada passo
Do tempo e das emoções me apossei
Sosseguei nos veros, mau cansaço.

[Glória Salles, Flórida Paulista/SP]


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BORBOLETAS AZUIS

mulher em metamorfose
transcende csheiro primaveril

cálice de pétalas pequeninas
transborda suavidade
feitiço
das borboletas azuis

suave odor a sensualidade feminina

[Jania Souza, Natal/RN] 



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Poema de Valeska Cabral/ RJ






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DA SÉRIE CRÔNICAS



 Um pescador com alma de poeta

                       
       Havia um pescador que vivia numa belíssima aldeia, numa casa modesta, à beira mar. Tinha um filho lindo e uma esposa que reclamava de tudo: da vida que levava, da pobreza e até do próprio filho. Matias saia todos os dias cedo, levava consigo uma rede nas costas e uma marmita. Tinha uma expressão triste, e enquanto caminhava na areia branca da praia recitava alguns versos do escritor Victor Hugo “Da espalda de um rochedo, gota a gota / límpida fonte sobre o mar caia, / Mas, ao vê-la tombar em seu regaço/" O que queres de mim? "O mar dizia. / Eu sou da tempestade o antro escuro/ Onde termina o céu aí começo/ Eu que nos braços toda a terra espreito / De ti, tão pobre e vil, de ti careço?...”/ No tom saudoso do quebrar das águas/ Ao mar, serena, a fonte assim murmura:/"A ti, que és grande e forte, a pobre fonte/ Vem dar-te o que não tens, dar-te a /doçura!...”

Passava o dia todo no mar buscando a sobrevivência, e a poesia era a sua companheira. O velho professor da aldeia o alfabetizou, e Matias se tornou um apaixonado pelas letras. Muitas vezes, o pescador com alma de poeta trocou peixes por livros de poemas. O mestre sabia que Matias poderia se tornar um escritor, só que a pobreza o impediria, pois tinha que buscar o sustento da casa e deixar de estudar assim que terminasse a quarta série. E assim aconteceu, sendo que Matias não abandonou os livros.

     Os homens do mar carregam consigo sentimentos de pureza e amor pela vida. Os sorrisos e os olhares denotam a simplicidade do ser humano, das pessoas que levam uma vida simples à beira do mar. Matias conquistava as pessoas através do seu jeito manso de falar , e principalmente quando ilustrava o diálogo com poesias. Falam que os poetas são tristes e ele não era diferente, e seus olhos azuis pareciam estar sempre chorando. Todas manhãs os pescadores cumpriam a missão, de ir ao mar, e as embarcações enfileiradas sumiam nas ondas do mar. Na orla, filhos e esposas se despediam em silêncio, sempre com ares de preocupação, porque alguns pescadores foram e não retornaram. Se bem, que com o passar do tempo se conformavam. A paisagem do mar, os coqueiros, a areia branca intactas, algemava qualquer pessoa sensível!Os dias passavam e a dor da viúva e dos filhos se tornava menos dolorosa. Naquela praia não havia nenhum vestígio de impureza, havia somente ondas tombando ininterruptamente, puro espaço e lúcida unidade, onde o tempo apaixonadamente encontrara a própria liberdade.

     Numa manhã sem sol, Matias acordou pensativo. Chegou até o mar, não foi pescar e sentou-se sobre uma duna, olhos perdidos no horizonte, nostalgia e uma insatisfação. Não conseguiu trabalhar e voltou para a casa, e antes de pôr o pé na porta lá vem a mulher gritando “Matias, isto é hora de voltar para a casa, e os peixes? Cada dia mais pobre, homem fracassado! Estou casada com um sujeito que me trouxe para esta aldeia pobre e seu filho é igual a você, não vai ser nada na vida!” Matias deitou-se na rede com o menino, abraçados adormeceram... Maria fez a mala e partiu.

    Segundo a lenda, pai e filho nunca mais acordaram. Foram transformados em anjos, que protegem a aldeia até hoje. A morada desapareceu. Ali nasceu uma árvore verde, e bela, que ofusca os olhares de todos que por ali passam, uma magia! Movimentam-se no ar dois galhos enormes, em formato angelical, parecem dois anjos de mãos dadas. Segundo a lenda, é a árvore mais bonita da aldeia, única que é frutífera o ano inteiro, um fruto delicioso! Só que, por entre as folhas da majestosa árvore, por trás dos galhos escorrem as lágrimas...


[Maria de Fátima Pavei, 11/02/2010]







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LI E RECOMENDO (8)






A CERIMÔNIA DO ADEUS


Em 1924, aos 19 anos de idade, Jean Paul Sartre deixa a cidade portuária de La Rochelle, onde vivia com a mãe e o padrasto, retornando a Paris para se matricular na Escola Normal Superior, o centro de discussão cultural, filosófica e política da época. Nesse ambiente, conheceu Simone de Beauvoir, através do amigo comum Herbaud. A identificação entre os dois foi total. Logo no primeiro encontro, o futuro autor de O ser e o nada e Crítica da razão dialética  declarou: “A partir de agora eu tomo conta de você”. Desde então, até a morte de Sartre em abril de 1980, Simone foi sua companheira inseparável. Participaram juntos de todos os grandes acontecimentos decisivos de nosso tempo, da Resistência a Maio de 68. Nunca se casaram, viveram perto um do outro, mas não sob o mesmo teto, segundo um projeto de amor sem quaisquer obrigações – nem mesmo a da fidelidade. Em Balanço final, recordando essa época, Simone se interroga: “Como teria evoluído se não tivesse encontrado Sartre? Ter-me-ia libertado mais cedo ou mais tarde de meu individualismo, do idealismo e do espiritualismo que ainda me dominavam?” E conclui: “Não sei. O fato é que o encontrei e que esse foi o acontecimento capital de minha existência.”

Em A cerimônia do adeus Simone de Beauvoir relata os últimos dez anos da vida desse homem fascinante, num tom ao mesmo tempo distante e comovente. O livro é o “diário-de-bordo” dessa longa morte. Simone de Beauvoir fala das crises de hipertensão, da cegueira, da progressiva falta de memória, das bebedeiras de Sartre. É um documento atroz, doloroso, mas que, contra o que pode parecer, homenageia Sartre. Um depoimento nada lírico, muitas vezes contendo até frases de um desespero absoluto: “Sua morte nos separa. Sua morte não nos reunirá. É assim: já é belo que nossas vidas tenham podido harmonizar-se por tento tempo.”

O livro é composto também por uma longa série de entrevistas realizadas por Simone com Sartre em épocas diversas. Ela, faz ainda alguns acertos de contas, não com Sartre, que ela admira inteiramente, mas com pessoas que, segundo ela, no final de sua vida, o desviaram de si mesmo, como Benny Levy, ou Victor, que se tornou célebre por ter recolhido a última grande entrevista do filósofo, publicada na revista Le Nouvel Observateur. “Victor”, diz Beauvoir, “não expressava diretamente nenhuma de suas opiniões. Fazia com que Sartre os endossasse, representando em nome de não se sabe que verdade o papel de produtor. Seu tom, a superioridade arrogante que tomava com Sartre revoltaram todos os amigos que tiveram conhecimento desse texto. Ficaram como eu, aterrados pelo conteúdo das afirmações extorquidas de Sartre... Victor era volúvel, estonteava Sartre com palavras, sem lhe deixar o tempo de que precisaria par organizar-se.” Esse absurdo é um dos últimos episódios tristes da vida do escritor.

Poucos intelectuais na história do pensamento ousaram tanto e deixaram uma obra tão eclética. Filósofo, romancista, dramaturgo, jornalista, militante, Sartre foi sobretudo um homem generoso e livre. A busca incessante da verdade o levou a passar suas convicções por um implacável molinete dialético. Combateu todas as instituições, recusou o Nobel, se solidarizou sempre com as minorias. “O silêncio é reacionário”, disse em 1976.

O livro de Simone certamente seria lido com aprovação por Sartre, amante da coragem, da verdade e do rigor. Ficará para todos que se interessam por ele e sua ação na história como um testemunho essencial e patético.

Para Gilles Lapouge, “lê-se A cerimônia do adeus dividido entre o horror (pois seria lícito dizer tudo, não passar em silêncio nenhuma das horas dolorosas da agonia?), a admiração (pois não é heroísmo por parte da mulher dizer tudo?) e as lágrimas – pois, no dia em que morreu Jean-Paul Sartre e em que foi enterrado, toda a Paris se reuniu espontaneamente: 50 mil desconhecidos, jovens principalmente, seguiram silenciosamente o carro fúnebre no qual repousa agora esse homenzinho macilento, feio, que foi no coração de todo um meio século a mais lúcida, a mais generosa das testemunhas.”

[A cerimônia do adeus, seguido de Entrevistas com Jean-Paul Sartre, agosto-setembro 1974, Simone de Beauvoir; tradução de Rita Braga, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982.]




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PASSEI UMA VEZ POR UMA CIDADE POPULOSA


Walt Whitman

Passei uma vez por uma cidade populosa buscando guardar  na mente,
        para uso futuro, seus acontecimentos, costumes, tradições e arquitetura.

 No entanto daquela cidade lembro hoje somente de uma mulher
       que encontrei por acaso e que me deteve ali dado seu amor por mim.

Dia após dia e noite após noite estivemos juntos — tudo mais
       foi esquecido há muito tempo.

Recordo apenas, repito, daquela mulher que apaixonadamente se ligou a mim.

E agora de novo caminhamos pelas ruas, nos amamos, e nos separamos.

De novo agora ela me segura pela mão, não devo partir.

Vejo-a bem próxima ao meu lado, com seus lábios silenciosos, tristes e trêmulos.

                                                                   

 (Tradução de Silveira de Souza, especialmente para esta Confraria, outubro/2014)                                                                              
                                             
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DA SÉRIE “NOSSA LÍNGUA”












GAFES JORNALÍSTICAS



dois anos atrás

Alguns gostam muito de chover no molhado. Outros, que isso não apreciam, ficam resfriados só de pensar...

Quem usa já está dizendo que foi atrás. Esse equivale a faz. O caro leitor já viu alguém usar “faz dois anos atrás”? Por que, então, construir “dois anos atrás”?

Deixemos o atrás para trás e usemos daqui para a frente só assim:

dois anos não havia o Plano Cruzado. E agora, há?
três anos não havia esse governo.
O presidente eleito morreu quase três anos.

Quem usa “dois anos atrás” - e se sente bem – está autorizado a usar também: entrei lá dentro, saí lá fora, subi lá em cima, desci lá embaixo, pomar de frutas, adega de bebidas, demente mental: tudo é farinha do mesmo saco.

Quem faz questão de usar atrás, então, que não use há:

Dois anos atrás não havia o Plano Cruzado.

O presidente eleito morreu quase três anos atrás.

Num dia de agosto (mês de mau agouro sobretudo para nós, brasileiros) se leu num de nossos jornais:

Na data de hoje, 24 anos atrás, Jânio Quadros renunciava à Presidência da República.

Eis aí um mau exemplo...

[ Luiz Antônio Sacconi, Gafite, nº. 1, abril 87, Nossa Editora, p. 17]



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CONFRARIA DO [meu] POEMA-pn


Não será a frase tola
a palavra fácil,
o olhar comum;

Não será a verdade,
a vontade, o desejo,
o tempo passageiro;

não será coisa alguma
ou tudo isso
que te fará feliz.

Apenas meus minutos,
meus pobres e poucos
minutos
te darão prazer.
 
(Pinheiro Neto, Minutos poucos, A rosa do verso, 1988, p.69)