domingo, 29 de dezembro de 2013

Edição nº. 55

                       






PAPO NA CONFRARIA: C. RONALD SCHMIDT


1-O que te motivou a escrever?

Caro Pinheiro, eu só nasci para ser poeta. Não tive motivação nenhuma. Aos oito anos comecei a escrever versinhos publicados nos jornais da terra graças ao jornalista, amigo do meu pai, chamado Antônio Sbissa. Até hoje, nunca tive motivo para escrever. A coisa vem como um tornado. E eu só sei que escrevi após o vento desistir de ser.


2-Cite três livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida.

O primeiro livro que amo até hoje é o Robinson Crusoé. Um solitário náufrago que foi parar numa ilha (a nossa?). Na adolescência o Vermelho e o Negro, Balzac, Os irmãos Karamazov, Proust; depois só poetas. Li, pelo menos um poema, de todos os poetas importantes do mundo. Parece mentira, mas não é.


3-Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de: Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior.

Todos os livros de Machado de Assis ( com exceção de A mão e a luva), até o ensino superior.


4-Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?

Sento na poltrona, espero uma frase. Se for a que meu espírito espera, toco pra frente e nem quero saber se vai dar certo.

5-Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.

Para eles só existe o dinheiro e a política.


6- Fale sobre o papel das Academias de Letras em relação à Língua e à Literatura.

As Academias são importantíssimas quando não são como a Brasileira, cheia de medíocres como o nordestino pai dos Marimbondos de Fogo. Vamos fazer a língua conforme ela vai rolando para o futuro. Língua e literatura não são coisas que se confundam para dizer o que o ser humano deve dizer para sempre.




(*) Ocupante da Cadeira 25 da Academia Catarinense de Letras.













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CANÇÃO DE ASSOBIAR SOZINHO

Correm notícias sobre a vida
na incontida chuva que se esvai,
e assim a poesia preferida
sufoca e se derrama nesse mar.

Fala-se do tempo nas esquinas,
palavras vãs; meninas sem pudor.
Fala-se  também do amor
com ares de felicidade e afeto.

Da paixão passa-se ao largo,
amargo doce de viver e requerer saudade.
Canção de assobiar sozinho
caminhando pelas ruas da cidade.



Marco Araújo, Poemas à Flor da Pele vol. 5, p. 120, 2013)


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“CAMINANDO POR LAS CALLLES”... (Rui Bittencourt)
BUENOS AIRES REVISITADA.

Somados, aniversário familiar e uma das maiores feiras
de  livros do  mundo,  nos  levaram – mais uma vez –
 à  capital  portenha.   Renova-se  o  encanto...!

Piazzolla, na letra de seu clássico “Balada  para um Loco”,  saiu de  casa
em Arenales  –  “las tardecitas de Buenos Aires tienem ese que se yo,
viste”?  -  e, caminhando pelas ruas,  não demora  cruza com um nada
discreto louco,  que sai detrás de uma árvore, pintado, meio melão na
cabeça,  bandeirinha de táxi livre em cada uma das mãos...e no entanto
parecia que só ele (Piazzolla) o via.
O doido faz reverência, tira o melão da cabeça, lhe dá de presente uma
bandeirola e, meio cantando, meio voando, diz:  “Yo sé que estoy pintao,
pintao, piantao(*)...no ves la luna rodando por Callao...Yo miro a Buenos
Aires del nido de um gorrión(**) ”
(*) - louco, pinéu / (**) – ninho de pardal.

Bela capital a dos vizinhos argentinos. Eterna, sempre com agradáveis
surpresas.
Depois de um bom tempo a revisitamos, tiramos  fotos...e gastamos sola (do
sapato) . Nas imediações de  Junín e Córdoba  residimos  por dois longos
anos, eu estudante em  pós-graduação  e Teca, minha mulher,  dando aulas de
português no CEB (Centro de Estudos Brasileiros), órgão cultural da
Embaixada do Brasil. Predio antigo,  de saudosa lembrança, a diretora era
ninguém menos que Maria Julieta Drumond de Andrade, filha do grande
poeta/escritor mineiro Carlos Drumond de Andrade...mas essas são outras
estórias.

Os Gipsy Kings também foram adaptados e cantados na portuária BsAs em seu
“caminando por la calle yo te vi, y un dia me enamoré de ti”...

Tenho comigo, até hoje,  que a grande magia de Buenos Aires  é  caminhar
descompromissado por suas  ruas e amplas avenidas. Pegar o sol na face,
olhar vitrines, o vai e vem do ser humano bem trajado  e...numa loja
qualquer de discos, parar, fechar os olhos, ouvindo o som maravilhoso de
“La Cumparsita”, de Gardel (preferida de meu pai),  ou o bandoneón vibrante
 das baladas de Piazzola,  seus  “Invierno y Verano  Porteños”,  sem falar
da melódica  Adiós Nonino, excepcional, de encher os olhos de lágrimas.

Seguir em frente, “caminando, volando”, cantarolando pelas ruas, aguardar o
sinal abrir, as pessoas, o clássico no vestir, as belas construções,  Santa
Fé, Marcelo Alvear, a peatonal Lavalle,  mesmo a comercial calle Florida.
Volta e meia inala-se o aroma sutil dos  tantos cafés existentes, de suas
empanadas ,“media lunas”.  Muito bom  curtir as típicas  mesinhas de
calçada...toalhas xadrez, a senhora elegante tomando chá, lendo Clarín, La
Nación...um livro surrado.

Paradisíaca para  os que gostam de ler, descobrir preciosidades em seus
recônditos sebos torna-se um prazer inenarrável,  sem falar da livraria El
Ateneo, na callle Santa Fé, a segunda mais linda do mundo, ricamente
decorada,  com balcões, sacadas, adaptada que foi de um antigo teatro.
Detalhe, por esses dias, é que até 13  de maio,  em Palermo (La Rural)
acontece  a maior feira de livros do mundo  de língua hispânica – Feria
Internacional del  Libro -  um show literário à parte, em espaço gigantesco,
 45 mil metros quadrados em  área coberta de pura cultura.
Sem exageros, deve-se reservar  uma tarde inteira e noite adentro para, sem
pressa,  tudo ver, folhear, bisbilhotar e  comprar...pois os preços são
ótimos.

Há os que dizem que muito de seu glamour perdeu-se com o tempo. Como soe
acontecer em geral com as grandes cidades, a questão segurança requer um
pouco mais de atenção, mas o centrão é  seguro,  bem policiado.
As ecléticas construções mantém-se intactas, em nosso entender o Cabildo, na
praça central, e o antigo prédio das Obras Sanitárias de La Nación, este na
Av. Córdoba, dos teatros, são imperdíveis.
Recoleta,  Caminito, Plaza San Martin, de Mayo, Palermo Verde, Viejo, a
imponente  catedral do papa Bergoglio,  não podem deixar de ser visitadas.
Shows de tango em diversos locais, é imperdível um final de tarde  em Puerto
Madero, sua “Puente de La Mujer”, navio/museu Sarmiento atracado, iluminado,
e jantar à luz de velas. Depois pegar um táxi e, em questão de minutos,
parecendo retroceder um século no tempo,   visitar San Telmo, suas ruas
calçadas com pedras que refletem a luz das luminárias, histórica praça
central, Dorrego e, nas  mesinhas  ao ar livre, rodeada de bares e
antiquários, sentar, ouvir bandas de jazz, tangos e grupos folclóricos  com
suas flautas e batuques. Ótimo momento  para uma jarra (“pincher”)
transbordante da boa cerveja Quilmes ou dos excelentes espumantes
“criollos”...ou os ótimos vinhos  de Mendoza.
 Aos domingos nessa mesma praça acontece  tradicional  Feira de
Antiguidades.

Calle Florida, avenida 9 de Julio e parte de Santa Fé estão em obras, um
pouco incômodo, além das insistentes ofertas de “cambio, cambio...dolar,
reales”, frente à moeda local desvalorizada.
Manifestações políticas podem ocorrer a qualquer momento, em qualquer lugar,
mas sem problemas, é só fazer-se um desvio entre as tantas opções no
quadriculado de ruas centrais.
Garimpar, o que turista muito faz, também é ótima opção na capital portenha.
Avenida de Mayo, sapatos, botas, roupas baratas no Onze, Palermo, outlets na
Córdova, aproveitando seus cafés e ótimos restaurantes, que existem por
todos os lados – descubra o seu - servindo  suculentos bifes de chorizo,
papas fritas e o emblemático tinto Malbec.

Não é uma opção para todos, mas a chic Recoleta com seus apartamentos de
luxo, cafés e restaurantes sofisticados, também é  “dona” do famoso
cemitério La Recoleta. É  o mais antigo e aristocrático, conhecê-lo e seus
ricos mausoléus é ver  passar a história da cidade. Em seus quase seis
hectares estão sepultados heróis da Independência, presidentes da República,
militares, cientistas,artistas e...Evita Perón.  Perón, o maridão,  tem seu
mausoléu em São Vicente, terra natal, 50 km ao sul da capital.
O maior cemitério da América Latina, no entanto,  é o de Chacarita, onde
descansam os geniais  Carlos Gardel, Piazzolla,  também digno de visita,
como milhares de fãs do tango do mundo inteiro o fazem.
“Viajar é investir em felicidade”.
“Veni, Volá, Vení...”
Viver Buenos Aires, entre as cidades  mais turísticas do mundo, é fazer jus
ao ditado.


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LI E RECOMENDO-pn (6)


DEDO DE MOÇA

Somente em novembro deste ano  tive a oportunidade de conhecer Dedo de Moça, uma antologia das escritoras suicidas.  Organizada por Florbela de Itamambuca, de Ubatuba/SP e Silvana Guimarães, de Belo Horizonte/MG. o livro, lançado pela Terracota de São Paulo em 2009, como a grande maioria  das edições brasileiras, padece  da falta de distribuição em território nacional. Nós de cá não conhecemos os (as) de lá e vice versa. Visitei todas as livrarias de Floripa e nenhuma possui um único exemplar.

Recebi o livro como presente de minha amiga do face, uma de suas integrantes, Valéria Tarelho, poeta de quem falarei posteriormente, e não mais o larguei. Está sempre comigo.

Falar sobre “Dedo de Moça” é falar necessariamente sobre um dos melhores sites literários hoje na web, o Escritoras suicidas.

Não conhecia nem um nem outro. Quiçá tenha transitado en passant por algum trabalho de alguma das integrantes em outras publicações ou mesmo referências, não lembro.

Trinta autoras, mulheres assumidamente escritoras, feminina ou masculinamente falando, já que alguns escritores transitaram e/ou transitam camuflados junto delas, dando uma dimensão das mais democráticas ao livro, em termos de gênero.

São textos – contos e poemas – escritos com uma força literária digna de escritores já consagrados pela crítica mundial. Sensibilidade e rudeza, sonho e realidade, encantamento e crueza (frieza) são ingredientes que perpassam os textos e através deles nos prendem e comovem.

Escritoras suicidas: algumas passaram, muitas passarão, outras passarinhas.

Tornei-me um fã, um fanático.
A banalidade está presente hoje na maioria dos poemas. Grande parte dos que se dizem poetas nem consegue escrever poemas. Pensa que o faz mas não. Poucos são originais. Pouquíssimos conseguem perpassar as figuras de linguagem, trabalhar corretamente a língua, transitar pela metalinguagem.

Sabemos que nada é novo, que tudo já foi escrito sobre tudo. O que nos resta, daqui para a frente, é tentar  imprimir a nossa maneira de ver poeticamente o mundo, com originalidade, com impecabilidade linguística e com utilização criativa das metáforas e demais figuras de linguagem. E isso, as integrantes do livro o fazem muito bem. Grande parte do que resta é mesmice, meleca.



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CONFRARIA DO POEMA-pn

NATAL  2013

Neste Natal
- nascido esperança –
renovam-se votos
na crença
nos homens
na humanidade.

Todo sofrimento
todo sacrifício
de novo [re]lembrados.

Atos [re]pensados
fatos [re]vividos.
mãegedoura [re]visitada
mar[tí]rio aquecido.

(Pinheiro Neto/2013)

UM FELIZ NATAL E UM 2014 PLENO DE ALEGRIAS, SAÚDE, PAZ, AMOR E SUCESSO!!!!!!!








quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Edição nº. 54








PAPO NA CONFRARIA: MOACIR PEREIRA



1-O que te motivou a escrever?

No jornalismo, o prazer de comunicar e multiplicar  aquilo que é de interesse público, denunciando o ilegal e promovendo o positivo,  tendo o reconhecimento pela audiência ou pelos gratificantes depoimentos.  Nos livros, a incomparável satisfação de resgatar fatos e personagens, deixando para as novas gerações temas da história ou da conjuntura que devem permanecer na memória do Estado.


2-Cite três livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida.

 D. Quixote, de Cervantes; D. Casmurro, de Machado de Assis; História de Santa Catarina, de Oswaldo Rodrigues Cabral.


3-Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de: Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior.

a)      Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries)
 A Ilha”, de Virgílio Várzea

b)     Alunos do Ensino Médio
 D. Quixote, de Cervantes

c)      Alunos do Ensino Superior
Guerreiros de Deus”, de James Reston Jr.


4-Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?

 Na atividade jornalística,  em cima dos acontecimentos, testemunhando-os, de preferência.  Redigindo o texto seco, objetivo. Ou analisando fatos de interesse maior da população.  Na elaboração de livros, com dados pesquisados, entrevistas, biblioteca ao redor e dicionário ao lado.

5-Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.

 Inexiste em Santa Catarina uma política pública de incentivo à literatura e aos escritores, o que é profundamente lamentável.  Um Estado que é a sexta economia do Brasil poderia ter uma presença mais produtiva e rica na literatura.  Na área privada, há um destaque que merece registro: o grupo Tractebel, que apoia editores, escritores e eventos artísticos e culturais da Capital e do Estado.  É merecedor do melhor prêmio entre os incentivadores.


6- Fale sobre o papel das Academias de Letras em relação à Língua e à Literatura.

Manifesto  frustração em relação às atividades da Academia. Imaginava a realização de ricos debates sobre a literatura catarinense, palestras sobre literatura nacional e internacional, tendências literárias.  Sonhei muito com apreciações sobre os “best sellers”,  sobre os melhores filmes e as músicas que mais tocam nossa alma. 


(*) Ocupante da Cadeira 03 da Academia Catarinense de Letras.





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PASSAREI PASSARÃO PASSARÁ


uma crença
:
eles crescem
criam asas
deixam vazio
o ninho


por incrível
que pareça
são crianças
esses filhos
passarinhos


crias aladas
criadas no bico
desde petizes
com certeza
são aves
azes
‘voáveis’

garças a deus


(Valéria Tarelho, in Agenda da Tribo, 2013/14)
















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AVENCAS E CEDRO (*)

Quem conhece flores e folhagens sabe distinguir uma avenca de outras folhagens. Para quem não sabe posso afirmar que, de todos os tipos de folhagens, a avenca é oque se pode comparar a delicadeza e ternura. É uma planta que prefere locais onde haja bastante sombra e umidade, portanto, é muito recatada...
Anos atrás, usava-se avencas na complementação de ramalhetes de rosas, cravos e violetas de Parma, quando a violeta africana, que conhecemos hoje, em vasinhos e com diversas cores não era, ainda, cultivada por aqui. Os delicados galhos de avencas guarneciam, também, os tradicionais buquês de noivas.
Como quase tudo na vida encontra um contraste, um paradoxo, lembrei-me de uma flor que praticamente se defronta com a avenca o que se refere a delicadeza. Não se trata da vitória régia, enorme planta da Amazônia. Refiro-me à flor do cedro.
O cedro é uma enorme árvore, cuja madeira é muito usada na fabricação de casas e mobiliário, sendo uma das “madeiras de lei”. No entanto, poucas pessoas sabem sobre suas flores. Por se tratar de uma planta hermafrodita, não possui pólen para  sua propagação. As flores, de madeira, são formadas em cachos e caem ao chão quando as cápsulas (botões) se abrem em cinco pétalas e um maciço miolo.
De uma beleza grosseira e inodora a flor do cedro contrasta com a quase diáfana avenca, cada qual com uma beleza peculiar.
Quantas avencas e flores de cedro encontramos na nossa vida, não é mesmo?  Pessoas com delicadeza, sensibilidade e modéstia que, muitas vezes permanecem na sombra, não sobressaindo dos demais, e, no entanto, sendo apreciados e valorizados, apesar de seu quase anonimato.
Em contra partida, aqueles mais fortes, embora não os mais bonitos, fazem sua parte  e conservam-se distantes, como os altos cedros, praticamente no anonimato, nem sempre sutis ou diplomáticos, mas estão sempre ao nosso lado nas horas de aperto.
E você, está na categoria da avenca ou do cedro? É bom dar uma verificada...

(*) Ivonita Di Concílio



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DO ARCO-ÍRIS


Desvairada, a varanda
como os olhos assistentes
de um arco-íris que ora,
ora sem terço, insistente.

No terço de uma hora,
sete tons invasivos,
evasivos, sem demora,
deixam penitente a varanda
isenta do colorido
já outrora.

Damaris Lopes, Poemas à Flor da Pele vol. 7, Somar, p. 46, 2013)

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ARTÊMIO ZANON, DEZ ANOS NA ACL

Há exatamente dez anos o escritor Artêmio Zanon ingressava na Academia Catarinense de Letras. Sua produção em prosa e verso bem como sua presença marcante na vida literária do Estado através de atuação em várias instituições culturais e profissionais, principalmente, na Diretoria da Associação Catarinense de Escritores – ACEs, o credenciaram para que tal acontecesse.

Na minha opinião, Artêmio Zanon (mesmo antes de sua posse) preenche todos os requisitos necessários a um membro da Academia Catarinense de Letras: 1) conhece, defende e vivencia o que diz  o Estatuto da Casa;  2) incorporou  seu objetivo maior,  “... cultivar a Língua Vernácula e defender os valores da cultura nacional e estadual, especialmente no campo literário...”; 3) tem consciência de que para tanto é preciso, antes de qualquer coisa, ser escritor (escrever e publicar literatura: romance, novela, conto, crônica, poemas; produzir pesquisas, ensaios, estudos, críticas sobre artes plásticas, literatura, folclore, cinema, história, cotidiano,  cultura enfim); 4) eleito e empossado, assumiu compromisso com a instituição participando cotidianamente de suas atividades, conhecendo e cumprindo seus direitos e deveres, destaque para “presença às sessões e estar em dia com as contribuições ou outros encargos fixados pela Assembleia”. Por outro lado, como eu, tem clareza que: a) é prudente menos empáfia e mais humildade e companheirismo; b) não basta apenas ostentar o título, a medalha e marcar presença nos eventos mais solenes e “pomposos”, deixando nos ombros de poucos a responsabilidade de resolver sozinhos os inúmeros problemas da Casa; c) é preciso ter consciência da imortalidade acadêmica, não esquecendo, em nenhum momento, a mortalidade do acadêmico.


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FOLHA EM BRANCO


Meus versos não dizem nada
e a este grito surdo
só o abismo lhe responde
em bramidos de solidão
que farfalham sem rimas
nem ecos.

(Clau Assi, Poemas à flor de pele, vol. 7, Somar, p. 37, 2013)

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CLEBER TEIXEIRA E A MÁQUINA 

Dia 03 de dezembro, terça-feira, às 19 horas, aconteceu na Fundação Cultural Badesc a pré-estreia do documentário “Cleber e a Máquina”, dirigido por Rosana Cacciatore. O filme conta a história do poeta, editor e tipógrafo Cleber Teixeira. Durante um ano, a cineasta entrevistou personalidades com quem Cleber compartilhou a vida e o trabalho como o poeta Augusto de Campos, o músico Vitor Ramil, o artista plástico Jayro Schmidt, o crítico literário Raúl Antelo, entre outros.

É através de uma máquina impressora tipográfica do século XIX, que pertencera à família de Rosana Cacciatore, que a diretora se aproxima do “poeta-tipógrafo-editor-visionário Cleber Teixeira”, como se refere a ele o poeta Augusto de Campos. Cleber aceita o desafio de recuperar a máquina que permaneceu 40 anos em silêncio. Este acontecimento constrói uma narrativa que permite o desvendamento  do mundo do artista/artífice singular.

‘Aprendiz de trovador’, como se autodenominava, Cleber Teixeira nasceu em Jacarepaguá no Rio de Janeiro. Mas foi em Florianópolis que editou e escreveu a maior parte de seus livros. A Noa Noa, sua editora é referência na publicação de traduções cuidadas para o português. Figuram entre elas a tradução dos irmãos Campos para poemas do francês Stéphane Mallarmé, uma iniciativa inédita no país. Cleber também publicou traduções de e.e. cummings, Gertrude Stein, Emily Dickinson por José Paulo Paes, Rosaura Eichenberge e outros grandes tradutores brasileiros.

Cleber não era apenas editor e tipógrafo. “Armadura, Espada, Cavalo e Fé” é sua obra poética de maior fôlego. São fragmentos espalhados por diversos livros, em edições compostas e impressas manualmente, com requinte gráfico, ilustradas e com tiragem reduzida, como a maioria dos títulos publicados pela Noa Noa.

O documentário “Cleber e a máquina” foi contemplado em 2011 com o Prêmio Catarinense de Cinema, que garantiu recursos para que o filme fosse rodado. Quem ainda não assistiu, recomendo que o faça sem demora. Vale a pena.

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CONFRARIA DO POEMA-pn
I

Guerreiros olhos
espreitam as sombras
as matas-mosquetes.

Valentia negra
sobrepuja o inimigo,
socorre a irmandade.

Pés de sola branca
com históricos sulcos
dançam o balé do sonho.



II


Zumbi(ndo) nos ouvidos
o surdo som da chibata,
gazélicas pernas ziguezagueiam
errantes à procura do quilombo.

Soltando grilhões e amarras
socorre, ajuda, esconde,
alivia a dor do irmão.

Força (in)humana sufoca ganância,
fragilidade animal liberta vontades,
rompe preconceitos
entrega-se prazer.


III

Tam tam dos tambores
no centro do quilombo,
faz esquecer por instantes
ferro em brasa, grilhões e tronco.

Tam tam dos tambores
pés, terra, poeira e requebro;
Tornam livres, por instantes,
negros iguais humanos.

Tam tam dos tambores
Zumb(i)em ainda hoje
- trezentos anos depois –
colonizador ouvido branco.

( ZUMBI(ANOS)DOR, Pinheiro Neto, Poemas Reunidos, 2010)