segunda-feira, 19 de outubro de 2009

CONFRARIA DA LEITURA-pn
Pinheiro Neto (poetapinheironeto@gmail.com)



A PALAVRA MÍNIMA – Este é o novo livro de Raul Caldas Filho, editado pela Insular, onde o autor apresenta “toda a sua arte de escrever num formato capaz de aliciar, mas abrindo ao leitor saídas em todas as páginas”.
Lançado no dia 17 de setembro passado, é um livro que o leitor escolhe por onde começar. Não há necessidade de seguir uma ordem, embora os textos, em sua maioria curtíssimos, estejam numerados de 1 a 300, com algumas subdivisões.
Perfeito para quem não tem muito tempo mas quer manter a mente ligada em algo proveitoso como, neste caso, a produção literária de Raul Caldas Filho, um dos nossos melhores escritores. Transcrevo da página 103:
“279. Conselhos (in)úteis
Nunca crie expectativas para uma segunda-feira.
Nunca troque um bom momento no dia de hoje por uma incerta possibilidade amanhã.”

MIGUEL RUSSOWSKY – O mundo literário perdeu no último dia 4, aos 86 anos, um dos grandes escritores de nosso estado. Nascido em Santa Maria, no Rio Grande do sul , mas residindo, praticando medicina e escrevendo poemas há mais de 50 anos em Joaçaba, Russowsky, deixa saudades.
O que fazer? Olhar para o céu. Quando morre um poeta, com certeza nasce uma estrela. O céu está mais bonito porque o poeta Miguel Russowsky agora o enfeita.

GUATÁ –Foi no dia 15 último, lá na Livros & Livros da Jerônimo Coelho, a partir das 19 horas o lançamento de mais um livro do meu confrade Flávio José Cardozo. Uma festa bonita de dar inveja à Zélica, aos outros e até ao Frei Cajado.
Trata-se de um livro belíssimo (em formato de álbum) que reúne vinte crônicas e dois contos ambientados no pé da Serra do Rio do Rastro, onde ele nasceu e passou a infância - Guatá, Lauro Müller, Orleans, o vale do rio Tubarão... Cada texto traz um desenho do nosso conhecido artista plástico Tércio da Gama.
A edição é da Editora Unisul.

TÉDIO – A seguir, um mini texto de Mickin. Quem é ele? Um amigo que trabalha em Floripa, ultimamente no Empório Mineiro, na Lagoa da Conceição. Um garçom poeta ou um poeta garçom?:

“E as horas arrastam-se lentamente diante de meus olhos. Já não me é mais possível esperar, meu corpo suplica-me uma dose de qualquer entorpecente. Tento manter-me, mas a insuportável carência do corpo guia-me para o habitual cotidiano.
Desejo, ironicamente, que este dia termine, para que eu possa acordar noutro lugar, com essa sensação já familiar de deslocamento. Porém tão fascinante!
Mas, passado todo esse alvoroço, o resultado é sempre o mesmo: latente necessidade de exibição!
É divertido!
Já não lamento mais minha condição “humana”… agora o tempo parece mover-se mais rápido.
De onde exatamente vem toda necessidade?” (29/09/2009)

CONVERSANDO COM HOYEDO – No dia 07 passado, na sede da Academia Catarinense de Letras, o escritor catarinense Hoyedo de Gouvêa Lins comemorou seus 80 anos de idade com um belíssimo sarau que culminou com o coquetel de lançamento de seu livro de memórias Conversando comigo.
Ao piano, duas netas de Hoyedo e Vadeco, amigo da família Lins, prestaram homenagem ao aniversariante com canções que emocianaram os presentes. O confrade José Curi por sua vez mostrou toda a sua versatilidade enquanto amante da música clássica e enquanto um virtuose do piano. Leitura de um poema efetuada pelo acadêmico Celestino Sachet e uma apresentação musical também abrilhantaram a noite.
Destaque para a esposa do Hoyedo, professora Zenilda Nunes Lins, da Academia de Letras de Biguaçu que prefacia a obra lançada e que foi a responsável, juntamente com filhos e netos do casal, pela organização e coordenação do sarau.
Do preâmbulo, reproduzo o fragmento da contracapa: “Lidar com a memória significa recolher lembranças. Como quer que se apresentem, elas costumam surgir em razão do calendário de vida de quem detém o acervo de recordações. Quanto mais velho em idade, a partir de quando o silêncio das horas da velhice inicia sua aproximação, mais a pessoa se apega às próprias recordações.”

PONTO DO POETA

Nasceste de uma roseira,
Oh linda rosa que vens de um botão!
Floriste em pétalas cheirosas,
Morreste em pleno verão.

Quem pela vida passa
Sem aproveitar o tempo
Fica levitando no ar
Ao sussurrar do vento.

(Poemas de Francisco Pinheiro, meu pai, que dia 18 deste mês completou 90 anos. Seu Chico é um poeta, um músico, um boêmio, um homem da noite e, sobretudo, um artista, de quem, certamente, herdei o amor pela Ilha, pela boêmia, pela noite e, sobretudo, pela arte. Escreveu inúmeras quadrinhas e poemas.)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

SOS BARCA DOS LIVROS!
Tânia Piacentini
“Um país se constrói com homens e livros”. Lobato, em tempos politicamente corretos, acrescentaria, talvez, “mulheres” – homens, mulheres e livros. Mas certamente manteria o cerne de sua afirmação e crença: livros são essenciais para a formação e desenvolvimento das pessoas. Nisso também acreditamos, nós, os membros da Sociedade Amantes da Leitura, a organização não governamental, sem fins econômicos e de utilidade pública municipal e estadual, responsável pela criação e funcionamento da biblioteca comunitária Barca dos Livros, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis.
Inaugurada em 02 de fevereiro de 2007, a Biblioteca possui hoje um acervo de mais de 8.000 livros já catalogados e 3.000 em fase de catalogação, e desenvolve um programa mensal de incentivo à leitura, recebendo escolares e comunidade em geral, diária e gratuitamente. Desde a abertura temos mantido uma média de 1.800 visitantes/mês, provenientes não só da Lagoa da Conceição e região leste, mas de todo o município, da Grande Florianópolis e também do interior do Estado. Temos 2.300 leitores cadastrados a partir de outubro de 2007, 18.261 livros foram emprestados desde então, e 21.805 pessoas estiveram na biblioteca em 2008, participando de pelo menos uma das muitas atividades que oferecemos de terça-feira a domingo. Agora em 2009, já registramos a presença de 13.605 pessoas, até agosto.
Nesses dois anos e meio de atividade, nossa biblioteca é referência na área do livro e da leitura, e presença constante na mídia local e nacional, por ser um projeto que já nasceu com a qualidade, o trabalho e o reconhecimento de especialistas. A Barca dos Livros recebeu em 2006 o 2° lugar no 11° Concurso FNLIJ/Petrobrás – Melhores Programas de Incentivo à Leitura junto a Crianças e Jovens de todo o Brasil e em 2007 foi finalista do Prêmio Viva Leitura (MinC/MEC e OEIAE e Grupo Santillana). Em 2008 foi reconhecida como “ação destaque” no II Fórum do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL/MinC) e I Encontro Internacional de Bibliotecas Comunitárias em São Paulo. Em 2009, recebeu o Prêmio Franklin Cascaes de Cultura, na área de Literatura, outorgado pela Fundação Municipal de Cultura Franklin Cascaes, de Florianópolis e já fomos oficialmente informados pelo Conselho Estadual de Cultura que receberemos a Medalha de Mérito Cultural Cruz e Souza, em solenidade que ocorrerá em novembro. Com exceção do primeiro, com o qual recebemos a quantia de R$ 7.000,00, os demais foram e são prêmios de estima, simbolicamente importantes pelo incentivo e destaque que concedem.
Diante desses números e desses prêmios, da estrutura física do espaço com ambientes confortáveis e belos, diante da qualidade do acervo e das atividades de incentivo à leitura, e da inusitada proposta de uma biblioteca comunitária aberta a todos, é necessário explicar às pessoas as condições financeiras da Barca dos Livros: é grande a surpresa e o espanto quando tomam conhecimento de que não somos uma entidade governamental e que batalhamos mês a mês para mantermos a pequena equipe trabalhando, o aluguel do espaço e as demais contas pagas. A realidade de um projeto cultural permanente e contínuo como o nosso é difícil, porque as leis de incentivo à cultura, vigentes em nível federal, estadual e municipal, são voltadas para a realização de eventos e atividades com prazos e períodos delimitados, com começo, meio e fim pré-determinados. A adequação aos editais e programas culturais de empresas privadas ou de economias mistas também não é fácil, porque a maioria segue os modelos estatais ou privilegia programas de assistência em áreas de risco social.
Os recursos que recebemos de maio de 2007 a dezembro de 2008 foram provenientes da renúncia fiscal do governo federal através da Lei Federal de Incentivo à Cultura/Minc (Lei Rouanet – Artigo 18): os incentivos que o Projeto Barca dos Livros recebeu da Eletrobrás, Eletrosul, BADESC, BRDE e Tractebel totalizaram 70% da captação autorizada, e as empresas tiveram desconto integral dos valores em seus impostos de renda. Somos muito gratos a elas, o Projeto continuou graças a esses parceiros, a quem continuamos solicitando apoio para a última etapa prevista: a compra e adequação de um barco, o eixo itinerante da nossa biblioteca.
Em 2009, parecia-nos que, finalmente, o poder público estadual e o municipal começavam a reconhecer a importância da Barca dos Livros: o projeto apresentado em 2008 ao FUNCULTURAL foi aprovado com corte de verba, e os R$ 100.000,00 recebidos em março deste ano foram suficientes para a manutenção do projeto por 6 meses. Novos projetos, audiência pública na Câmara dos Vereadores, promessas, explicações, pedidos parcialmente atendidos através de subvenções temporárias: em março, R$ 10.000,00 do Gabinete do Deputado Edison Andrino; no mês de agosto, da Fundação Municipal de Cultura Franklin Cascaes, R$ 20.000,00, suficientes para um mês e meio de manutenção. Fomos contemplados com a subvenção de dois vereadores no orçamento municipal de 2009, nos valores de R$ 30.000,00 (João Batista Nunes) e R$ 10.000,00 (Juarez Silveira), e soubemos disso graças ao empenho da equipe do gabinete do Vereador Renato Geske. O Plano de Aplicação para essas subvenções foi encaminhado à Prefeitura Municipal e aguarda a liberação da verba pelo Prefeito Dario Berger. Aguardamos também a aprovação de um convênio com a Secretaria Municipal de Educação para o pagamento da locação do espaço onde está instalada a biblioteca. Também estamos esperando a resposta ao Projeto do FUNCULTURAL 2009, já aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura, e que se encontra no Comitê Gestor da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte. (Mas as contas não aguardam, têm que ser pagas todos os meses...)
Nesse meio tempo, participamos de 8 editais, enviamos 12 correspondências para empresas públicas e privadas, fomos contemplados no Edital do Ponto de Cultura em contrato a ser ainda assinado, mas, como manda o regulamento, o financiamento é para novas atividades, e a verba, claro, não pode ser investida nas atividades permanentes e manutenção da biblioteca. Nossa campanha de novos sócios e apoiadores, os proeiros, é contínua, assim como o trabalho de alguns voluntários, sem os quais seria impossível a realização de tantas atividades de incentivo à leitura. Mas um espaço com a qualidade da Barca dos Livros, referência nacional como biblioteca comunitária, não se mantém com trabalho voluntário, não se mantém sem um suporte financeiro estável e permanente.
Temos um trabalho contínuo, com profissionais qualificados, com planejamento e planos de trabalho e é por isso que chegamos até aqui. Porque acreditamos ser a leitura um dos mais importantes fatores para o desenvolvimento comunitário e individual, porque a formação e a experiência pessoal e profissional de muitos de nós já nos afiançou que os livros em geral, e a literatura em particular, são decisivos na construção da subjetividade, no desenvolvimento de uma identidade coletiva, no acesso ao conhecimento, no enriquecimento do imaginário e na percepção da alteridade. Por isso continuamos a batalhar pela manutenção do projeto Barca dos Livros.
Ao facilitar o acesso de crianças, jovens e adultos ao livro e à leitura, nosso Projeto atende às dimensões educativa, interativa e cidadã, na medida em que contribui para ampliar o conhecimento e a visão de mundo, possibilitando a formação de pessoas mais criativas e críticas, bem informadas cultural e politicamente, com pensamento autônomo, capazes de se comunicar e de interagir inclusivamente na sociedade. Não inventamos a roda, temos muitos exemplos, como o da experiência de Bogotá, a BIBLIO-RED, uma rede de bibliotecas - equipamentos culturais adotados pelo Estado com a participação da iniciativa privada e sociedade civil. Cada bairro com sua biblioteca comunitária.
Estamos plantando essa semente aqui em Florianópolis e o que esperamos é ajuda para continuar trabalhando. Com parcerias reais, que se efetivem rapidamente, para não termos que fechar as portas.