terça-feira, 22 de março de 2011

Confraria da Leitura-pn Edição 20

PARABÉNS FLORIPA – MEU PRESENTE, TRÊS POEMAS

Neste 23 de março, data em que se comemora os 285 anos de Florianópolis quero homenagear a cidade/ilha que me viu nascer, crescer e tornar-me um escritor encantado com suas belezas e triste pelo que vem acontecendo no seu dia a dia. Minha paixão por ela, cidade/ilha/mulher cresce a cada dia acompanhando a trajetória de minhas três filhas, Christiani, Michelle e Alessandra. São como eu, rebentos da Ilha. De uma Ilha responsável porque capital, livre e plena porque espaço suntuoso e sensual pela qual passam milhares de seres encantados, brasileiros ou não.

1- SENHORA
Minha Senhora do Desterro
Onde te escondes?
Vagueias por acaso
Nas noites de vento sul?
Passeias pelas dunas,
pela Lagoa, pelo farol?
Onde te escondes
Senhora minha
desta Desterro
que amo?
Por que me apareces
somente em tempo feio
em céu fechado
com forte vento soprando?
Onde estás
Senhora minha?
Onde estás
minha Desterro?


2- RECLAME
As árvores clamam
por tempos mais puros.
O mar reabre
judicialmente
a questão do aterro.
Vozes roucas
e assombradas
reclamam o odor
que sobrevoa
as Três Pontes;
a derrubada
do Miramar;
a morte
da Ponta do Coral.
É hora do acerto!
Os elementos
da natureza
vingarão o estupro
da minha Desterro.


3- SAL(I)DADE
Jaz sobre as pedras frias
que circundam a ilha
o verde musgo
amarelado
da poluição.
As vozes das bruxas
o canto das sereias
o grito dos sacis
foram abafados
pelos roncos das motos
pelos tiros, pelas mortes.
A loucura tomou conta
da terra de Dias Velho.
Já não há certeza
já não há segurança
para sentar à praça
ouvir o conto do tempo
ouvir as ondas
namorando o Miramar.
Já não há mais vontade
de sentir o vento sul
gelar a espinha
e resfriar a paisagem.
Já não há mais tempo
Para nós (des)humanos.

(Os três poemas são do meu livro “MINHA SENHORA DO DESTERRO”, 1981)

PARA LEMBRAR (hifen 3)

d) com prefixos, usa-se sempre o hífen diante de palavra iniciada por H. Exemplos: anti-higiênico, extra-humano, super-homem, neo-humanismo, pseudo-herói, co-herdeiro, eletro-hidráulico, macro-história, micro-história, semi-hospitalar, intra-hepático, ultra-hiperbólico, psico-higiene, geo-história, contra-harmônico, anti-histórico.
ATENÇÃO: Mantém-se a grafia sem hífen com os prefixos des, dis, in, re, trans, entre outros de uso consagrado. A extensão da regra das palavras compostas é determinada pela publicação do novo Vocabuláraio Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (ABL).

e) quando o prefixo termina em vogal e a segunda palavra começa com S ou R, não há hífen e a consoante é duplicada.
ANTES: anti-religioso, anti-semita, contra-regra, contra-senha, ultra-som. AGORA: antirreligioso, antissemita, contrarregra, contrassenha, ultrassom.


UM CÃO AO TELEFONE

No próximo dia 06 de abril o escritor Théo Drumond estará lançando seu novo livro, na sala ESPÍRITO DAS ARTES, um espaço cultural localizado na Cobal de Botafogo, na Rua Voluntários da Pátria, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro.
"UM CÃO AO TELEFONE e outras crônicas", é um livro que contém 17 histórias, muitas delas vividas pelo autor, e que ficaram guardadas na memória por muitos anos, até voltarem à lembrança como que para serem recordadas e escritas. Com certeza, alguns leitores terão a oportunidade de fazer renascerem episódios de suas vidas, que também ficaram armazenados em seus corações, lendo "UM CÃO AO TELEFONE e outras crônicas".
"A Lucidez do Joãozinho", "História de Pescadores", "Os Excluídos", "A Humanidade e seus Contrastes", "Um Carnaval Inesquecível", "Procurando Empregada"- são algumas das crônicas que compõem o livro.
O autor lembra “que toda a importância arrecadada será enviada para o Pavilhão Infantil do INCA, que já recebeu R$ 1.000 reais pela venda antecipada de 50 exemplares.”
Para os que desejarem adquirir a obra é só visitar o outlook do autor ou efetuar contato através do e-mail theodrummond@uol.com.br.
Theo espera “que os que morem no Rio, e queiram ajudar a quem precisa, possam comparecer ao lançamento - o que desde já agradeço, em meu nome e no nome do Instituto Nacional do Câncer, do Rio de Janeiro”.

segunda-feira, 14 de março de 2011

TODO DIA É DO POETA E DA POESIA

Hoje é dia do poeta. Um dia como outro qualquer, porque na minha opinião “o dia” em que se comemora alguma profissão, alguma classe, alguma área do conhecimento ou das relações humanas e sociais é uma comemoração pró-forma. Todos os dias são dias de todos. Ao fazermos as coisas que nos cabem de maneira correta, com esmero, com profissionalismo, com amor, sem vaidades, sem mentiras, sem querer levar vantagens sobre o próximo, nosso dia-a-dia torna-se o nosso dia, sejamos médicos, lixeiros, pais, engenheiros, professores, bibliotecários, administradores, advogados, jornalistas, políticos, mães, filhos, donas de casa, mulheres, homens, gays, astronautas, pescadores, coveiros, etc., etc., etc.
E por pensar assim, aí vão mais alguns fragmentos e outros poemas, porque todos os dias devem ser dias de poesia:

I- COPACABANA (Leatrice Moellmann) *

Durante décadas, Copacabana,
Sorvi o clima que de ti emana.
São tantas as lembranças, são pedaços
De vida, alegrias e cansaços.

Anos dourados, mas labuta insana
Foi minha vida em Copacabana.
Na praia a areia, o mar, grandes espaços,
Em casa minha filha nos meus braços.

Topar nas ruas com celebridades,
Os camelôs, as feiras... que saudades!
Olhar vitrinas sem poder comprar.

Festejar futebol nos campeonatos,
Viver em paz, gozar tempos pacatos...
Meu coração não pode te olvidar.

II- O CLAUSTRO INTERIOR (Júlio de Queiroz) *

Então, é esta a tarefa de toda a vida:
Fazer sem o querer; matar o desejo.
Amar, pelo amor, até mesmo o mais vil.
Beijar a ferida mortal mais abjeta no transbordamento
do amar.
Buscar sem buscar; amar a caminhada;
Transformar pedras ossudas em pétalas macias
Por nenhum outro motivo a não ser compartilhar o amor
..........................................................................................

III- EMIGRADO ( Emanuel Medeiros Vieira) *

Emigrados:
seremos sempre,
emigrados.

Em busca de um outro mar,
da última ilha,
seguindo os pássaros,
atrás do último pássaro.
De um mar a outro,
de uma ilha outra ilha,
e, então, dormiremos,
uma noite sucedendo-se outra.


IV- MISTICISMO NO MORRO (Alzemiro Lídio Vieira) **

Ele vai subindo o morro,
vai levando seu gingado,
na insistência de viver.
Na distância o cintilante
numa visão multicor.
É malandro, é amante,
sabe muito de amor.

V- DE MINHAS BRUXAS (Artêmio Zanon) **

A bruxa em sua vassoura mágica vivia
No meu mundo infanteiro em avoentos ares:
- À noite – era eu medroso! -, enorme parecia,
Tão enorme que já me punha em vãos cismares.

Quando o vento das frôndeas se debatia
Acreditava eu fosse a bruxa em seus penares;
Ficava, então, ansiando pela luz do dia
A falta de candeias, estrelas, luares...

Às vezes o latir de um pervagante cão,
Mais me deixando aflito no cenário estranho
Fazia-me recitar inocente oração.

Agora que confesso esses fatos de antanho
Sinto uma força que me toma o coração
E na poesia, creio, plenitude ganho.



VI- DOENÇA E CURA (Péricles Prade) ***

O livro de poemas
na mão esquerda, o de contos
na mão direita, e sobre a cama
solteira, o romance,
aquele de 500 páginas,
na cabeceira transformado
em mágica montanha.

Eis a doença
e sua cura, a mente prisioneira
na estante que flutua.


VII- POEMA IMPOTENTE (Pinheiro Neto) ****

Por que o verso
tão fraco?

Por que o verbo
tão covarde?

Meu povo chora
o choro do desalento;
meus velhos choram
pelos seus moços
meus moços choram
pelos meus velhos.

Por que a impotência
do poema?

(* - Revista DA Academia Catarinense de Letras, nº. 23; ** Antologia Literária de “O Trinta Réis”, da Academia São José de Letras, vol 1; *** Sob a faca giratória, 2010, Papa Terra editora; **** A rosa do verso, 1988, Cepec editora)